A sepse é definida como uma disfunção orgânica com risco de vida, causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção. Embora sua incidência exata seja desconhecida, estima-se que seja uma das principais causas de mortalidade global. O principal diferencial entre sepse e uma infecção comum está na resposta aberrante ou desregulada do organismo associada à presença de disfunção orgânica.
De acordo com o consenso Sepse-2, os critérios de diagnóstico envolviam a síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS), que incluía:
- Temperatura > 38°C ou < 36°C
- Frequência cardíaca > 90/min, frequência respiratória > 20/min ou PaCO2 < 32mmHg
- Contagem de leucócitos > 12000/mm³ ou < 4000/mm³
Porém, a SIRS foi considerada inespecífica, e o consenso Sepse-3 passou a definir a sepse com base em uma alteração aguda no escore SOFA total, com pontuação ≥ 2, associada a um processo infeccioso.
Tratamento inicial e o papel dos glicocorticoides
A identificação precoce da sepse é fundamental para um melhor desfecho clínico. O tratamento inicial consiste no início rápido de terapia antimicrobiana de amplo espectro (preferencialmente dentro da primeira hora), associado ao suporte hemodinâmico com reexpansão volêmica por cristaloides. Em casos de choque séptico refratário à expansão volêmica, recomenda-se o uso de vasopressores como agentes de primeira linha.
Os glicocorticoides surgiram como terapia adjuvante para sepse no século XX. Embora amplamente utilizados na prática clínica, ainda existem controvérsias sobre sua eficácia. Estudos demonstram que os corticoides não reduzem a mortalidade em 28 dias, mas apresentam benefícios como:
- Redução no tempo de reversão do choque séptico
- Aumento dos dias sem vasopressores e ventilação mecânica
- Impacto no tempo de internação hospitalar
- Entretanto, também estão associados a eventos adversos, como hiperglicemia e hipernatremia.
Insuficiência adrenal relativa (CIRCI)
Um conceito debatido na sepse é a insuficiência adrenal relativa, também conhecida como CIRCI (insuficiência de corticosteroides relacionada à doença crítica). Em casos de sepse, as citocinas pró-inflamatórias suprimem a resposta do cortisol e competem com a função glicocorticoide intracelular, levando à falência de órgãos e resistência à terapia vasopressora.
A diretriz europeia recomenda o uso de corticoides em:
- Choque séptico refratário a fluidos e vasopressores
- Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) moderada a grave
- Pneumonia bacteriana comunitária grave
Considerações finais
Embora existam benefícios com o uso de glicocorticoides na sepse, SDRA e pneumonia grave, é necessário ponderar os riscos associados, como infecções secundárias, sangramentos gastrointestinais e distúrbios metabólicos. O uso contínuo de corticoides em doentes críticos ainda requer mais estudos, especialmente para compreender os mecanismos fisiopatológicos e identificar os subgrupos de pacientes que mais se beneficiam dessa terapêutica.
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