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As doenças cardiovasculares são as que mais matam no mundo e nos últimos anos muitas novidades aparecem, com impacto direto em nossa prática. Em um cenário ideal, quando um paciente vem para “check up”, quais exames, tratamentos e orientações ele deve receber para reduzir o risco de infarto, AVC ou morte por doença cardiovascular (MACE, major cardiovascular events)? No texto de hoje vamos orientar sua prática e mostrar as evidências por trás das recomendações. Aqui, consideraremos um paciente assintomático, com exame físico normal e sem comorbidades importantes.
Solicite os exames de rotina:
- Hemograma
- Glicemia e hemoglobina glicada
- Função renal e eletrólitos
- Perfil lipídico
Calcule o risco cardiovascular. Há duas opções e não temos estudos definitivos de qual é a melhor. Uma, a calculadora americana ASCVD, recentemente atualizada pelos estudos de coorte e epidemiológicos. A outra, o Escore de Risco Global, utilizado no Brasil e na Europa.
Ao final, há três opções:
- Baixo Risco
- Risco Intermediário
- Alto Risco
Para o paciente de risco intermediário, podem ser necessários exames complementares para refinar melhor a estimativa de risco. Os mais utilizados são:
- Microalbuminúria
- Proteína C reativa
- Lipoproteína(a)
- Índice Tornozelo-Braquial (ITB)
- Espessura médio-intimal da carótida (IMT ou EMI)
- Escore de cálcio na TC
- Dos exames listados, merece destaque pois vendo sendo o parâmetro com melhor correlação com prognóstico e risco de MACE. É, para alguns autores, o exame de escolha hoje para refinar a estratificação do risco cardiovascular. É subdividido em:
- Zero: baixo risco
- 1-99: risco intermediário, é a zona cinza e que menos ajuda nosso raciocínio
- >99: alto risco
- Dos exames listados, merece destaque pois vendo sendo o parâmetro com melhor correlação com prognóstico e risco de MACE. É, para alguns autores, o exame de escolha hoje para refinar a estratificação do risco cardiovascular. É subdividido em:
Pressão Arterial
As novas diretrizes brasileiras, após a polêmica da AHA 2017, ainda serão lançadas, mas a tendência é seguir o modelo europeu (ESC), menos radical, no qual a hipertensão é definida e classificada como:
PAS
(mmHg) | PAD
(mmHg) | |
Ótimo | < 120 | < 80 |
Normal | 120-129 | 80-84 |
Normal-Alto | 130-139 | 85-89 |
Estágio 1 | 140-159 | 90-99 |
Estágio 2 | 160-179 | 100-109 |
Estágio 3 | ≥ 180 | ≥ 110 |
A seguir, a relação entre o estágio da HAS e o risco cardiovascular que vão definir o tratamento, de acordo com a ESC 2018.
Dislipidemia
Outro campo polêmico. A diretriz brasileira, recentemente publicada, recomenda a estratificação do risco cardiovascular como guia para indicar o início e dose de estatina.
Categoria | Critérios de Inclusão | Meta LDL (mg/dl) |
Muito alto risco | Doença aterosclerótica (mesmo se assintomática) Obstrução arterial ≥ 50% | < 50 |
Alto risco | ERG ≥ 20% (homem) ou 10% (mulher) + LDL 70-189 mg/dl Aterosclerose subclínica* Aneurisma aorta abdominal DRC (TFGe < 60 ml/min) LDL ≥ 190 mg/dl Diabetes 1 ou 2 + fatores de risco** ou aterosclerose subclínica | < 70 |
Risco intermediário | ERG 5-20% (homem) ou 5-10% (mulher) + LDL 70-189 mg/dl DM 1 ou 2 que não preencham critérios de alto risco | < 100 |
Baixo risco | ERG < 5% + LDL 70-189 mg/dl | < 130 |
Só que os americanos inovaram e agora em 2018 publicaram diretrizes com mais detalhamento e complexidade. Qual a mensagem que eles deixam de diferente?
- As estatinas são a droga de escolha. Nos pacientes de alto risco, caso o LDL persista acima da meta mesmo com dose máxima, a próxima escolha é ezetimibe. Se mesmo assim não houver redução suficiente do LDL, aí sim entram os inibidores do PCSK9.
- Acrescenta a apoB como um dos preditores de risco para ajudar na decisão do paciente intermediário.
- Pré-eclâmpsia, menopausa precoce (< 40 anos) e doenças inflamatórias crônicas (como AR e psoríase) entram como marcadores de risco e, em pacientes “intermediários”, vão sugerir início de estatina.
- O nível de triglicerídeos que indica fibrato subiu. Os autores recomendam “avaliar” entre 500 e 1000 mg/dl e “tratar” apenas se > 1000 mg/dl
- Só devemos monitorar CK e transaminases se houver sintoma e/ou suspeita clínica, e não de rotina.
Modificações do Estilo de Vida
- Dieta saudável
- A dieta do mediterrâneo foi recentemente escolhida como a “mais saudável”.
- Interrupção tabagismo
- Medida importante, com data nacional para marcar o evento. Há as opções do tratamento psicológico/grupos de apoio e medicações.
- Manutenção peso normal
- Exercícios físicos regulares
Quando prescrever AAS na prevenção primária
Dois grandes ensaios clínicos publicados por ocasião do congresso da ESC 2018 e uma meta-análise recente que saiu no JAMA mudaram as indicações do AAS na prevenção primária. Assim como nas estatinas, a indicação está relacionada com o risco cardiovascular:
- Baixo risco → não indica
- Risco intermediário → pelos estudos recentes, não indica. Foi a principal mudança.
- Alto risco → indica
Especificamente sobre a meta-análise recente, houve redução no risco de eventos cardiovasculares, especificamente morte e IAM, mas aumento no risco de sangramento, incluindo casos graves. O NNT para benefício foi 264 (é necessário tratar 264 pacientes para evitar um MACE) e o NNH para risco 210. Olhando assim, fica a dúvida do real benefício do AAS. Mas a verdade é que o paciente com melhor indicação é aquele de maior risco cardiovascular e com menor risco de sangramento. Por isso, fique de olho nos fatores abaixo, que aumentam os riscos:
Idoso | HAS | Tabagismo |
Sexo masculino | DM | Uso AINE |
Hepatopatia | Trombocitopenia ou coagulopatia | Anticoagulação plena |
Nefropatia | Obesidade | Dose e tempo de uso do AAS |
Hospitalização por doença gastrointestinal ou dor abdominal |
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Referências:
- https://health.usnews.com/best-diet
- Zheng SL, Roddick AJ. Association of Aspirin Use for Primary Prevention With Cardiovascular Events and Bleeding Events: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA. 2019;321(3):277–287. doi:10.1001/jama.2018.20578
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