No primeiro dia do Congresso da American Heart Association (AHA 2025), foram apresentados alguns trabalhos que avaliaram pacientes com fibrilação atrial (FA), na tentativa de esclarecer dúvidas do nosso dia a dia. Uma delas é em relação a manutenção da anticoagulação para FA em pacientes submetidos a ablação por cateter.
Pacientes que realizam ablação com sucesso geralmente tem a recomendação de manter anticoagulação indefinidamente, porém isto vem de poucos estudos pequenos e não randomizados. Baixa carga de FA tem relação com baixa ocorrência de eventos embólicos, porém há dúvidas se seria seguro suspender a anticoagulação no contexto da pós ablação com sucesso.
Assim, foi feito o estudo OCEAN, que teve como objetivo avaliar se a anticoagulação com rivaroxabana seria superior a aspirina na redução do risco de acidente vascular cerebral (AVC), embolia sistêmica ou AVC embólico oculto após ablação de FA com sucesso.
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Métodos do estudo e população envolvida
Foi estudo multicêntrico, internacional, prospectivo, randomizado, aberto, porém cego em relação ao desfecho. Os critérios de inclusão eram ter sido submetido a a ablação com sucesso há pelo menos um ano, com evidência de ausência de arritmia maior que 30 segundos em pelo menos um holter de 24 horas entre 2 e 6 meses pós procedimento e em holter pós 6 meses do procedimento. Além disso, deveriam ter um holter de 48 horas dois meses pré inclusão no estudo. O CHA2DS2-VASc deveria ser ≥ 1, ≥ 2 se sexo feminino ou doença vascular.
Os pacientes foram randomizados para receber rivaroxabana na dose de 15mg ou aspirina na dose de 70 a 120mg. Todos realizaram ressonância cerebral no início do estudo e após 3 anos e o desfecho primário era composto por AVC, embolia sistêmica ou novo AVC oculto detectado por ressonância cerebral após 3 anos.
Resultados
O estudo foi interrompido precocemente pois os dados iniciais mostraram alta probabilidade de ausência de benefício da rivaroxabana no desfecho primário, além de maior risco de sangramento.
Foram incluídos no total 1284 pacientes, com características semelhantes entre os grupos: idade média de 66,3 anos, 71,4% do sexo masculino, pouco mais de 65% tinham FA paroxística, o CHA2DS2-VASc médio foi de 2,2 e o HAS-BLED de 1,4.
O desfecho primário foi semelhante entre os grupos, com ocorrência semelhante de AVC, embolia sistêmica e AVC oculto. A taxa anual desses eventos foi muito baixa, o que sugere que talvez a carga de FA após o procedimento tenha se tornado semelhante à da população sem FA.
Sangramento fatal e sangramento maior também foram semelhantes entre os grupos, porém sangramento não maior clinicamente relevante e sangramento menor ocorreram mais no grupo rivaroxabana.
Comentários e conclusão
Esse estudo mostrou que rivaroxabana não reduziu a ocorrência de AVC, embolia sistêmica e AVC oculto comparado a aspirina e a taxa de ocorrência desses eventos foi bastante baixa nos dois grupos. A ocorrência de sangramento maior foi semelhante nos grupos, porém sangramento clinicamente relevante e menor ocorreram com maior frequência no grupo rivaroxabana.
Estes resultados sugerem que após ablação de FA com sucesso, tanto anticoagulação quanto aspirina, podem ser considerados, porém com um risco maior de sangramento com anticoagulação. Os resultados encontrados neste estudo ainda não levam a uma conclusão definitiva e não podem ser generalizados para todos os pacientes com FA submetidos a ablação, já que os pacientes tinham risco moderado de eventos tromboembólicos.
Confira a cobertura completa do AHA 2025!
Autoria

Isabela Abud Manta
Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.
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