ESC 2024 - Vutrisiran: uma nova medicação para cardiopatia amiloide
No primeiro dia do congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC-2024), foi apresentando o estudo HELIOS-B, que avaliou uma nova medicação para amiloidose transtirretina (ATTR), doença sistêmica e progressiva causada pelo acúmulo de proteína amilóide nos órgãos e acometimento frequente do coração.
Até o momento, a única medicação aprovada para amiloidose ATTR é o tafamidis, um estabilizador do tetrâmero transtirretina. Essa medicação leva a redução de mortalidade e internações por causa cardiovascular. Mas apesar disso, a mortalidade ainda é a falta e a qualidade de vida bastante prejudicada.
Assim, foi testada uma nova medicação, o vutrisiran, que atua por interferência no RNA e inibe a síntese hepática do RNA mensageiro da TTR, tanto na forma selvagem quanto na variante. Esta medicação já é usada para tratamento de amiloidose ATTR hereditária com manifestação de polineuropatia e algumas análises exploratórias mostraram possível benefício cardiovascular, o que levou a realização deste novo estudo.
Foi estudo internacional de fase 3, multicêntrico, duplo cego, randomizado, placebo-controlado que incluiu pacientes de 18 a 85 anos com diagnóstico de cardiopatia amiloide ATTR nas formas selvagem ou variante. O diagnóstico era feito por biópsia ou cintilografia específica na ausência de gamopatia monoclonal. A evidência de envolvimento miocárdico era obtida por ecocardiograma e deveria haver história de insuficiência cardíaca (IC).
Os pacientes poderiam estar recebendo tafamidis ou não e eram randomizados para receber vutrisiran na dose de 25mg ou placebo, por via subcutânea, a cada 12 semanas por período de até 36 meses.
O desfecho primário foi avaliado na população total e separadamente em quem estava em uso de tafamidis ou não e era composto por morte por qualquer causa ou eventos cardiovasculares recorrentes (internação ou procura de atendimento por IC).
O estudo HELIOS-B
Foram randomizados 655 pacientes em 26 países, sendo 326 para o grupo intervenção e 329 para o grupo placebo. Em cada grupo, 60% dos pacientes não estavam em uso de tafamidis. Desses, 22% do grupo vutrisiran e 21% do grupo controle iniciaram tafamidis durante esse estudo.
As caraterísticas de base eram semelhantes entre os grupos, exceto pelo NT-proBNP e troponina I, que eram maiores no grupo vutrisiran comparado ao placebo. A idade média geral era 77 anos, a maioria eram homens (93%) com amiloidose ATTR forma variante (88%) e 78% tinha classe funcional da New York Heart Association (NYHA) II.
Tanto nos que usavam tafamidis quanto nos que não usavam, o tratamento com vutrisiran reduziu o desfecho primário em 28% na população total (HR 0,72; IC 95% 0,56-0,93; p=0,01) e em 33% nos que não usaram tafamidis (HR 0,67; IC95% 0,49-0,93; p=0,02). Esse benefício foi consistente na avalição dos componentes individuais do desfecho primário. Na avaliação ao longo do tempo, houve benefício maior a partir de 6 meses de uso da medicação, já esperado.
Em relação aos desfechos secundários, a medicação também reduziu mortalidade por todas as causas em 42 meses, melhorou a distância de caminhada no teste de caminhada de 6 minutos e melhorou qualidade de vida e sintomas. A ocorrência de eventos adversos foi semelhante entre os grupos.
Este estudo mostrou benefício em mortalidade e redução de internações com uso do vutrisiran por pacientes com cardiopatia amiloidose ATTR, tanto nos pacientes que usavam tafamidis quanto nos que não usavam. Houve também melhora de capacidade funcional e da qualidade de vida e de sintomas e muito provavelmente esta medicação também deverá passar a ser opção terapêutica para pacientes com cardiopatia amiloide.
Confira todos os destaques do ESC 2024!
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