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Carreira30 dezembro 2025

É possível ser médico de família e ter boa remuneração com consultório particular?

A especialidade, antes associada ao SUS, cresce na rede privada, unindo cuidado integral e sustentabilidade financeira
Por Redação Afya

A medicina de família e comunidade, tradicionalmente associada ao SUS e à atenção básica, começa a conquistar espaço também na rede privada. Com a valorização do cuidado integral e a busca por vínculos duradouros entre médico e paciente, a especialidade mostra que é possível unir propósito e sustentabilidade financeira.

Segundo o médico de família Dr. Renato Bergallo, essa transição é natural e promissora. “A medicina de família é voltada para a atenção primária à saúde. Embora, no Brasil, ainda seja muito associada ao SUS, isso não significa que não tenha lugar no setor privado”, explica. Ele lembra que, em países com sistemas predominantemente privados, como os Estados Unidos, a atenção primária é consolidada e o médico de família ocupa papel central na coordenação do cuidado.

Saiba mais: Residência em Medicina de Família e Comunidade: Guia Completo

O crescimento desse modelo no Brasil acompanha duas grandes tendências: o envelhecimento populacional e o aumento das doenças crônicas. “São situações em que o olhar integral, preventivo e longitudinal do médico de família faz toda a diferença. Por isso, tanto os planos de saúde quanto os consultórios particulares têm percebido o valor desse tipo de atendimento”, afirma Bergallo.

O desafio cultural

Apesar das oportunidades, abrir um consultório particular exige enfrentar barreiras culturais. “O brasileiro ainda não tem o hábito de procurar um médico generalista. Quando sente palpitação, vai direto ao cardiologista; quando tem dor de cabeça, busca o neurologista. Falta a compreensão de que o médico de família é o primeiro contato, capaz de enxergar o todo e encaminhar, quando necessário, para outras especialidades”, explica Bergallo.

Essa mudança de mentalidade exige tempo, mas também representa um diferencial. “Educar o paciente e construir vínculos sólidos é desafiador, mas traz grande satisfação. E fidelizar uma base de pacientes garante a sustentabilidade do consultório”, acrescenta.

O vínculo como diferencial

Na prática, o grande trunfo do médico de família é o relacionamento. “A consulta é mais longa, mais humana e mais técnica ao mesmo tempo. A escuta ativa e o acompanhamento contínuo fazem parte da formação”, diz Bergallo. Consultas personalizadas fortalecem o vínculo, aumentando a satisfação do paciente e, consequentemente, a sustentabilidade financeira do consultório.

Assista: Quem é o médico de família e comunidade?

Modelos de gestão e remuneração

Administrar um consultório próprio exige não apenas conhecimento clínico, mas visão empreendedora. “O modelo tradicional, baseado apenas em consultas pontuais, é limitado. O paciente procura o médico só quando está doente. Mostrar que o acompanhamento contínuo é igualmente valioso é essencial”, explica Bergallo.

O especialista recomenda explorar formatos alternativos, como planos de acompanhamento, mensalidades ou pacotes personalizados, especialmente quando se atua em equipe ou em clínicas compartilhadas. “Esses modelos criam previsibilidade financeira e permitem um atendimento de maior qualidade. É um ganha-ganha para o profissional e para o paciente”.

Ainda assim, muitos médicos sentem desconforto em cobrar por um serviço historicamente público. “Cobrar de forma justa é também valorizar o próprio trabalho e garantir a qualidade do cuidado”, pondera Bergallo.

A complexidade da prática

Outro mito é que o médico de família lida apenas com casos simples. “A complexidade está nas pessoas, não nas doenças. Um sintoma aparentemente leve pode esconder questões emocionais, sociais ou comportamentais profundas. O médico de família precisa compreender essas dimensões e integrá-las ao cuidado. Isso exige tempo, preparo e sensibilidade”, afirma o especialista.

Essa abordagem integral atrai pacientes que buscam acompanhamento contínuo, centrado em prevenção e qualidade de vida. “A nova geração valoriza tempo e bem-estar, e a medicina de família responde a essa demanda com excelência”.

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Perspectivas para novos profissionais

Para jovens médicos preocupados com remuneração, Bergallo é enfático: “É uma especialidade promissora, com remuneração competitiva, especialmente nos grandes centros. Além dos consultórios, há oportunidades em planos de saúde, gestão, ensino e telemedicina”.

Ele ressalta ainda que a rotina tende a ser mais equilibrada, sem plantões noturnos ou finais de semana. “A pergunta não é quanto você pretende lucrar, mas qual medicina deseja exercer. Medicina de família e comunidade é, antes de tudo, uma escolha de estilo de vida”, conclui.

O crescimento da medicina de família na rede privada reflete uma mudança cultural: “Estamos caminhando para um modelo de saúde mais humano, sustentável e conectado com as reais necessidades das pessoas. E o médico de família tem papel central nesse processo. Cuidar bem das pessoas continua sendo também um bom negócio”, finaliza Bergallo.

 

Autoria

Foto de Redação Afya

Redação Afya

Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.

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