As oportunidades e os desafios que a medicina enfrentará nos próximos anos e como se preparar para o futuro da profissão pautaram os debates da segunda edição do Afya Summit, realizado em 23 de agosto de 2025, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
Produzido pela Afya, maior hub de educação e soluções para a prática médica no Brasil, o evento trouxe uma experiência imersiva por meio da narrativa: “Do futuro para o presente – como transformar a prática médica hoje”. A programação incluiu debates sobre temas essenciais como Tecnologia, Inovação e Humanização, Impacto das Mudanças Climáticas na Saúde, Comunicação Médica, entre outros.
Para continuar a promover a discussão iniciada no Afya Summit, o Portal Afya traz uma série de conteúdos relacionados às temáticas e o prepara para viver a nova experiência da Medicina em 2026.
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A síndrome do tempo curto
Em ambientes médicos de alta pressão, em que o tempo é sempre curto e a vida normalmente está por um fio, às vezes parece ser difícil encontrar espaço para ter empatia. Mas é justamente nesses momentos que essa habilidade se torna mais necessária.
Situações como as de uma emergência, uma unidade de terapia intensiva ou uma sala cirúrgica são naturalmente tensas e exigem que as decisões sejam precisas e o foco costuma estar, quase sempre, na técnica. Nesses locais, ser empático não tem a ver, necessariamente, com discursos longos ou abraços emocionados. Na maioria das vezes, começa com gestos simples como chamar o paciente pelo nome, explicar com clareza o que está sendo feito, ouvir o que a família tem a dizer sem interromper. São ações que resgatam algo que o ambiente de alta complexidade tende a apagar, o vínculo humano.
Para entender como esse cuidado mais humano se constrói na prática em ambientes de UTI, conversamos com o médico intensivista Yuri Albuquerque e com a médica intensivista pediátrica Renata Carneiro da Cruz. Confira!
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Empatia e técnica, sempre juntas
Na UTI, o tempo corre diferente, há sempre um monitor apitando, uma decisão urgente, um paciente precisando de suporte. Mesmo assim, esse é um dos lugares em que a empatia se revela como uma das ferramentas mais poderosas do cuidado.
“A técnica sustenta a vida; a empatia dá sentido ao cuidado.”
Com essa frase, Dr. Yuri resume bem o que defende: empatia não é um extra, é parte fundamental da prática médica. E ela não precisa de grandes atos. Está em atitudes do dia a dia como chamar o paciente pelo nome, explicar de forma clara o que está sendo feito, escutar dúvidas e acolher o sofrimento sem pressa. “Atualizar a família com empatia e transparência também faz parte desse cuidado”, reforça.
Dra. Renata concorda, mas reforça um ponto importante. A empatia, por si só, não basta.
“No cuidado ao paciente crítico pediátrico, não basta ter empatia para exercer bem a Medicina, é necessário ter um cuidado compassivo, que é um compromisso ativo em diminuir a dor total do paciente, seja ela física, espiritual, psicológica, familiar ou social.”
Para isso, segundo ela, é preciso um olhar individualizado, tentando compreender quem é aquele paciente e aquela família, e o que realmente importa para eles.
E isso vale para além da relação com os pacientes. A UTI só flui com a integração dos membros da equipe multiprofissional entre si e com as famílias. Dra. Renata lembra que o diálogo, o respeito entre todos, a clareza nas informações, o acolhimento das famílias e o comprometimento de cada profissional em cuidar da melhor forma do paciente são a grande receita para construir relações mais humanas na UTI. “Precisamos esclarecer os passos da investigação diagnóstica e do tratamento. É necessário verificar o que as famílias estão entendendo do quadro de seu filho e que podemos explicar sempre que necessário. Precisamos lidar com críticas e usá-las de forma construtiva”, explica.
Quando empatia e decisão médica entram em conflito
Como oferecer esse tipo de cuidado quando há conflito entre a empatia e a tomada de decisão médica? O que fazer quando há más notícias a serem dadas ou limites terapêuticos a serem comunicados?
Nem sempre o médico consegue identificar que existe o conflito entre a empatia e a tomada de decisão médica, por isso, Dra. Renata comenta que o primeiro passo é conseguir identificar que ele existe. Depois, separar o que vem do julgamento técnico e o que é puramente empático. “Vale pedir ajuda a colegas de confiança, relatar o caso e, se for possível, até se afastar da liderança naquele momento.”
Esses momentos exigem maturidade emocional e preparo técnico. Dr. Yuri explica que a empatia não significa dizer o que a família quer ouvir, mas comunicar com respeito e honestidade aquilo que o paciente precisa
Empatia também para quem cuida
Cuidar de quem sofre, dia após dia, também tem um preço. Dra. Renata lembra da chamada “fadiga por empatia” ou “fadiga de compaixão”, um esgotamento físico e emocional que pode afetar quem está sempre envolvido na dor do outro. Por isso, cuidar da saúde emocional de quem trabalha em ambientes de alta pressão é algo que não pode ser deixado de lado.
Ela compartilha o que a ajuda a seguir bem: “cuido da minha saúde mental me nutrindo do amor da minha família, da parceria com toda minha equipe da UTI, com meus pacientes, com suas famílias e outros profissionais que cuidam em conjunto dos meus pacientes no hospital”. Além disso, faz psicoterapia e mantém o hábito de estudar, como forma de se manter atualizada e oferecer o melhor cuidado possível.
Já o Dr. Yuri organiza os cuidados com saúde emocional em quatro pilares: treino regular para manter o corpo e a mente em movimento, relações saudáveis com a família e amigos, alimentação equilibrada para ter energia e clareza mental, e um propósito claro. “Saber por que faço o que faço me ajuda a manter a empatia mesmo nos dias mais difíceis.”
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