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Cardiologia14 novembro 2025

Prognóstico do escore de cálcio incidental na TC tórax  

Estudo investigou o valor prognóstico dos achados incidentais de cálcio nas artérias coronárias (CACi) em TCs de tórax de rotina
Por Juliana Avelar

As doenças cardiovasculares (DCV) continuam sendo uma das principais causas de mortalidade em todo o mundo, com a doença arterial coronariana (DAC) contribuindo de forma significativa. cálcio nas artérias coronárias (CAC), avaliado por meio da tomografia computadorizada (TC) de tórax sem contraste, emergiu como uma ferramenta valiosa e objetiva para a estratificação do risco cardiovascular. 

Tradicionalmente, a quantificação do CAC depende de TCs sincronizadas ao ECG e de softwares específicos para o cálculo do escore de Agatston. No entanto, as calcificações vasculares também podem ser visualizadas em TCs de tórax sem contraste e não sincronizadas ao ECG, uma modalidade amplamente disponível. Apesar de sua relevância clínica, esses achados são frequentemente subnotificados, pois costumam ser considerados incidentes e não relacionados à indicação original do exame. 

A inclusão dos achados incidentais de CAC nos laudos de TC de rotina tem o potencial de identificar indivíduos de alto risco que poderiam se beneficiar de intervenções cardioprotetoras, como o uso de estatinas, sem custos ou exames adicionais. Além disso, o reconhecimento dessa condição tem sido associado a maior adesão dos pacientes ao tratamento. 

Este estudo teve como objetivo, então, investigar o valor prognóstico dos achados incidentais de CAC (CACi) em TCs de tórax de rotina e seu papel na orientação da terapia redutora de lipídios e no manejo do risco cardiovascular.  

Materiais e Métodos 

Foi conduzida uma revisão sistemática da literatura com meta-análise, seguindo o protocolo PRISMA. 7 estudos foram incluídos. Os estudos incluídos nesta revisão sistemática frequentemente analisaram mortalidade cardiovascular e prescrição de estatinas como desfechos primários ou secundários. 

Os estudos incluídos nesta meta-análise utilizaram protocolos heterogêneos de tomografia computadorizada (TC) para a quantificação do cálcio coronariano, com variações na técnica de aquisição, parâmetros de varredura e tipos de equipamentos. A maioria empregou TCs de tórax de baixa dose, sem contraste e não sincronizadas ao ECG, embora com diferentes graus de padronização. 

Resultados 

Apenas cinco estudos avaliaram a incidência de mortalidade cardiovascular estratificada entre os grupos com “presença de CAC incidental” e “ausência de CAC incidental”. 

Os resultados dessa análise indicaram uma probabilidade significativamente maior de mortalidade cardiovascular no grupo com presença de CAC incidental (OR: 7,38; IC 95%: 4,10–13,28; p < 0,001).  A heterogeneidade foi considerada moderada. 

Apenas três estudos avaliaram a prescrição de estatinas após a quantificação do cálcio coronariano (CAC) em exames de TC de rotina. Os resultados dessa análise não identificaram diferença significativa na probabilidade de prescrição de estatinas entre os grupos.  

Prognóstico do escore de cálcio incidental na TC tórax  

Médica analisando tomografia computadorizada. Imagem de freepik

Discussão: Prognóstico do escore de cálcio incidental na TC tórax  

Os achados reforçam que a quantificação do CAC em TCs de rotina pode desempenhar um papel significativo na prevenção da mortalidade cardiovascular ao fornecer dados objetivos para estratificação de risco. Além disso, a inclusão do CAC como componente de avaliação em exames de rotina tem o potencial de otimizar o manejo clínico, permitindo intervenções terapêuticas precoces, como a prescrição de estatinas. 

Um dos maiores estudos já conduzidos, o MESA, identificou uma relação entre a presença de CAC e maior risco cardiovascular, independentemente de outros fatores de risco tradicionalmente avaliados, como os escores de Framingham e ACC. 

Os resultados desta meta-análise indicam que a presença de CAC incidental está associada a um aumento significativo no risco de mortalidade cardiovascular. 

Esse achado está em concordância com o estudo EISNER. Esse ensaio clínico demonstrou que tanto a presença quanto a extensão das calcificações coronarianas influenciam diretamente a incidência de eventos cardiovasculares e mortalidade. 

A análise combinada dos estudos não demonstrou efeito significativo no aumento da prescrição de estatinas. Esse resultado pode estar relacionado à alta heterogeneidade entre os estudos e ao número limitado de trabalhos avaliando especificamente esse desfecho. 

Vieses e limitações 

número limitado de ensaios clínicos randomizados que utilizam TC de tórax de rotina para quantificação do escore de cálcio restringe as conclusões deste estudo, especialmente aquelas relacionadas à prescrição de estatinas. Além disso, os artigos incluídos empregaram métodos diferentes de quantificação e classificação do cálcio coronariano. 

Embora todos tenham avaliado o CAC, houve grande variabilidade nos protocolos de aquisição e também na forma como o CAC é relatado e destacado nos laudos radiológicos. 

A implementação de uma abordagem sistemática e padronizada para a avaliação e o relato do CAC poderia melhorar o reconhecimento desses achados e esclarecer sua relação com a prescrição de estatinas. 

Além disso, vários estudos incluíram apenas fumantes atuais ou ex-fumantes submetidos à triagem para câncer de pulmão, e nem todos ajustaram os resultados para variáveis de confusão, como risco cardiovascular basal ou comorbidades. 

Conclusão 

cálcio coronariano incidental detectado em TCs de tórax de rotina foi associado a um maior risco de mortalidade cardiovascular, reforçando seu potencial valor na estratificação de risco. 

No entanto, não foi observada associação consistente com o início da terapia com estatinas. 

São necessários novos estudos prospectivos para se estabelecer uma padronização do relato do CAC em protocolos de TC de tórax e avaliar se essa abordagem pode ser integrada de forma eficaz às estratégias de prevenção cardiovascular.

Autoria

Foto de Juliana Avelar

Juliana Avelar

Médica formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Cardiologista pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia

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