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Cardiologia25 setembro 2017

Você conhece os efeitos do uso da cocaína no coração?

Dentre os indivíduos que buscam a unidade de hospitalar de saúde após uso de drogas ilícitas, a maioria fez uso de cocaína, sendo essa a responsável por mais mortes nos EUA.

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Dentre os indivíduos que buscam a unidade de hospitalar de saúde após uso de drogas ilícitas, a maioria fez uso de cocaína, sendo essa a responsável por mais mortes por drogas ilícitas nos Estados Unidos, principalmente pela sua fácil administração, custo relativamente baixo, ampla disponibilidade e a falsa crença de que o uso recreativo não é danoso à saúde.

A droga

A cocaína é um alcaloide extraído do arbusto da Erythroxylon coca, presente principalmente na América do Sul. Ela está disponível em duas formas, o sal cloridrato e a base livre. O sal vem em forma de pó e pode ser administrado pela via nasal, oral ou injetável, e é muito bem absorvido pelas mucosas do corpo. Já a base vem forma de pedra, é termoestável, portanto pode ser fumada, é mais barata, de duração de ação mais curta e mais intensa, com maior poder viciante. É conhecida como crack devido ao barulho que faz ao ser queimada. A cocaína tem uma meia-vida plasmática curta, de apenas 45 a 90 minutos, porém sues metabólitos podem permanecer no corpo por até 24 a 36 horas. A droga bloqueia a recaptação pré-sináptica de noreprinefrina e de dopamina, produzindo assim, um excesso desses transmissores no local do receptor pós-sináptico. Em resumo, a cocaína atua como um poderoso agente simpaticomimético.

Isquemia e infarto do miocárdio

Isquemia ou infarto do miocárdio relacionados à cocaína podem resultar do seguinte: aumento da demanda miocárdica de oxigênio na hipótese de um suprimento de oxigênio limitado ou fixo; vasoconstricção arterial coronariana intensa e aumento da agregação plaquetária e da formação de trombos.

Em virtude de seus efeitos simpaticomiméticos, a cocaína aumenta a frequência cardíaca, a tensão da parede ventricular esquerda e a força de contratilidade ventricular esquerda, aumentando assim a demanda de oxigênio para o coração, ao mesmo tempo que causa vasoconstrição das artérias epicárdicas fazendo com que o suprimento miocárdio de oxigênio diminua conforme o aumento da demanda. O efeito contrátil na vasculatura coronariana da cocaína é, sobretudo, mais proeminente em vasos doentes levando os pacientes portadores de doença aterosclerótica a um risco mais elevado de infarto com o uso da droga. A cocaína promove a constrição de vasos coronarianos através dos receptores alfa-adrenégicos, além da maior produção de endotelina (potente vasocontritor) e da redução da produção do óxido nítrico.

A cocaína promove anomalias estruturais da barreira celular endotelial, aumentando a permeabilidade ao LDL e a expressão de moléculas de adesão endotelial, favorecendo, assim, a migração leucocitária, todos estes associados a aterogênese. Além disso, a droga aumenta a ativação e agregação plaquetária, assim como eleva a concentração do inibidor de ativação do plasminogênio, o que pode promover a formação de trombos.

O risco de infarto aumenta 24 vezes durante os primeiros 60 minutos posteriores ao uso de cocaína em indivíduos considerados de baixo risco, e a ocorrência de infarto pós uso de cocaína não parece estar relacionada a dose ingerida, tão pouco com a frequência de uso da droga.

Álcool mais cocaína

O consumo concomitante de álcool e cocaína produz um metabólito, através da transesterificação hepática, chamado cocaetileno. Este age de forma semelhante a cocaína e no experimentos com animais provou ser mais potente e mortal que somente a cocaína. O uso da cocaína e do álcool em conjunto é mais mortal do qualquer uma das substâncias em separado.

Veja também: ‘FDA libera aplicativo para tratamento de pacientes com dependência química’

Disfunção miocárdica pela cocaína

O uso crônico de cocaína está associados a hipertrofia ventricular esquerda, bem como disfunção sistólica ou diastólica do ventrículo esquerdo.

Os mecanismos para a ocorrência destes eventos são, em primeiro lugar, como já descrito, a isquemia/infarto induzida pela cocaína. Em segundo lugar a estimulação simpática do coração frequente e repetitiva semelhante a do feocromocitoma, que pode produzir cardiomiopatia e alterações microscópicas características de necrose em bandas por contração em bandas miocárdicas. Em terceiro lugar a administração de agentes adulterantes e infectantes pode causar miocardite , que tem sido vista em estudos post mortem de indivíduos que utilizavam cocaína injetável. Em quarto lugar estudos experimentais em animais mostraram que o uso de cocaína estimula a produção de espécies reativas de oxigênio, altera produção de citocinas no endotélio e nos leucócitos circulantes e induz a transcrição de genes responsáveis pelas alterações da composição do colágeno miocárdico e da miosina, induzindo a apoptose dos miócitos.

Arritmias

Apesar de não existir comprovação de que a cocaína seja arritmogênica, presume-se que ela seja capaz de produzir arritmias, principalmente pela capacidade de bloquear canais de sódio e estimular o sistema nervoso simpático. Os indivíduos que geralmente experimentam uma arritmia com o uso da cocaína apresentam também algum distúrbio metabólico e hemodinâmicos como hipotensão, infarto do miocárdio, hipoxemia ou convulsões. Arritmias potencialmente letais e morte súbita ocorrem mais em indivíduos que apresentam isquemia ou infarto no miocárdio ou lesão miocelular não isquêmica. Além disso o uso crônico de cocaína tem como consequência aumento da massa do ventrículo esquerdo e da espessura da parede, que são fatores arritmogênicos conhecidos.

Endocardite

Apesar do uso de qualquer droga injetável ser fator de risco para endocardite, a cocaína parece apresentar um risco maior. O por quê disso ainda não foi esclarecido, porém há algumas postulações à respeito, como por exemplo: os efeitos hemodinâmicos de aumento de pressão e frequência cardíaca podem predispor a maior lesão valvar; existe um efeito imunossupressor da cocaína que pode favorecer a infecção, além do modo como a cocaína é preparada e os adulterantes presentes nela. Um fato curioso é que as endocardites de usuários de cocaína injetável tendem a acometer o lado esquerdo do coração.

Conclusão

A cocaína atua de maneira danosa no coração humano, vários testes animais provaram que a cocaína tem efeitos maléficos no sistema cardiovascular. Além das consequências acima, a cocaína ainda pode induzir a dissecção aguda de aorta e acidente vascular encefálico. Atenção especial deve ser dada a pacientes jovens, sem fatores de risco que sofrem infarto ou algumas das consequências do uso da droga.

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