Eventos cardiovasculares no tétano: prevalência e fatores de risco

Tétano é uma doença infecciosa, não contagiosa, cujos sintomas são causados por neurotoxinas produzidas pela bactéria Clostridium tetani. Apesar de prevenível por vacina, casos continuam ocorrendo ao redor do mundo, caracterizando uma doença potencialmente fatal. Além dos sintomas e complicações clássicas relacionadas às contraturas musculares, a ocorrência de disautonomia e eventos cardiovasculares é frequente e um importante fator que contribui para óbito nos indivíduos acometidos pela doença.

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Um estudo publicado na Open Forum Infectious Diseases procurou avaliar a incidência, padrões e fatores de risco associados a eventos cardiovasculares em pacientes adultos com tétano.

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo de coorte com duração de 2 anos — 1 ano de acompanhamento retrospectivo e 1 ano de acompanhamento prospectivo — conduzido em um grande centro de referência para doenças infecciosas no Vietnã.

Resultados

Durante o período de estudo, foram identificados 629 pacientes hospitalizados com tétano, dos quais 30 tinham menos de 16 anos e 27 recusaram participação no estudo. Assim, 572 indivíduos foram incluídos, sendo 277 na parte retrospectiva e 295 na parte prospectiva.

A maioria dos participantes era homem e morava em áreas rurais. A média de idade foi de 53,5 anos. Menos da metade dos participantes tinha alguma comorbidade e somente 7 tinham histórico de vacinação ou profilaxia pós-exposição contra tétano.

A incidência de eventos cardiovasculares foi de 10,8% (IC 95% = 8,6 – 13,7%), com uma média de idade mais alta no grupo que apresentou eventos cardiovasculares em comparação com os que não apresentaram (61,5 vs. 52,6, respectivamente), assim como a proporção de pessoas com pelo menos 1 comorbidade e histórico de infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e hipertensão. Ao mesmo tempo, a proporção de indivíduos com sobrepeso no grupo que não apresentou eventos cardiovasculares em comparação aos que apresentarem. Não houve diferenças entre os grupos em relação ao sexo.

Quanto às características clínicas, mais de 90% dos 572 participantes apresentaram trismo, dificuldade para engolir e rigidez. As prevalências de espasmo laríngeo e muscular foram de 17,1% e 42,3%. Febre à admissão estava presente em aproximadamente 5%. A ocorrência de dispneia, rigidez e espasmo muscular foi maior — de forma estatisticamente significativa — no grupo que apresentou eventos cardiovasculares. Aproximadamente 60% dos pacientes necessitaram de ventilação mecânica, dos quais 98,4% apresentaram eventos cardiovasculares.

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A média do período de incubação (51,7 vs. 86 horas; p < 0,01) e de tempo para admissão hospitalar (3,3 vs. 4,4 dias; p = 0,04) foi significativamente menor no grupo que apresentou eventos cardiovasculares em relação aos que não apresentaram. Resultados semelhantes foram encontrados avaliando-se escores de gravidade como o SOFA nas primeiras 24 horas após a admissão (1 vs. 0; p < 0,01), score de Dakar (2,3 vs. 1,3; p < 0,01) e Tetanus Severity Score (11,3 vs. 3,1; p < 0,01). Quase todos os participantes desenvolveram tétano generalizado.

Foram identificados 62 indivíduos com eventos cardiovasculares, dentre os quais destacaram-se: cardiomiopatia de Takotsubo (25/62, 40,3%; IC 95% = 29,0 – 52,8%), arritmia (12/62, 19,4%; IC 95% = 11,4 – 30,9%), parada cardíaca súbita (10/62, 16,1%; IC 95% = 9,0 – 27,2%), infarto do miocárdio (7/62, 11,3%; IC 95% = 5,6 – 21,5%), insuficiência cardíaca (4/62, 6,5%; IC 95% = 2,5 – 15,4%), e embolismo pulmonar (4/62, 6,5%; IC 95% = 2,5 – 15,4%).

Na análise multivariada, presença de comorbidade (OR ajustada = 2,79; IC 95% = 1,23 – 6,35; p = 0,04), pontuações mais elevadas no escore modificado de Ablett (OR ajustada = 2,37; IC 95% = 1,03 – 5,47; p = 0,04), e sobrepeso (OR ajustada = 0,18; IC 95% = 0,04 – 0,8; p = 0,02) foram os únicos preditores para ocorrência de eventos cardiovasculares identificados no estudo.

Mensagens práticas

• A ocorrência de eventos cardiovasculares em pacientes com tétano é frequente, principalmente entre aqueles com doença mais grave.
• A vacinação é a principal medida de prevenção do tétano. Os autores associam à ampliação de cobertura vacinal no Vietnã a partir de 1981 e a introdução de um programa nacional para eliminação de tétano materno e neonatal com um aumento da vacinação em jovens e mulheres e o maior número de indivíduos mais velhos e de homens na coorte de pacientes com tétano.