A hipotermia é reconhecida pela neuroproteção após parada cardiorrespiratória (PCR) sendo recomendada pelas diretrizes da ILCOR em 2015. Entretanto os estudos sobre hipotermia terapêutica em pacientes pós-PCR em ritmo não chocável são conflitantes, sendo que alguns mostraram benefícios, e outros danos.
Hipotermia terapêutica pós-parada cardíaca
O estudo HYPERION, um estudo aberto, randomizado, controlado, avaliou o tratamento com hipotermia terapêutica (33° C) em relação a normotermia (37° C) por 24 horas em pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva após PCR por ritmo não chocável.
Foram incluídos no estudo 581 pacientes que sofreram PCR por ritmo não chocável e se apresentaram em coma nas unidades de saúde. Os pacientes tinham mais de 18 anos, o nível de coma foi avaliado pela escala de coma de Glasgow tendo como ponto de corte para coma 8 ou menos. Os critérios de exclusão foram:
- Mais de 10 minutos entre a PCR e o início da massagem cardíaca;
- Mais de 60 minutos entre o início da massagem até a recuperação do pulso;
- Pacientes com instabilidade hemodinâmica importante após a reversão da PCR (infusão contínua de noradrenalina ou adrenalina > 1 mcg/kg/min);
- Tempo entre a PCR e o screening do estudo maior que 300 minutos;
- Cirrose hepática grave (Child-Pugh C);
- Gestação ou amamentação;
- Outras questões gerenciais e administrativas (exemplo: status social, participação em outros estudos).
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O desfecho primário era composto por sobrevivência com prognóstico neurológico favorável após 90 dias. O prognóstico favorável era avaliado através do CPC score (Cerebral Performance Category) que ia de 1 a 5, sendo considerados favoráveis resultados entre 1 e 2.
O desfecho secundário era composto por mortalidade, tempo de ventilação mecânica, tempo de permanência na UTI/ hospital, infecções e eventos adversos hematológicos.
Resultados
O estudo mostrou benefício no desfecho primário em pacientes que foram submetidos a hipotermia terapêutica em relação aos pacientes que não foram. No grupo da hipotermia 10,2% dos pacientes sobreviveram com um bom prognóstico neurológico em relação a 5,7% dos pacientes que não foram submetidos a terapia (diferença, 4.5%; 95% intervalo de confiança [IC], 0.1 a 8.9; P=0.04). Não houve diferença significante no desfecho secundário.
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A mensagem que fica é: reduzir a temperatura após PCRs de ritmos não chocáveis pode ser benéfica para o prognóstico neurológico dos sobreviventes.
Referência bibliográfica:
- Lascarrou JB, Merdji H, Le Gouge A, et al. Targeted Temperature Management for Cardiac Arrest with Nonshockable Rhythm. N Engl J Med 2019; 381:2327.
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