A edição 2025 da pesquisa Demografia Médica no Brasil dedica um olhar aprofundado aos cirurgiões, um dos pilares da atenção à urgência e à assistência operatória em nosso sistema de saúde. A análise, elaborada com a participação do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, traz à tona aspectos demográficos, estruturais e profissionais dessa categoria.
Quantos e onde estão os cirurgiões?
O Brasil conta com 42.426 cirurgiões gerais em atividade, segundo o levantamento. No entanto, a presença desses profissionais está longe de ser homogênea: enquanto o DF alcança 50,72 cirurgiões por 100 mil habitantes, estados como Pará (8,73), Maranhão (9,40) e Acre (9,52) apresentam índices extremamente baixos. Há uma concentração desproporcional das especialidades nas regiões Sul, Sudeste e capitais — inclusive com até 366% mais médicos por mil habitantes nas capitais em comparação com o restante do estado.
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Acesso à cirurgia: público versus privado
As desigualdades se estendem também ao acesso aos procedimentos cirúrgicos. O estudo compara três das operações mais frequentes — apendicectomia, colecistectomia e correções de hérnia abdominal — e revela que pacientes de planos de saúde têm taxas significativamente mais altas de intervenção do que aqueles atendidos pelo SUS.
- Apendicectomia: 100 cirurgias por 100 mil habitantes na rede privada vs. 74,45 no SUS (+34,4%). Porém, o SUS realizou 70% do total dos procedimentos em 2023.
- Colecistectomia: rede privada com 58,7% mais procedimentos (312,38 vs. 196,81 por 100 mil habitantes).
- Correções de hérnia abdominal: a maior disparidade — 86,6% mais na rede privada (401,41 vs. 215,07 por 100 mil).
Tal cenário evidencia a falta de equidade no acesso a cirurgias eletivas e urgentes, mesmo com a ampla capacidade instalada na rede privada.
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Onde atuam os cirurgiões?
Os cirurgiões estão mais presentes no setor privado: 72% atuam em ambos os setores (SUS e rede privada), 20% trabalham exclusivamente no setor privado, e apenas 8% atuam exclusivamente no SUS. Esta distribuição frágil pode comprometer especialmente a oferta cirúrgica no sistema público.
Além disso, o Ministério da Saúde avalia que essas desigualdades apontam para a necessidade clara de parcerias estratégicas entre o público e o privado, aproveitando a capacidade ociosa dos hospitais privados para reduzir filas e ampliar o acesso.
Reflexão entre os profissionais: o que o dados nos dizem?
- Disparidade regional grave — A má distribuição dos cirurgiões reforça a perpetuação das desigualdades em saúde; regiões Norte e Nordeste continuam em desvantagem, com baixa oferta de atendimento cirúrgico.
- Acesso desigual aos procedimentos — Pacientes da rede privada têm significativamente mais acesso a cirurgias, mesmo em casos de urgência, evidenciando lacunas estruturais no SUS.
- Modelo de atuação fragmentado — A sobreposição de atuação público-privada e a minoria de cirurgiões no SUS indicam desafios para fixar profissionais no setor público.
- Potencial inexplorado de colaboração — O aproveitamento da infraestrutura privada prenuncia soluções para ampliação da capacidade cirúrgica, mas exige regulamentação e coordenação eficiente para benefício coletivo.
Autoria

Redação Afya
Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.
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