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Cardiologia4 fevereiro 2025

Insuficiência cardíaca de fração de ejeção melhorada: características e desfechos 

Estudo analisou as características e resultados clínicos de pacientes com insuficiência cardíaca de fração de ejeção melhorada (ICFEm)
Por Juliana Avelar

A insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida (ICFEr) é uma condição complexa e progressiva, que sabidamente determina alta morbidade e mortalidade. Atualmente, o desenvolvimento de novas terapias tem permitido o remodelamento do ventrículo esquerdo e a reversão parcial ou completa de sua disfunção. Neste cenário, surge uma nova entidade conhecida como insuficiência cardíaca de fração de ejeção melhorada (ICFEm). 

A insuficiência cardíaca de fração de ejeção melhorada (ICFEm)

Habitualmente, este grupo contempla um perfil de pacientes menos sintomáticos e de melhor prognóstico evolutivo. Todavia, pode-se observar uma nova deterioração da função ventricular ao longo do tempo, sem o total conhecimento das razões para esse desfecho, nem o impacto da descontinuidade da terapia médica instituída.  

Ainda há muito a ser aprendido sobre a ICFEm. Neste contexto, o estudo publicado na Annals of Medicine em 2025 busca compreender as características e desfechos clínicos dos pacientes portadores de ICFEm, incluindo a necessidade de continuidade do tratamento médico guiado por diretrizes (TMGD).  

Metodologia 

Trata-se de um estudo retrospectivo, conduzido por pesquisadores do First Affiliated Hospital of Wenzhou Medical University (China), entre janeiro de 2009 e fevereiro de 2023, que incluiu paciente diagnosticados com ICFEr, isto é, cuja fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) era < 40% e que, posteriormente, foram submetidos a um segundo ecocardiograma em um período de pelo menos seis meses.  

Em seguida, estes pacientes eram classificados em dois grupos: ICFEm e Não-ICFEm, de acordo com a FEVE. 

Os critérios para ICFEm foram: 

1) FEVE incial < 40%; e 

2) melhora da FEVE > 10%; e 

3) FEVE subsequente > 40%. 

Os pacientes portadores de ICFEm ainda foram subdivididos: ICFEm transitória para aqueles cuja FEVE caiu para < 40% em pelo menos um ecocardiograma subsequente, ICFEm persistente se a FEVE permanecesse > 40% e ICFE super-melhorada se a FEVE atingisse > 50%.  

De acordo com as principais diretrizes médicas atuais, o TMGD fornecido aos pacientes incluía os inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA), bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA), inibidores da neprilisina e dos receptores de angiotensina (INRA), beta-bloqueadores, antagonistas dos receptores mineralocorticoides (ARM) e inibidores dos cotransportadores de sódio-glicose 2 (iSGLT-2). O uso de ISGLT2 teve um significativo aumento do seu uso apenas a partir de 2020, período que passou a ser contemplada nas principais diretrizes.  

Saiba mais: 5 pilares da insuficiência cardíaca: olhar do clínico

Desfechos 

Os desfechos primários analisados foram um composto de eventos cardiovasculares maiores (MACE), que inclui mortalidade por todas as causas e internação por mais de 24 horas devido à descompensação da insuficiência cardíaca.  

O desfecho secundário foi a recorrência da ICFEr.  

Foram incluídos 4.560 pacientes com diagnóstico de ICFEr, dentre os quais 3289 (72,1%) alcançaram ICFEm em um acompanhamento médio de 3,4 anos.  

Entre estes pacientes, 941 (28,6%) apresentaram recorrência da ICFEr em um período de aproximadamente 2,3 anos. A análise dos resultados evidencia que dentre os principais fatores para recorrência de ICFEr estão: miocardiopatia isquêmica, doença arterial coronariana, doença renal crônica, dilatação do ventrículo esquerdo e grau de disfunção do ventrículo esquerdo. 

Vale destacar: a continuidade do TMGD se associou ao menos risco de queda da FEVE. No estudo houve alta taxa de descontinuidade do tratamento instituído: 70,4% interrromperam o uso de ARM; 59,8% de IECA/BRA/INRA; 53,2% de betabloquedores; 63,8% de iSGLT2.  

Conclusão 

A ICFEm é uma condição comum na prática clínica. Diante da sua complexidade de fenótipos, existe um vasto campo para entendimento das suas características e dos seus desfechos clínicos. O comportamento da FEVE ao longo do tempo é influenciada por múltiplos fatores. Porém, percebe-se que o TMGD tem um papel fundamental no prognóstico evolutivo e a descontinuação do tratamento pode ter impacto direto na recorrência da ICFEr.

Autoria

Foto de Juliana Avelar

Juliana Avelar

Médica formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Cardiologista pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia

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