Logotipo Afya
Anúncio
Cardiologia31 janeiro 2025

Interrupção da FA como um preditor para sucesso da ablação na FA persistente 

Revisão sistemática e meta-análise avaliou se a interrupção da FA indica o sucesso de procedimentos de ablação de FA persistente.
Por Juliana Avelar

A fibrilação atrial (FA) é a arritmia sustentada mais comum e está associada a pior qualidade de vida, aumento de cinco vezes no risco de AVC, maior chance de insuficiência cardíaca, demência e mortalidade. A FA persistente, responsável por cerca de 50% dos casos, apresenta maior carga de arritmia e riscos superiores de AVC e mortalidade em comparação com a FA paroxística. Apesar disso, as evidências sobre a eficácia da ablação por cateter na FA persistente ainda são limitadas. Estudos relatam que, 18 meses após a ablação por radiofrequência na FA persistente, a taxa de recorrência é de cerca de 50%, mesmo nos centros mais experientes.  

Por isso, pesquisadores têm buscado características preditivas que ajudem a evitar a recorrência da arritmia. A interrupção da FA durante a ablação tem sido sugerida como um possível preditor e até mesmo um objetivo do procedimento, mas sua eficácia a longo prazo ainda é controversa. A taxa de interrupção durante procedimentos varia de 33% a 86%, e ela frequentemente exige maior tempo de operação, o que levanta dúvidas sobre seu valor como objetivo primário. No entanto, quando o ritmo normal é restaurado, os resultados de longo prazo parecem ser melhores. 

Esse trabalho revisou a literatura e conduziu uma meta-análise de estudos prospectivos para avaliar o impacto da interrupção da FA como preditor na recorrência de arritmias a longo prazo. Foram incluídos 22 artigos para meta-análise, sendo 11 estudos prospectivos. A maioria dos estudos utilizou protocolos de ablação por etapas, com divergências no modo de término da FA (ritmo sinusal direto ou ritmo sinusal/taquicardia atrial). Em grande parte dos estudos, a FA foi resolvida por ablação, e apenas quatro combinaram ablação com cardioversão subsequente. O tempo de acompanhamento variou, com a maioria dos estudos reportando períodos superiores a 12 meses. 

Resultados de recorrência de arritmia 

A taxa de recorrência variou amplamente. Haïssaguerre et al. relataram apenas 1,9% de recorrência após procedimentos repetidos, enquanto Scherr et al. observaram uma taxa de 87,5% cinco anos após a ablação naqueles com FA terminada. Quatorze estudos mostraram taxas significativamente menores de recorrência de arritmia no grupo com término da FA durante a ablação, incluindo seis estudos prospectivos. 

Por exemplo, Matsuo et al. relataram apenas 3,9% de recorrência no grupo com término da FA, comparado a 92,3% no grupo sem término durante 28 meses de acompanhamento (P < 0,00001). Por outro lado, alguns estudos, como os de Singh et al. e Choi et al., não encontraram diferença estatisticamente significativa entre os grupos de término e não término, embora o grupo com término apresentasse taxas ligeiramente inferiores. 

ESC 2024: Primeiro estudo de ablação de fibrilação atrial com procedimento placebo

Seguimento de longo prazo 

Estudos como os de Miyazaki et al. e Scherr et al. sugeriram que a superioridade do término da FA na redução da recorrência se torna significativa a partir do segundo ano após a ablação.  

A meta-análise de estudos prospectivos revisou sete estudos que registraram os resultados de um único procedimento, abrangendo 1.114 pacientes.  

A razão de risco encontrada foi de 0,78, sugerindo um risco de recorrência 22% menor no grupo em que a Fibrilação Atrial foi terminada durante o procedimento. Vale destacar que houve moderada variabilidade nos resultados dos estudos analisados. As subanálises mostraram que, quando o modo de término foi o ritmo sinusal, a estimativa do efeito combinada foi RR 0,74, indicando uma redução mais significativa do risco de recorrência. 

Foram revisados estudos comparando a recorrência de longo prazo de pacientes com término de FA e sem término durante a ablação. A maioria dos estudos indicou que os pacientes com término de FA apresentaram significativamente menos recorrência de arritmia atrial. 

Na meta-análise posterior com estudos prospectivos, descobriu-se que o prognóstico de longo prazo dos pacientes no grupo com término de FA era significativamente melhor do que no grupo sem. Vários estudos também relataram que o término da FA era um preditor multivariado independente para sobrevivência sem arritmia 

Vale destacar que o modo de término da FA importa. A meta-análise sugeriu que sair da arritmia em ritmo sinusal estava associado a significativamente menos recorrência durante o acompanhamento de longo prazo, tanto em procedimentos únicos quanto repetidos. Estner et al. mostraram que, após um acompanhamento de 19±12 meses, 83,5% dos pacientes que alcançaram ritmo sinusal por meio de ablação estavam livres da recorrência de arritmia atrial, enquanto apenas 73,3% dos pacientes com taquicardia atrial durante a ablação estavam livres de recorrência.  

A teoria por trás é a de que a eliminação do substrato perpetuado pode levar diretamente ao término da fibrilação atrial (FA) persistente. Uma vez que a área do driver seja dissipado, a recorrência raramente ocorrerá. Então, o ponto chave era como definir o substrato perpetuado. Parece promissor, então, identificar a área de fibrose miocárdica. A remodelação estrutural atrial foi avaliada por exame histológico e autópsia em pacientes com FA. A fibrose foi considerada como perpetuadora da FA através de mecanismos que incluem agir como limites críticos para ancorar rotores, facilitando circuitos reentrantes transitórios, e promovendo atividade repetitiva rápida por microrreentrada ou automaticidade local.  

Conclusão: preditor para sucesso da ablação na FA persistente  

Terminar a ablação sem fibrilação atrial (de preferência em ritmo sinusal) parece ser um preditor eficaz para pacientes com FA persistente, com significativamente menos recorrência no acompanhamento a longo prazo.  

Autoria

Foto de Juliana Avelar

Juliana Avelar

Médica formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Cardiologista pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Cardiologia