Muitas são as reflexões acerca dos desafios e dificuldades que atravessam a carreira das mulheres médicas que optaram pela maternidade, porém pouco se fala sobre os ganhos para a medicina quando uma médica se torna mãe.
A maternidade é a tradução mais literal e orgânica da palavra “cuidado”. E o cuidado com o outro, o olhar e o movimento interno para a satisfação das necessidades de quem precisa são missões que a maternidade ensina diariamente.
Na medicina esse cuidado se traduz pelo olhar atento, desde o diagnóstico até o alívio dos sintomas. A cura é a busca, muitas vezes inalcançável, mas o acolhimento é o caminho que temos que percorrer diariamente para tornar a existência do paciente que sofre, no mínimo, mais amena.
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Impacto na prática clínica
Ao contrário do que muitos pensam, ser mãe torna a mulher mais apta e firme em sua tomada de decisão. A necessidade de priorizar o que é importante e ser objetiva nas tarefas diárias do cuidado com a casa e filhos se traduz em maior eficiência na prática clínica, focando no que realmente importa e otimizando o tempo.
No relacionamento profissional, a mulher pode tornar-se mais assertiva em sua interlocução, já que o processo de educação dos filhos aprimora os recursos de comunicação e traz ferramentas que auxiliam na resolução de conflitos.
A criatividade também é aguçada, fazendo com que encontre soluções fora do óbvio para problemas relacionados aos pacientes ou mesmo à gestão de sua carreira.
O que a maternidade nos ensina?
Um dos ensinamentos mais duros da maternidade é o perdão. É preciso perdoar-se diariamente por não ser tudo que se espera de si. E na medicina esse perdão é também necessário, pois, aceitando as limitações e angústias que a profissão traz, é possível crescer e se aperfeiçoar.
A maternidade ensina a ser forte e incansável, embora também abra espaço para o descanso, pois um corpo e uma mente doentes não são capazes do cuidado com o outro. Na medicina, saber parar e acolher-se é sinal de sabedoria, pois um padrão adoecedor de trabalho é insustentável.
Enxergar a fragilidade do outro e apaziguar o sofrimento são papéis assumidos pela maternidade com inteireza e, paralelamente, são posturas primordiais no atendimento médico.
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Dicas pessoais
Como mãe de três filhos e médica há 18 anos, vivi muitos desafios e descobertas motivadas pelas duas coisas. Lembro da dificuldade que vivenciei em atender crianças graves quando minha primeira filha nasceu, era como se visse o rosto dela em cada um dos pacientes, contudo, a solidariedade e entrega diante do sofrimento do outro se tornaram bandeiras ainda mais essenciais depois que fui atravessada pela maternidade.
Ser mãe e médica são missões nobres. Criar pessoas melhores para o mundo e ser capaz de contribuir para que a existência de alguém seja mais prazerosa ou menos sofrida é tomar nos braços a responsabilidade na construção de uma humanidade mais generosa e gentil.
Autoria

Juliana Sartorelo
Médica formada em 2006 pela UFMG, Residência em Clínica Médica, especialista em Medicina de Emergencia e Toxicologia Médica, titulada pela AMB. Mestra em infectologia e Medicina Tropical. Membro da diretoria da ABRAMEDEMG, presidente do Comitê de Toxicologia da Abramede Nacional. Membro da Comissão de Toxicologia da AMB.
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