Desafios da atuação do médico nas emergências climáticas
As graves inundações que afligem o Rio Grande do Sul estão sendo noticiadas diariamente na imprensa, e todos nós estamos acompanhando as enormes dificuldades impostas ao sistema de saúde e ao atendimento médico da população que está sofrendo as consequências dessa catástrofe.
Nesse cenário, inúmeros desafios e dilemas se impõem aos médicos e demais profissionais de saúde, que necessitam agir de maneira ética, com o objetivo de atender apropriadamente o maior número possível de pessoas, sem que, no entanto, adoeçam ou sofram as consequências psíquicas de um trabalho tão extenuante em um ambiente inóspito.
Dilema ético e segurança dos profissionais de saúde
A primeira dificuldade que surge é a potencial incapacidade do contingente de médicos disponíveis para atender a todas as demandas de saúde, que aumentam drasticamente nesse momento. Isso inclui tanto doenças e injúrias agudas relacionadas à catástrofe em si quanto os demais agravos de saúde, sejam crônicos ou agudos, que continuam a acontecer dentro do esperado para o período e para a região.
Em situações de catástrofe, isso pode gerar um grande dilema ético, já que, frente às limitações de pessoas e de infraestrutura, o médico pode se ver em uma situação de ter que selecionar quais pacientes serão atendidos ou não. Nesses casos, a preferência é dada de acordo com a urgência do quadro e a capacidade de sobrevivência e recuperação.
Uma outra questão que é relevante no contexto das catástrofes é a segurança dos médicos e profissionais de saúde que estão prestando atendimento à população. Uma das premissas do atendimento de urgência e emergência é a garantia da segurança do ambiente para que o atendimento possa ser realizado, já que um ambiente inseguro pode levar ao aumento no número de vítimas e, consequentemente, redução no número de profissionais qualificados para a assistência.
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Estrutura hospitalar improvisada
Além disso, a própria catástrofe ambiental/climática pode levar ao dano estrutural a hospitais e unidades de atendimento em saúde. Nesses casos, os médicos e demais profissionais de saúde se veem obrigados a realizar atendimento em unidades improvisadas, que não são os ambientes nos quais estão habituados a trabalhar e que largamente não possuem todos os recursos necessários para o atendimento completo de todos os casos.
Isso pode gerar angústia nos profissionais, visto que sempre existe a necessidade de um certo período de tempo para se adaptar a uma nova realidade, mas que, nesse cenário, geralmente está disponível, devido à premente demanda por atendimentos.
As emergências climáticas levam à perda de grande quantidade de insumos e medicamentos, que não conseguem ser repostos de maneira apropriada, uma vez que as vias de acesso ao local geralmente estão muito comprometidas. Sendo assim, mesmo que os médicos e demais profissionais de saúde estejam à disposição no local e possuam treinamento técnico adequado para os atendimentos, muitas vezes ficam de mãos atadas, já que os recursos necessários podem não estar disponíveis para serem empregados.
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Conclusão
Com todas as questões levantadas, é importante que o médico que atua nessas situações de calamidade seja capaz de antever as dificuldades e tentar buscar soluções criativas para solucioná-las, sempre tomando os cuidados necessários com sua saúde e segurança, de modo a fornecer atendimentos de maneira contínua aos necessitados.
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