Geralmente a disfunção ventricular esquerda leva a hipertensão pulmonar (HP) e disfunção ventricular direita, o que contribui para o desenvolvimento da insuficiência tricúspide (IT) funcional. Essa alteração é encontrada em até um terço dos pacientes com valvopatia mitral ou aórtica e é grave em 8%, moderada em 32% e leve em 62%. Não há dúvida sobre o tratamento da IT grave, porém o manejo da IT moderada é bastante variado e não completamente estabelecido.
Quando o paciente é submetido a cirurgia de correção valvar mitral ou aórtica e tem IT funcional moderada, a correção da valvopatia esquerda frequentemente reduz a HP, melhora a hemodinâmica do ventrículo direito (VD) e a IT. Porém, parece que a correção cirúrgica da IT, no mesmo procedimento, melhora a função do VD e reduz a necessidade de intervenção posterior.
Diversos estudos já foram realizados para tentar definir a melhor conduta, porém com variações em relação ao grau de IT e desfechos. Recentemente, foi publicada uma metanálise sobre esse assunto, com objetivo de avaliar a melhor evidência para reparo valvar tricúspide (RVT) em pacientes com IT funcional moderada submetidos a correção valvar mitral ou aórtica em relação a desfechos do intraoperatório e pós-operatório precoce.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi feita busca sistemática de estudos que compararam desfechos de cirurgias aórtica ou mitral com ou sem reparo valvar tricúspide para IT funcional moderada.
O desfecho primário era mortalidade (por todas as causas e cardíaca) e taxas de acidente vascular cerebral (AVC) no pós-operatório.
Resultados
Foram selecionados 36 estudos publicados entre 2005 e 2024, com inclusão de 76249 pacientes. Desses, 14.765 realizaram reparo valvar tricúspide e 61484 não realizaram. As idades médias eram 61,9 e 61 anos, a relação sexo masculino:feminino 4:5 e 6,5:5 nos respectivos grupos.
A mortalidade por todas as causas foi semelhante entre os grupos, com heterogeneidade significativa entre os estudos. Já a mortalidade cardíaca foi significativamente menor no grupo que realizou reparo valvar tricúspide, sem heterogeneidade significativa. O grupo que realizou o procedimento também teve menores graus de IT no pós-operatório e não houve diferença em reoperação, fibrilação atrial, infecção, insuficiência renal, AVC e taxa de internação ou tempo de internação em UTI.
Comentários e conclusão: correção da insuficiência tricúspide (IT) funcional
Apesar das limitações, como a presença de grande heterogeneidade de alguns parâmetros, este estudo incluiu grande número de pacientes e reforçou os achados de que a intervenção na valva tricúspide não aumentou morbidade dos pacientes operados e levou a redução de morte cardíaca.
Um estudo prospectivo, controlado e randomizado seria o ideal para estabelecer de forma mais definitiva o valor da intervenção valvar tricúspide no tratamento de IT funcional moderada.
Autoria

Isabela Abud Manta
Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.
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