“Errar é humano”, diz um ditado. Mas no caso do erro médico, isso pode trazer sérias consequências ao paciente; seja no erro de troca de medicação ou dosagem ou mesmo em casos mais graves, de erros cirúrgicos graves.
Na nossa prática, o cuidado com o paciente vai além de um diagnóstico correto e do tratamento. Precisamos garantir a segurança do paciente e a nossa própria segurança jurídica evitando erros médicos, que podem comprometer o sucesso do tratamento e abrir espaço para questões éticas e legais.
Abaixo, colocamos alguns pontos essenciais para reduzir esses riscos.
Preparação para a consulta – antes do paciente entrar
- Revisão do prontuário: Analise o histórico médico do paciente, incluindo doenças preexistentes e medicações em uso. Verifique também as orientações da consulta anterior para saber quais informações ou exames espera que o paciente traga para a consulta atual.
- Organização do ambiente: Certifique-se de que todos os materiais e equipamentos necessários para a consulta estejam disponíveis e funcionando adequadamente. Lembre-se de que cada especialidade pode demandar instrumentos específicos, e a prontidão desses itens contribui para um atendimento mais seguro e ágil.
Comunicação eficaz
- Ouvir ativamente: O paciente precisa ter um tempo para relatar suas queixas sem grandes interrupções. Escreva o que é relevante para não esquecer.
- Esclareça dúvidas: Explique cada etapa do exame e da investigação diagnóstica para que o paciente entenda exatamente o que ele precisa fazer e quais os resultados esperados.
- Reforce a importância do retorno: Instrua o paciente sobre a importância de retornar para novas consultas ou exames, especialmente em doenças crônicas. Explique que os medicamentos de uso contínuo devem ser tomados até o retorno, mesmo se aquela pressão ou diabetes se normalizar com o uso deles.
Leia mais: Como não permitir que a fake news impacte a relação com o paciente
É realmente aquele paciente? Checagem de identidade e dados
- Confirme a identidade do paciente: Verifique nome completo, data de nascimento e outras informações para garantir que o prontuário e os exames sejam do paciente correto. Especialmente se o paciente tiver um nome comum e mais sujeito à homônimos. Ex: Maria Aparecida de Souza; José da Silva.
- Checar alergias e histórico de reações adversas: Antes de prescrever qualquer medicação ou realizar procedimentos, confirme alergias e reações anteriores. Tenha o costume de falar em voz alta o princípio ativo dos medicamentos que está passando ao paciente; muito se lembram de ter alergias específicas apenas após a citação do nome.
Documentação completa e precisa
- Registre tudo: Documente com clareza o exame físico, as suspeitas diagnósticas, a prescrição e as orientações fornecidas.
- Evite abreviações confusas: Use termos completos e claros para reduzir o risco de mal-entendidos em registros e receitas. Algumas abreviações são consagradas na medicina, outras, porém, podem gerar confusão de termos e doenças e erros em consultas posteriores.
Revisão das prescrições
- Cheque interações medicamentosas: Algumas interações ruins são clássicas; mas, na dúvida, revise a lista de medicamentos atuais do paciente ainda mais se ele relatar algum efeito colateral após introdução de medicamento.
- Especificar posologia detalhada: Indique claramente a dosagem, a frequência e o modo de uso de cada medicação. Deixe claro no prontuário, mas seja claro ao conversar com ele, sinalizando as mudanças no receituário de uso crônico.
Orientação ao paciente
- Forneça orientações claras e por escrito: Oriente o paciente sobre o uso dos medicamentos, cuidados em casa e sintomas que necessitam de nova consulta. Se necessário, forneça uma explicação para que ele deixe em local acessível para ele e familiares se atentarem. É comum que muito estejam ansiosos e nervosos na consulta e não consigam absorver muitas informações de memória apenas.
- Confirmar entendimento: Pergunte ao paciente se há dúvidas e confirme que ele entendeu as orientações.
Evitar pressa e reduzir distrações
- Gerenciar o tempo: Podemos evitar sobrecarregar a agenda chegando no horário adequado para atender cada paciente no maior tempo disponível. Ter documentos básicos pré-digitados também pode diminuir nosso tempo de “preencher papeladas”.
- Minimize interrupções: Solicite ao paciente que mantenho o celular desligado ou no silencioso caso ele toque muitas vezes; mantenho o seu mesmo silenciado. Peça para não ser interrompido, exceto em casos de urgência, para manter o foco no paciente.
- Deixe uma lista com o primeiro nome dos próximos atendimentos à vista na sala de espera: Caso tenha muito paciente na fila de espera, isso evita que esses pacientes batam na porta para perguntar quanto tempo ainda levará para serem atendidos.
Uso de tecnologia
- A incorporação de sistemas de prescrição eletrônica e protocolos baseados em inteligência artificial podem ajudar a lembrar os médicos de etapas críticas do tratamento, sugerir medicações e exames para aquele paciente em específico, reduzir erros de medicação e “pré-escrever” muito da papelada que precisamos preencher diariamente.
- Esses sistemas também podem facilitar a comunicação e o compartilhamento de informações entre médicos e suas equipes.
Conclusão
Evitar erros médicos é mais do que aplicar técnicas e protocolos; é cuidar do paciente com atenção e responsabilidade em cada etapa da consulta. Desde a revisão do prontuário até uma comunicação clara e orientações detalhadas, cada ação contribui para uma prática médica mais segura e humana.
Esses cuidados não apenas evitam problemas, mas também criam uma relação de confiança com o paciente, fortalecendo o vínculo e nossa responsabilidade como profissionais. Afinal, fazer medicina é mais do que tratar doenças; é valorizar a saúde e o bem-estar de cada pessoa, buscando sempre oferecer o melhor atendimento.
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