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Saúde8 março 2024

Diferença salarial entre homens e mulheres na medicina

Conforme os dados da Demografia Médica, mulheres médicas, recebem 36,3% menos que médicos do sexo masculino.
Por Tayne Miranda
Se por um lado devemos comemorar a crescente presença feminina em profissões anteriormente hegemonicamente masculinas, nosso avanço nesses espaços tensiona e explicita desigualdades de gênero ainda não superadas. Dados da Demografia Médica no Brasil 2023, estudo fruto de uma cooperação técnica entre a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), revela que em 2023 as mulheres representavam 49,3% dos médicos no Brasil e, se confirmadas as projeções do estudo, nos tornaremos em 2024 a maioria dos médicos, representando 50,2% do montante total.  Nossa presença majoritária, no entanto, não significa que estamos submetidas as mesmas condições de competição no mercado de trabalho e as mesmas possibilidades de desenvolvimento na carreira.   Conforme os dados da Demografia Médica, nós, mulheres médicas, recebemos 36,3% menos que nossos colegas do sexo masculino (os dados são oriundos das declarações de imposto de renda feitas a Receita Federal. Em 2020, a renda média das mulheres médicas foi de R$ 23.205 frente a R$ 36.421 dos homens). Leia: Como as profissionais da medicina se preparam e lidam com os desafios inerentes à maternidade sem abdicar da profissão Considerando os médicos com idade de 19 a 30 anos, o salário das mulheres correspondia a 82,7% dos salários dos homens. Nas faixas etárias de 31 a 40 anos e 41 a 50 anos, no entanto, o abismo aumentava, representando 67,1% e 65,5% respectivamente, com tendência de recuperação da diferença salarial a partir dos 50 anos, mas sem atingir o patamar observado entre 19-30 anos.  

Contextualizando 

A ampliação da diferença pode estar relacionada a um fenômeno bem evidenciado na literatura: o salário e a participação no mercado de trabalho das mulheres reduzem após o nascimento de um bebê, com impactos persistentes da maternidade, de forma tal que mesmo após 10 anos do nascimento do bebê os salários das mães não retornem ao patamar pré-nascimento.  Os dados apresentados pela Demografia Médica estão em acordo com trabalhos prévios. No estudo conduzido por Mainardi e colaboradores publicados em 2019 no British Medical Journal (BMJ), com dados coletados em 2014 com 2.400 médicos no Brasil, a probabilidade de um médico estar entre os mais bem remunerados da profissão era de 17,1%, contra 4,1% das médicas. Além disso, 80% das mulheres estavam nas três faixas de renda mais baixas frente a 51% dos homens nas três faixas superiores.   A diferença salarial persistia mesmo quando possíveis fatores de confusão eram ajustados, como jornada de trabalho, número de plantões, trabalho em consultório, tempo de prática e especialização. Ou seja, a diferença salarial se mantinha entre os gêneros, mesmo quando a comparação era entre profissionais com características de trabalho similares. Outra questão levantada foi a maior presença das médicas em especialidades com remuneração menor, como pediatria, ginecologia e clínica geral, elemento que também não foi capaz de explicar a diferença salarial entre os gêneros. Desse modo, evidencia-se que a diferença salarial se deve exclusivamente a discriminação de gênero. 8 de março: Conquistas e desafios das mulheres na carreira da medicina 

A luta

Em posições de liderança, as mulheres são ainda minoritárias: nos seus 73 anos de história, o Conselho Federal de Medicina nunca contou com um presidente do gênero feminino. A sub-representação das mulheres nos espaços de decisão corrobora para que problemas enfrentados pelas médicas em decorrência da desigualdade de gênero sejam menos tematizados e menos combatidos: é indiscutível que sofrer diariamente os impactos da violência de gênero confere as mulheres uma sensibilidade diferenciada a tais questões.   Neste mês de resgate das lutas históricas das mulheres, precisamos celebrar as conquistas e ratificar nosso desejo de condições paritárias para que ocupemos os espaços públicos e profissionais de modo a expressar nossas potencialidades e sermos adequadamente reconhecidas e recompensadas pelos nossos esforços.
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Referências bibliográficas

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