O câncer de mama é a principal neoplasia entre as mulheres e o diagnóstico e tratamento precoces levaram a aumento importante da sobrevida dessas pacientes. Porém, muitas vezes o tratamento tem potencial de cardiotoxicidade, com ocorrência de disfunção ventricular em até 30% das pacientes. A disfunção cardíaca relacionada com o tratamento oncológico é definida como função cardíaca alterada por toxicidade cardiovascular ao tratamento para o câncer e a manifestação mais comum é a de insuficiência cardíaca (IC).
A detecção precoce da disfunção cardíaca é crucial para melhorar os desfechos cardiovasculares e é baseada na avaliação da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), do strain longitudinal global (SLG) e dos biomarcadores cardíacos, como troponina e peptídeos natriuréticos. Estratégias efetivas de prevenção têm como alvo o monitoramento desses parâmetros e o manejo das alterações encontradas.
Diversos tratamento farmacológicos e não farmacológicos já foram testados e, nos últimos anos, têm aumentado o interesse por medidas como o exercício, que tem potencial cardioprotetor. Reabilitação cardio-oncológica já foi testada, porém, seus benefícios ainda não são bem documentados, já que na evidência ainda é escassa e de qualidade incerta.
Recentemente foi feita uma revisão sistemática e metanálise com objetivo de avaliar a eficácia de intervenções baseadas em exercício para disfunção cardíaca relacionada ao tratamento do câncer de mama e a avaliar a modalidade de exercício mais eficaz para sua prevenção.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi estudo de revisão sistemática e metanálise que incluiu estudos randomizados e controlados com mulheres de 18 anos ou mais diagnosticadas com câncer de mama e que tinham programação, estavam recebendo ou já tinham completado quimioterapia, terapia alvo, radioterapia, imunoterapia ou terapia endócrina.
Os estudos poderiam ter feito avaliação de qualquer intervenção com exercícios, tanto de forma isolada quanto associada a outras intervenções, sem restrição em relação ao grupo controle. Os desfechos primários eram a FEVE e o SLG e os desfechos secundários os valores de troponina e peptídeos natriuréticos.
Resultados
Foram incluídos 13 estudos com 1.122 pacientes na revisão sistemática e 10 estudos na metanálise. Onze dos estudos foram controlados e randomizados com dois grupos paralelos, um foi estudo clínico com 3 grupos e um com 4 grupos. Os tipos de tratamento variaram, sendo a quimioterapia o tratamento mais frequente, avaliado em 10 estudos.
Seis estudos (46,2%) avaliaram exercício aeróbico apenas, cinco (38,5%) avaliaram aeróbico com resistido e dois avaliaram exercícios aeróbicos e resistidos combinados na reabilitação cardio-oncológica.
O tempo de exercício, intensidade e frequência variaram, com tempo de exercício aeróbico entre 15 e 111 minutos por sessão e o mais comum era a frequência de 3x por semana. Em oito estudos o exercício era moderado a intenso e em três era intenso. A duração do estudo variou de 1 dia a 12 meses, sendo de 12 semanas em quatro estudos. A aderência ao exercício foi documentada em nove estudos e variou de 63,2% a 98,7%.
Três estudos tiveram boa qualidade e baixo risco de viés, sete tiveram algumas considerações em relação a seleção dos resultados relatados e alterações em relação a intervenção proposta e três estudos tiveram alto risco de viés por problemas na randomização e falta de informações.
Na metanálise, as intervenções baseadas em exercício melhoraram de forma significativa a FEVE (diferença média de 1,68) e o SLG (diferença média 1,40) comparado ao grupo tratamento padrão. Não houve diferença no desfecho secundário. A análise de subgrupos mostrou que a combinação de exercício aeróbico e resistido levou a melhora mais significativa comparado ao exercício aeróbico e o exercício na reabilitação cardio-oncológica.
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A análise conjunta na metanálise mostrou que exercício combinado levou a melhora da FEVE comparado ao tratamento padrão e foi o método mais efetivo, seguido de exercícios na reabilitação cardio-oncológica e por exercício aeróbico isolado. O SLG foi avaliado em seis estudos e o exercício combinado também levou a melhora significativa desta medida, seguido por reabilitação cardio-oncológica e exercício aeróbico isolado.
A avaliação geral dos estudos mostrou que a qualidade da evidência foi baixa, por alto risco de viés nas estimativas de comparação dos estudos. A imprecisão ocorreu por informações insuficientes para fornecer dados conclusivos e pela heterogeneidade entre os grupos intervenção e controle, com resultados diferentes dos intervalos de confiança e intervalos de predição.
Comentários e conclusão: Exercício e tratamento oncológico
Esta é a primeira metanálise que avaliou a efetividade do exercício físico na prevenção de disfunção cardíaca relacionada ao tratamento oncológico e mostrou efeitos benéficos na função cardíaca. A combinação de exercício aeróbico e resistido foi a que teve maior benefício e não houve alteração nos níveis e troponina e peptídeos natriuréticos.
Este estudo tem diversas limitações, como o tamanho da amostra muito variável entre os estudos, grupos heterogêneos e proporção maior de pacientes realizando exercício combinado, o que pode ter influenciado os resultados. Além disso, foram poucas as comparações diretas entre as intervenções e pelo pequeno número de estudos, a quantidade ideal de exercício aeróbico e resistido não pode ser determinada.
Assim, mais estudos controlados e randomizados são necessários para confirmar os resultados e benefício do exercício físico na prevenção de disfunção cardíaca associada ao tratamento oncológico. Porém, parece que esse tipo de intervenção é uma estratégia promissora para esse grupo de pacientes.
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