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Cardiologia31 agosto 2024

ESC 2024: Afinal, qual o melhor horário para tomar anti-hipertensivos? 

Estudos compararam tratamentos anti-hipertensivos diurnos e antes de dormir quanto ao efeito pressórico e ao MACE.

A pressão arterial (PA) normalmente cai durante a noite (sono) e, quando alta neste período, implica maior risco de infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC) do que quando elevada no período diurno. Nesse contexto, foram realizados estudos comparando tratamentos anti-hipertensivos diurnos e antes de dormir (“cromoterapia”) quanto ao efeito pressórico e aos desfechos cardiovasculares maiores – MACE (morte, AVC e IAM).  Nos trials MAPEC (2010) e Hygia (2019) foi demonstrado redução de MACE de 61 e 45%, respectivamente. Já no estudo TIME (2022), não houve diferença entre os horários de tomada da medicação.  Assim, três estudos apresentados no Congresso europeu de cardiologia (ESC) de 2024, BedMed, BedMed-Frail e uma metanálise com diversos estudos sobre o tema (incluindo esses últimos), buscaram avaliar possíveis diferenças de eficácia terapêutica em relação ao horário da tomada das medicações para hipertensão arterial. 

Qual o anti-hipertensivo ideal para pacientes com doença renal crônica (DRC) avançada? 

BedMed e BedMed-Frail 

São estudos-irmãos com o mesmo desenho, randomizados e controlados com dois grupos, medicação anti-hipertensiva de manhã versus antes de dormir, com desfecho primário composto de morte ou hospitalização por síndrome coronariana aguda (SCA), AVC e insuficiência cardíaca (IC).  

O BedMed avaliou 3357 pacientes hipertensos geral e o desfecho secundário foi de fraturas, declínio cognitivo e novo diagnóstico de glaucoma. Já o BedMed-Frail avaliou 776 pacientes residentes em instituições de longa permanência (múltiplas comorbidades e frágeis, sendo a taxa de demência de ~82%) e o desfecho secundário foi fraturas, declínio cognitivo e úlcera de pressão. 

Os estudos demonstraram ausência de diferença quanto a melhora ou piora de MACE no que diz respeito ao horário de tomadas das medicações. Não houve diferença quanto aos desfechos secundários nos dois estudos. 

Desfecho primário BedMed: HR 0.96 (IC95% 0.77-1.19) 

Desfecho primário BedMed-Frail: HR 0.88 (IC95% 0.71-1.11) 

Metanálise (Meta-analysis of blood pressure-lowering medication timing trials) 

Revisão sistemática de trials publicados sobre o tema, seguida de avaliação sistemática de possíveis vieses nos estudos. Foram incluídos 5 grandes ensaios clínicos, todos reportando pelo menos um evento de interesse e seguimento de pelo menos 500 pacientes-ano, resultando em 46 mil pacientes.  O desfecho primário foi MACE (composto de morte por todas as causas, IAM, AVC, IC aguda ou como definido em cada trial) e os desfechos secundários foram os eventos do primário individualmente e hospitalizações não planejadas. Desfechos de segurança foram: fraturas, declínio cognitivo e novo diagnóstico de glaucoma. Foi feita uma análise estatística inicial com todos os dados, seguida de uma análise de heterogeneidade dos estudos e risco de viéses.  

Na análise inicial com os cinco estudos, não houve diferença significante entre os tratamentos para o desfecho primário (HK 0.71, [0.43-1.16], heterogeneidade: i² = 94% e t² = 0.1465), sem diferença também quanto aos desfechos secundários. Nos estudos Hygia e MAPEC os grupos medicação noturna eram compostos de pelo menos uma medicação antes de dormir e não exclusivamente neste horário, sendo um viés considerável e pela análise inicial e demonstraram alto risco de viés.  

Na análise secundária, apenas com os três estudos com baixo risco de viés (TIME, BedMed e BedMed-Frail), também não houve diferença estatística entre os tratamentos para o desfecho primário (HK 0.94, [0.85-1.04], heterogeneidade: i² = 0% e t² = 0), bem como para os secundários. 

Diante de estudos randomizados e de metanálise com avaliação crítica de possíveis viéses, pode-se concluir que o tratamento anti-hipertensivo em uma tomada diária, pode ser realizado a qualquer hora do dia, de acordo com o que se adeque a realidade e conforto do paciente, desde que ele tenha boa aderência à terapia anti-hipertensiva. 

Confira todos os destaques do ESC 2024! 

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