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Cardiologia14 outubro 2024

iSGLT2 previne cardiotoxicidade em pacientes com câncer e diabetes? 

Estudo avaliou se inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (iSGLT2) podem prevenir efeitos cardiotóxicos quimioterápicos

Os inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (iSGLT2), inicialmente desenvolvidos para tratamento de diabetes mellitus tipo 2 (DM2), se mostraram bastante eficazes no tratamento da insuficiência cardíaca (IC), independente da presença de DM2. Isso ocorre por mecanismos outros além da redução da glicemia. 

Vários tipos de tratamento quimioterápico podem levar à disfunção cardíaca, tanto sintomática quanto assintomática, chamada nesse contexto de cardiotoxicidade relacionada com tratamento do câncer, e sua ocorrência pode ter grande impacto, inclusive com suspensão do tratamento oncológico. Assim, diversas formas de prevenir a ocorrência da cardiotoxicidade já foram testadas e estudos pequenos e experimentais mostraram que parece haver algum benefício com o uso dos iSGLT2. 

Leia também: ACC 2024: Estudo EMPACT-MI avalia se há benefício de iSGLT2 pós-infarto

Recentemente foi publicado um estudo que avaliou o uso de iSGLT2 como forma de prevenção primária de cardiotoxicidade induzida pelo tratamento do câncer.   

iSGTL2 previne cardiotoxicidade em pacientes com câncer e diabetes? 

Imagem de freepik

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi estudo de coorte, retrospectivo, observacional que utilizou um banco de dados com informações de 110 milhões de pacientes dos Estados Unidos de 2013 a 2022. 

Foram incluídos pacientes adultos com DM2 e câncer expostos a quimioterápicos potencialmente cardiotóxicos, sem história prévia de IC ou cardiomiopatia. Os pacientes foram divididos em duas coortes baseadas no tratamento antineoplásico e exposição a iSGLT2. 

Os desfechos foram avaliados em 12 meses de seguimento e o desfecho primário de interesse foi cardiotoxicidade induzida pelo tratamento quimioterápico, considerada como nova IC ou cardiomiopatia ou necessidade de diurético endovenoso em qualquer momento dos 12 meses, após exclusão de doença isquêmica do coração como causa do quadro. 

Resultados 

Foram identificados 95.203 pacientes com as características descritas. Desses, 9.403 estavam em uso de iSGLT2 e 85.800 não. Após ajustes e realização do pareamento por escore de propensão, com objetivo de reduzir o viés, foram incluídos 8.675 pacientes em cada braço.  

Após os ajustes, as características de base dos pacientes em relação a características demográficas, comorbidades, medicações e valores laboratoriais foram semelhantes. As neoplasias mais comuns foram as de mama e gastrointestinais e os quimioterápicos mais frequentes foram os da classe das antraciclinas seguidos de anticorpos monoclonais. 

Em 12 meses de seguimento 646 (7,45%) pacientes do grupo que usou iSGLT2 e 948 (10,9%) do grupo que não usou desenvolveram cardiotoxicidade, com HR 0,76; IC 95% 0,69-0,84, p < 0,001. Houve redução de desfechos de forma significativa para a classe dos antracíclicos, anticorpos monoclonais, antimetabólitos, inibidores de tirosina quinase e alquilantes.  

Em relação aos iSGLT2, houve benefício maior da empagliflozina (HR 0,78; IC95% 0,70-0,87, p < 0,001) comparada a dapagliflozina (HR 0,93; IC95% 0,79-1,11, p =0,45) e canagliflozina (HR 0,92; IC95% 0,77-1,11, p=0,41). 

Análises de desfecho secundário também ocorreram menos no grupo iSGLT2 e foram descompensações de IC, mortalidade por todas as causas, internações ou consultas na emergência, fibrilação atrial ou flutter atrial novos e nova ocorrência de metástase. 

Comentários e conclusão: iSGLT2 e cardiotoxicidade 

Neste estudo retrospectivo, parece que a utilização de iSGLT2 por pacientes com câncer e diabetes teve efeito protetor na ocorrência de cardiotoxicidade induzida por quimioterápicos no seguimento de 12 meses. 

As medicações testadas nesse contexto, como inibidores do sistema renina angiotensina, betabloqueadores e antagonistas mineralocorticoides têm resultados conflitantes ou marginais. Recentemente um estudo com estatina mostrou benefício em pacientes que usaram antraciclinas em doses altas. 

Esse é o primeiro estudo que sugere benefício de iSGLT2 no contexto de quimioterapia com potencial de cardiotoxicidade, assim como o primeiro a mostrar benefício relacionado com quimioterápicos além das antraciclinas. O mecanismo protetor não é completamente entendido, mas parece envolver alterações no metabolismo celular, atenuação do estresse oxidativo alterações na resposta inflamatória. 

Baseado nesses resultados, estudos randomizados e controlados que avaliem o papel do iSGLT2 na cardiotoxicidade podem confirmar o benefício da medicação na prevenção primária desses pacientes.

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Referências bibliográficas

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