Logotipo Afya
Anúncio
Carreira8 março 2025

Desigualdade no acesso da mulher à medicina: uma luta de gênero

“No meio cirúrgico já passei por situações de desconforto, de assédio moral e situações constrangedoras", relata Dra. Vanessa Nascimento
Por Redação Afya

Em homenagem ao Dia da Mulher, preparamos uma matéria especial com a participação da editora-médica Vanessa Nascimento, cirurgiã pediátrica, trazendo à tona aspectos históricos da medicina, desigualdade financeira e desafios na formação em cirurgia.

 

História da medicina

A história da medicina tem raízes na Antiguidade. Na Grécia, Hipócrates, considerado o “pai da medicina”, estabeleceu as bases da prática médica. Contudo, ao longo dos séculos, a medicina foi dominada por figuras masculinas, com os homens assumindo a liderança nas universidades e nos centros de pesquisa.

Durante a Idade Média e até o início da Idade Moderna, as mulheres, mesmo com vasto conhecimento em práticas de cura, foram amplamente excluídas das instituições acadêmicas e do exercício oficial da medicina.

Apesar do avanço das mulheres no campo da medicina a partir do século XIX, a presença feminina continuou a ser minoritária, especialmente nas áreas mais prestigiadas e remuneradas, como cirurgia.

No século XX e início do século XXI, embora as mulheres tenham conquistado um espaço significativo, a medicina ainda carrega uma estrutura predominantemente masculina, principalmente nos cargos de liderança e nas especialidades de alta complexidade.

Como observa Dra. Vanessa, “Ainda é uma área muito machista, pelo machismo estrutural, então a medicina não foge a isso. Na faculdade, principalmente na cirurgia, a quantidade de professores mais velhos homens é muito grande; as personalidade dos quadros, os homenageados e nome dos anfiteatros também se referem aos homens.”

 

Demografia médica

Segundo a Demografia Médica 2024, a Cirurgia Geral figura uma das top 3 residências mais requisitadas.

Os homens são maioria em 36 das 55 especialidades médicas e as mulheres predominam em 19 delas. As especialidades com mais integrantes mulheres são Dermatologia, Pediatria, Alergia e Imunologia, Endocrinologia e Metabologia e Genética Médica. Já as áreas mais dominadas por homens são Urologia, Ortopedia e Traumatologia, Neurocirurgia, Cirurgia Cardiovascular e Cirurgia do Aparelho Digestivo, o que não é surpresa para ninguém.

Em nove das 55 especialidades, os homens são mais de 80%. As mulheres são minoria em todas as especialidades cirúrgicas, caso da Cirurgia Geral, em que representam menos de 25% do total de especialistas.

A Dra. Vanessa confirma esses dados, afirmando: “As mulheres cirurgiãs mais antigas foram uma resistência na especialidade. Por mais que hoje em dia a gente tenha entrada de mulheres com mais frequência em especialidades consideradas masculinas, ainda tem o preconceito diário, seja sendo menosprezadas, ouvindo piadas e tendo a sua capacidade técnica questionada diante de um homem.”

 

Desigualdade na remuneração

Segundo dados do Research Center, em 2024, sobre o panorama financeiro do médico, é possível observar um pouco a desigualdade financeira entre homens e mulheres. Quando questionados sobre a satisfação com sua remuneração ao longo dos anos, 73,5% das médicas relataram insatisfação, contra 70,2% dos homens, o que corrobora o fato de as mulheres receberem, em média, menos do que os homens por hora de trabalho.

Além disso, com a pesquisa feita, constatou-se que as mulheres ganham 22,6% a menos que os homens, refletindo uma disparidade salarial que persiste em diversos recortes, como idade, especialização e carga horária de trabalho.

Relato pessoal e apoio entre mulheres

Segundo pesquisa realizada pela médica Margarida Barreto, da PUC-SP, as mulheres sofrem mais assédio moral que os homens. Cerca de 65 % das entrevistadas relataram atos repetidos de violência psicológica, contra 29% dos entrevistados.

Dra. Vanessa compartilha seu relato: “No meio cirúrgico já passei por situações de desconforto, de assédio moral e situações constrangedoras com o superior hierárquico, que acha que por você ser mais nova, é obrigada a ouvir e aceitar tudo”

Em meio a esses desafios, hoje a Dra. Vanessa integra uma clínica com equipe 100% feminina e fala sobre a necessidade do apoio entre as profissionais como fundamental para criar mais equidade no ambiente da saúde.

Ações especiais promovidas pela Afya

Data e horário: 10/03/2025, às 20h

Disponível até dia 15/3.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Carreira