A pesquisa realizada pelo Research Center da Afya, entre novembro de 2024 e janeiro de 2025, com 2.637 médicos de diversas regiões do Brasil revelou dados alarmantes sobre a desigualdade salarial entre homens e mulheres na classe médica.
O estudo aponta que, em média, as mulheres ganham 22,6% a menos que os homens, refletindo uma disparidade salarial que persiste em diversos recortes, como idade, especialização e carga horária de trabalho.
Carga horária de trabalho
Em 2024, a média da renda líquida mensal entre os médicos foi de R$ 19.907. No entanto, ao analisar os dados por gênero, observou-se que os homens recebiam R$ 22.669,86, enquanto as mulheres ficavam com R$ 17.535,32, uma diferença entre os gêneros de R$ 5.135, o que significa 22,6% a menos.
Embora os médicos trabalhem, em média, 54,3 horas semanais, contra 47,4 horas das médicas, essa diferença de carga horária (6,9 horas semanais ou 12,6%) não explica a disparidade na renda líquida. Enquanto o valor da hora semanal de trabalho entre os médicos é R$ 417, para as médicas ele é de R$ 370, diferença de R$ 48 na hora semanal de trabalho, equivalente a 11,4%.
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Modelo familiar e status civil
No que diz respeito ao modelo familiar, médicos com filhos trabalham, em média, 55,2 horas por semana, enquanto médicas com filhos dedicam 46,7 horas semanais ao trabalho. Essa diferença se acentua ao analisarmos a relação entre estado civil e carga horária.
Entre os casados ou em união estável, os homens trabalham 55,4 horas semanais, enquanto as mulheres ficam com 45,9 horas. Esses dados sugerem que as médicas enfrentam uma sobrecarga de responsabilidades domésticas e familiares, o que pode afetar suas jornadas de trabalho.
Já entre as médicas divorciadas ou separadas com filhos, a jornada de trabalho remunerado sobe para 50,7 horas por semana, o que pode refletir a necessidade de equilibrar a carreira com as responsabilidades familiares.
Faixa etária e região do Brasil
A pesquisa revelou que, em todas as faixas etárias, a renda masculina é superior à feminina, a menor diferença ocorre entre 46 e 55 anos (8,1%), sugerindo um maior equilíbrio salarial nessa faixa.
Quanto às regiões do Brasil, a menor diferença entre os gêneros foi observada no Sul, com uma disparidade de 15,4%. Nas demais regiões, essa diferença variou entre 22% e 24%, com os homens recebendo salários significativamente mais altos.
Grau de especialização
A renda líquida mensal dos médicos é maior independentemente do grau de formação. A diferença fica maior entre os especialistas, com uma diferença de 22,4%. Essa disparidade salarial persistente sugere que, mesmo com qualificações iguais ou até superiores, as mulheres, continuam enfrentando barreiras que limitam sua ascensão profissional e financeira.
Conclusão
A presente pesquisa mostra uma diferença significativa na renda líquida mensal entre homens e mulheres, com os médicos recebendo, em média, 22,6% a mais, evidenciando o impacto causado pelas desigualdades estruturais na sociedade, na posição da mulher no mercado de trabalho.
Essa diferença está presente em todos os recortes analisados, como idade, região e formação. Além disso, a carga horária de trabalho remunerado dos homens é consistentemente superior, reforçando o impacto da maternidade e a sobrecarga de responsabilidades domésticas e familiares como fatores influenciadores.
Dessa forma, torna-se cada vez mais urgente a implementação de políticas públicas e iniciativas empresariais que promovam a igualdade de oportunidades, assegurando condições mais justas para que as mulheres possam progredir em suas carreiras médicas de maneira equitativa.
Perfil demográfico
A pesquisa apresentou um perfil demográfico balanceado entre os gêneros, com 55,7% dos respondentes na faixa etária de 26 a 35 anos, seguida pelo grupo de 36 a 45 anos (22,6%). Em relação ao estado civil, quase metade dos participantes são solteiros (47,3%), enquanto 47% são casados ou vivem em união estável.
Quanto à família, 65,7% dos médicos não possuem filhos, e entre os que possuem, a média é de dois filhos por família.
Quanto à formação, 52,5% dos médicos concluíram a graduação há até 5 anos, com uma média de 9,5 anos de formação entre os participantes. Sobre a especialização, 39,2% não possuem nenhuma especialização em andamento ou concluída, enquanto 42,2% já concluíram pelo menos uma especialização.
A maioria dos médicos atuam na região Sudeste (47,7%), seguida pelas regiões Nordeste e Sul, com 19,1% cada.
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