Logotipo Afya
Anúncio
Carreira15 outubro 2025

Dia do Neurologista: o cérebro como bússola

Entre mistérios do cérebro e histórias de vida, neurologistas equilibram ciência, escuta e presença para transformar o cuidado em conexão humana
Por Redação Afya

No Dia do Neurologista, celebrado em 15 de outubro, mais do que exaltar uma das especialidades mais complexas da medicina, é preciso reconhecer o papel sensível e transformador desses profissionais. Em um campo onde muitas doenças ainda desafiam a cura ou sequer foram desvendadas, o neurologista é guia e companhia: traduz a ciência com escuta, acolhe com precisão e oferece dignidade em cada fase da jornada do paciente.

Conversamos com a médica neurologista Danielle Calil, que faz parte dessa geração de profissionais que acreditam que neurologia vai muito além do diagnóstico. Ela diz que, desde os primeiros anos de formação, já se sentia atraída pelas neurociências. Atuou como monitora de neuroanatomia ainda no ciclo básico e seguiu como monitora em neurologia clínica, no internato.

Sobre sua decisão de seguir pela especialidade, não houve um único ‘estalo’, ela diz, “mas sim uma decisão construída ao longo da formação, consolidada através do encanto pelo raciocínio clínico que a neurologia exige”.

É essa lógica clínica, aliada à observação atenta e ao exame físico detalhado, que a fascina diariamente. Para ela, o maior encantamento da área é justamente o quanto pode ser revelado com poucos instrumentos.

“O exame neurológico é essencialmente clínico, detalhado, e frequentemente mais informativo que muitos exames complementares. Alguns sinais semiológicos são tão específicos que me fascinam por sua precisão. Existe algo de quase ‘mágico’ nisso, mesmo quando sabemos que há um substrato anatômico-fisiológico bem definido”, diz.

Entre limitações e acolhimento

Apesar dos avanços da neurociência, a prática neurológica no Brasil ainda enfrenta obstáculos significativos. A neurologista destaca a escassez de especialistas em regiões mais afastadas, as limitações no acesso a exames e terapias de ponta e o frequente subdiagnóstico de diversas condições neurológicas.

Leia também: Metade dos casos de demência em idosos hospitalizados passa despercebida

Entre os desafios mais sensíveis, ela chama atenção para o estigma que ainda recai sobre doenças como epilepsia e demência — um fator que compromete diretamente a oferta de um cuidado integral e humanizado. Esse estigma está enraizado na falta de compreensão pública sobre o funcionamento do cérebro, em uma visão social capacitista que associa essas doenças à perda irreversível de autonomia, no medo da cronicidade e na invisibilidade com que essas condições são tratadas no debate público.

“Nosso trabalho vai além do diagnóstico: é também criar vínculo, ouvir, acolher e caminhar junto com o paciente e sua família”, resume. Em doenças neurodegenerativas ou crônicas, o neurologista atua como referência, responsável por orientar decisões terapêuticas e prevenir complicações, mas também por dar sentido à trajetória, respeitando o tempo e a dignidade de cada pessoa.

Saiba mais: AAN 2025: Confira os destaques do American Academy of Neurology

Um dos casos que mais marcaram a médica foi o de um idoso com doença neurodegenerativa grave, com alterações comportamentais importantes. O impacto na autonomia do paciente e na rotina da família foi profundo, incluindo desafios emocionais e financeiros. “Essa situação me lembra diariamente da importância de um olhar empático, comunicação clara e vínculo forte. Neurologia não é apenas técnica e diagnóstico, mas também cuidado, presença e respeito à dignidade do paciente em todas as fases da doença”, emociona-se.

O futuro da neurologia está em movimento

Dra. Danielle vê com otimismo o futuro da especialidade. A expectativa é que os avanços tecnológicos permitam diagnósticos mais precoces e terapias cada vez mais personalizadas. Tecnologias como a inteligência artificial já começam a apoiar o rastreio e o monitoramento de pacientes com condições neurológicas. “Esses avanços têm potencial para ampliar o acesso ao cuidado neurológico, sobretudo em regiões onde ainda é difícil chegar até um especialista”, avalia.

Leia ainda: Inteligência artificial: Inclusão e inovação na saúde do futuro

Mas mesmo com toda a tecnologia à disposição, ela lembra que a neurologia exige um tipo de presença que não pode ser automatizada: a escuta e o raciocínio clínico. “Somos parte de uma especialidade que reafirma o princípio de que ‘a clínica é soberana’, ou seja, exige anamnese minuciosa, exame neurológico rigoroso e raciocínio clínico sólido”, reitera.

Para quem está começando

Por isso, no Dia do Neurologista, a médica deixa um recado para quem inicia essa trajetória: a neurologia é uma área de limites e incertezas, mas também de impacto profundo na vida dos pacientes.

É uma especialidade que convida à escuta, ao raciocínio e à compaixão. “Apesar dos limites impostos por doenças sem cura, cabe a nós exercer a Medicina em sua essência: acolher, educar, prevenir e oferecer ao paciente e sua família a possibilidade de viver com mais dignidade e qualidade de vida”, finaliza.

 

Autoria

Foto de Redação Afya

Redação Afya

Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Carreira