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Cardiologia3 setembro 2025

Há benefício do rastreamento com escore de cálcio coronário em assintomáticos? 

Estudo revisou as evidências sobre o uso do escore de cálcio coronário e seu impacto no controle dos fatores de risco cardiovascular
Por Isabela Abud Manta

Doenças cardiovasculares (DCV) continuam sendo a primeira causa de morte no mundo e metade dos eventos ocorrem em pessoas sem diagnóstico prévio de doença. Há diversas tentativas para identificar as pessoas de maior risco, a partir da utilização de escores de risco e incorporação de modificadores de risco, como exames de imagem não invasivos que detectam aterosclerose subclínica. Entre os exames de imagem não invasivos, um que se destaca é o escore de cálcio coronário (EC), cujo maior benefício é reclassificar indivíduos de risco inicial intermediário que necessitam de uma decisão em relação ao tratamento. Além disso, EC de valor 0 é preditor de desfechos favoráveis. 

O valor clínico do escore de cálcio coronário depende de mudanças no manejo do paciente, ou seja, se são iniciadas medidas preventivas como uso de medicações para dislipidemia, hipertensão, antiplaquetários ou recomendações de mudanças de estilo de vida. 

Recentemente foi publicada uma revisão sistemática com objetivo de avaliar a evidência disponível em relação ao impacto do EC no rastreamento de doença aterosclerótica e controle dos fatores de risco cardiovasculares a partir de estudos prospectivos. 

Métodos do estudo e população envolvida 

Foram incluídos estudos clínicos controlados e randomizados e estudos de coorte prospectivos com pacientes adultos assintomáticos, sem história de DCV, que realizaram avaliação com EC, sem contraste, e que tiveram os resultados utilizados na tomada de decisão. O grupo controle não poderia realizar EC ou, caso o fizesse, deveria ser cego em relação ao resultado. 

Os desfechos avaliados foram 3: morte por todas as causas, morte cardiovascular e eventos cardiovasculares não fatais (síndrome coronariana aguda (SCA), acidente vascular cerebral (AVC) ou acidente isquêmico transitório (AIT), ou doença arterial periférica (DAP) documentada); alterações nos fatores de risco (FR) no seguimento (diferenças nas taxas de cessação de tabagismo, níveis de lipídeos, pressão arterial, controle de dieta, perda de peso, atividade física, controle glicêmico); e diferenças no padrão de saúde (aumento da motivação para mudar estilo de vida, percepção aumentada de risco cardiovascular, aderência a medicação, inicio de medicação cardiovascular). 

Resultados 

Foram incluídos na análise final sete estudos controlados e randomizados e um estudo observacional. Os estudos eram bastante variados em relação às populações e aos desenhos: o número de participantes variou de 56 a 42.447, a idade média de 42 a 64 anos, a proporção de mulheres de 21% a 100% e o seguimento de 6 a 60 meses. Alguns estudos incluíram pacientes de alto risco e outros de baixo risco. No geral, o risco de viés foi considerado moderado a alto. 

A intervenção após a realização do EC variou da comunicação dos resultados aos participantes ao início ou recomendação de estatina. Cinco estudos randomizados e controlados avaliaram pelo menos um FR cardiovascular como desfecho, três deles com resultados favoráveis (melhora do perfil lipídico, melhora da pressão arterial sistólica, melhora na circunferência abdominal), um com piora do FR (aumento de LDL) e um sem diferença no controle do FR. 

Seis dos estudos randomizados e o estudo observacional descreveram um efeito do EC no uso de medicações cardiovasculares, com resultados divergentes, principalmente em relação a estatina. Em alguns houve aumento do uso e em alguns redução do uso das medicações. Não foi visto diferença em relação a medicações para hipertensão ou diabetes.  

Três estudos avaliaram a aderência medicamentosa e viram que esta foi melhor para as estatinas no grupo intervenção em um deles. Nos outros dois a aderência foi alta independente do EC. 

Cinco estudos avaliaram alterações comportamentais dos participantes. Um deles mostrou mais pacientes procurando atendimento médico após realizar o EC, com o objetivo principal de baixar o risco CV. Outro estudo mostrou melhora da aderência e da realização de atividade física em 36 meses. 

Dois estudos randomizados e o estudo observacional relataram 52 eventos clínicos (incidência de 3,16 eventos por 1.000 pessoas-ano), porém nos estudos randomizados o número de eventos (34) foi considerado muito baixo para análise estatística adequada. 

Há benefício do rastreamento com escore de cálcio coronário em assintomáticos? 

Imagem de freepik

Comentários e conclusão: rastreamento com escore de cálcio coronário em assintomáticos 

Nesta revisão sistemática que incluiu sete estudos, sendo a maioria estudos controlados e randomizados, com um total de 51.554 pacientes, o resultado foi de efeitos favoráveis ao controle de FR cardiovasculares, resultados divergentes em relação a indicação de medicações cardiovasculares, possível benefício na aderência medicamentosa e motivação para mudanças de estilo de vida e realização de atividade física a partir da realização de exame para avaliar o EC em pacientes assintomáticos. Não foi possível analisar eventos clínicos pelo número muito baixo de sua ocorrência. 

Parece que a melhora no controle dos FR cardiovasculares foi causada pela presença de EC e/ou FR cardiovasculares, com a presença de doença agindo como um fator motivacional.  

Assim, o rastreio de DCV com EC em pacientes assintomáticos pode ter efeitos favoráveis no controle de FR cardiovasculares e na aderência medicamentosa, porém seu impacto em comportamentos relacionados a saúde ainda precisa ser mais bem avaliado, assim como seu efeito em desfechos clínicos.

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Referências bibliográficas

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