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Oncologia9 agosto 2024

Rosuvastatina tem efeito cardioprotetor na quimioterapia por câncer de mama? 

Estudo recente avaliou possível efeito protetor da rosuvastatina contra a cardiotoxicidade induzida por quimioterapia
Por Isabela Abud Manta

O câncer de mama corresponde a 30% dos cânceres da mulher e até 20% tem o receptor HER2 positivo. Nesses casos, o tratamento geralmente consiste em quimioterapia, que inclui um antracíclico, a doxorrubicina, seguida de um anticorpo monoclonal direcionado aos receptores HER2, o trastuzumabe. Essa associada leva a maior incidência de cardiotoxicidade, que, quando associada a doxorrubicina, geralmente não é reversível, é dose dependente e ocorre por alterações estruturais no cardiomiócito e por morte celular em decorrência da formação de espécies reativas de oxigênio (ROS).  Já a cardiotoxidade associada ao trastuzumabe costuma ser reversível e independe da dose. Ocorre por bloquerar a transdução de sinal associada a ativação das vias de sobrevivência e por piorar o estresse oxidativo. 

O ecocardiograma transtorácico (EcoTT) é o método diagnóstico mais utilizado e feito de forma periódica para detectar alterações na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE).

Existem diversas formas de prevenir a cardiotoxicidade induzida pela quimioterapia, como redução de dose e uso de medicações cardioprotetoras. Uma medicação em estudo são as estatinas, que tem efeito antioxidante e anti-inflamatório, que poderia ajudar a prevenir o dano ao DNA. Assim, foi realizado um estudo que avaliou o possível efeito protetor da rosuvastatina.  

Leia também: Ministério da Saúde incorpora lenalidomida para tratamento de linfoma no SUS

Rosuvastatina tem efeito cardioprotetor na quimioterapia por câncer de mama? 

Imagem de freepik

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi estudo prospectivo, randomizado, controlado que incluiu pacientes com câncer de mama e HER2 positivo que receberam doxorrubicina seguido de trastuzumabe. As pacientes tinham entre 25 e 75 anos, programação deste esquema quimioterápico, performance status pela escala de ECOG ≤ 2, FEVE ≥ 50%, hemograma, função renal normais e TGP ≤ 3 vezes o limite superior do normal.  

O grupo intervenção foi formado por 25 pacientes que receberam rosuvastatina 20 mg 24 horas antes do primeiro ciclo de quimioterapia e 1x ao dia por 6 meses e o grupo controle por 25 pacientes que não usaram a medicação.  

O ecoTT foi realizado em todos os pacientes 24 horas antes da quimioterapia inicial e após 3 e 6 meses. Cardiotoxicidade foi definida como insuficiência cardíaca (IC) sintomática ou queda da FEVE em mais de 10% comparado ao valor basal ou para valores < 50%. Foram coletados exames de troponina I ultra-sensível (TnI), mieloperoxidase (MPO), interleucina-6 (IL-6) e TGP. 

O desfecho primário foi a mudança da FEVE após 3 a 6 meses comparado ao basal e a detecção de cardiotoxicidade nos dois grupos. O desfecho secundário foi a mudança nos níveis de TnI, MPO e IL-6 em 3 e 6 meses. 

Resultados 

Os pacientes tinham características clínicas semelhantes, assim como FEVE e níveis de TnI, MPO, IL-6 e TGP iniciais. 

O grupo intervenção teve menor queda da FEVE comparado ao grupo controle (p = 0,036 em 3 meses e p =0,002 em 6 meses). Cardiotoxicidade ocorreu em 16% no grupo controle e em nenhum paciente no grupo intervenção. A TnI e IL-6 foram menores no grupo intervenção em 3 e 6 meses e a MPO foi menor na avaliação de 6 meses. 

Os efeitos colaterais relatados foram semelhantes nos dois grupos: náuseas, dor abdominal, mialgia, cefaleia, astenia e tontura. 

Comentários e conclusão: Rosuvastatina

Apesar de ser um estudo unicêntrico, de curta duração e com poucos pacientes, houve efeito protetor da rosuvastatina, que tem ação anti-inflamatória e antioxidante, em pacientes com câncer de mama submetidas a quimioterapia com doxorrubicina seguida de trastuzumabe.  

O aumento dos biomarcadores como TnI, MPO e IL-6 teve associação com queda da FEVE e pode ser que possam ser utilizados como marcadores mais precoces de cardiotoxicidade.  

Esses resultados já têm sido vistos em alguns outros estudos e pode ser que haja mudança das próximas diretrizes, com recomendação desta medicação para esse grupo de pacientes. 

Autoria

Foto de Isabela Abud Manta

Isabela Abud Manta

Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.

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