Quais são as novas aplicações estéticas e terapêuticas da toxina botulínica?
A toxina botulínica (BTX) é derivada do bacilo gram positivo anaeróbio Clostridium botulinum. Foi isolada inicialmente em 1946, por Edward Shantz, e em 1979 aprovada para uso clínico, inicialmente para tratamento do estrabismo, e posteriormente (2003) para fins estéticos. Atualmente 7 subtipos de BTX são descritos, sendo o subtipo A (BTXA) o mais potente e amplamente utilizado clinicamente. Seu mecanismo de ação consiste no bloqueio da liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, promovendo paralisia flácida.
Nas últimas décadas houve ampla expansão das aplicações clínicas e estéticas da BTXA. A seguir detalhamos os avanços mais recentes na área.
Veja mais: Procedimentos estéticos: o quanto seguir com o pedido do paciente? [vídeo]
Qualidade de pele
O tratamento de rugas faciais dinâmicas com injeções intramusculares de toxina é um dos usos mais consagrados da toxina, porém estudos recentes têm demonstrado que a aplicação intradérmica de toxina diluída, denominada microtoxina, promove atrofia de glândulas sebáceas locais e subcisão entre pele e músculo por meio do relaxamento de fibras musculares superficiais. Esse efeito melhora o controle local de sebo, reduz flacidez cutânea e diminui poros, o que otimiza a qualidade global da pele, promovendo efeito lifting sem alterar a mímica facial. Além da melhora estética, microdoses de toxina têm sido usadas no tratamento de patologias como rosácea e acne vulgar com resultados satisfatórios.
Alopecia
Caracterizada pela rarefação ou interrupção do ciclo capilar, a alopecia pode ter várias causas. Uma das etiologias mais comuns está relacionada à sensibilidade de folículos capilares a hormônios como a dihidrotestosterona, sendo conhecida como alopecia androgenética (AAG). Aplicações de BTXA na musculatura do couro cabeludo têm demonstrado eficácia no tratamento de AAG, promovendo melhora do crescimento e qualidade capilar. Esse efeito está possivelmente relacionado ao relaxamento de músculos do escalpo, o que reduz a pressão em vasos perfurantes e otimiza o fluxo sanguíneo para os folículos.
Prevenção e tratamento de distúrbios cicatriciais
A cicatrização de feridas é um processo complexo em que células interagem em diferentes etapas (inflamatória, proliferativa e de maturação) para reestabelecer a integridade cutânea. Fatores definidores de uma cicatrização satisfatória são o controle adequado de mecanismos inflamatórios, da proliferação de fibroblastos e do remodelamento das fibras de colágeno. Nesse contexto, tem-se observado que a aplicação de BTXA pode miomodular a região que circunda a ferida, reduzindo a tensão local, o que melhora a cicatrização. Estudos recentes avaliaram aplicação de toxina em baixas doses no entorno da cicatriz no pós-operatório imediato, obtendo resultados estéticos mais satisfatórios.
Patologias cicatriciais decorrentes de hiperproliferação de fibroblastos e desorganização das fibras de colágeno, como cicatrizes hipertróficas e queloides, também podem ser tratadas com aplicações sequenciais de BTXA com bons resultados e sem os efeitos colaterais das injeções de corticoides, como atrofia cutânea.
Leia mais: Como realizar anestesia local em cirurgia plástica
O que levar para casa
Compreender que a ação da BTXA não se restringe apenas à modulação neuromuscular, mas também ao reflexo dessa atuação em tecidos adjacentes como pele e glândulas tem nos possibilitado expandir sua aplicabilidade para fins estéticos, como skin quality, e terapêuticos, como tratamento de alopecia androgenética, acne vulgar, rosácea e cicatrizes patológicas. Embora os resultados iniciais desses usos sejam promissores, ainda carecemos de análises mais robustas que possibilitem padronização de doses, intervalos de aplicação, assim como efeitos a longo prazo desses tratamentos.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.