A hemorragia intracerebral (HIC) espontânea representa 10–15% dos AVCs, com mortalidade de até 40% em 30 dias e baixa taxa de independência funcional após um ano. Apesar dos avanços no AVC isquêmico, a HIC permanece subtratada pela ausência de protocolos padronizados. O Code-ICH, um protocolo estruturado baseado em bundles com foco em intervenções padronizadas e métricas temporais bem definidas, foi proposto com foco em minimizar a expansão do hematoma e melhorar desfechos funcionais.
A expansão do hematoma ocorre nas primeiras 3 horas e está associada a piores desfechos. O manejo inicial deve priorizar TC rápida, avaliação laboratorial e reversão da anticoagulação, além do controle rigoroso da PA.
Saiba mais: Cirurgia mínima invasiva no tratamento de hemorragia intracraniana supratentorial
Metodologia
As principais medidas iniciais, baseadas no consenso atual e nas diretrizes internacionais, incluem:
- Neuroimagem urgente:
- Realizar tomografia computadorizada de crânio sem contraste para confirmar o diagnóstico, avaliar o volume e a localização do hematoma, além de descartar outras causas e identificar complicações como hidrocefalia ou herniação.
2. Prevenção e manejo de hipertensão intracraniana (HICr):
- Elevar a cabeceira a 30°, manter normovolemia, normoglicemia e normotermia. Considerar medidas adicionais como sedação, osmoterapia (manitol ou solução salina hipertônica) e, em casos selecionados, drenagem ventricular externa.
- Redução agressiva e precoce da pressão arterial sistólica (PAS)
- A maioria da expansão hematoma ocorre nas primeiras 2–3 horas.
- Recomenda-se alvo de PAS em torno de 140 mmHg, evitando reduções excessivas e rápidas. Sustentar por 24 horas. Evitar queda abrupta (>60 mmHg).
- Deve ser iniciado em até 30 min do atendimento e atingir alvo em até 60 min.
- Evidências do INTERACT-3 (Lancet, 2023) e outras mostram melhora de desfechos com controle precoce e sustentado com redução da incapacidade em 6 meses.
- Para pacientes com pressão arterial sistólica (PAS) >220 mmHg, recomenda-se infusão intravenosa contínua de anti-hipertensivos e monitorização rigorosa.
- A magnitude ideal de redução da PAS nas primeiras 2 horas parece ser de 55–85 mmHg, equilibrando benefício funcional e risco de lesão renal aguda.
- Reversão rápida da anticoagulação
- A HIC associada a anticoagulantes (AAICH) tem piores desfechos e maior mortalidade.
- O estudo INCH demonstrou menor expansão hematoma com normalização rápida do INR.
- Meta: Iniciar em até 30 minutos da chegada.
- Uso de agentes específicos: idarucizumabe para dabigatrana, andexanet para inibidores do fator Xa, ou complexo protrombínico quando não disponível.
- Tempo-dependente; atrasos impactam negativamente os desfechos.
- Intervenção cirúrgica precoce
- A cirurgia minimamente invasiva (CMI), como demonstrado no MISTIE III (Lancet,2019) e em estudos subsequentes, reduz mortalidade e melhora desfechos funcionais se realizada precocemente (<24h) e com volume residual de hematoma <15 mL.
- A avaliação neurocirúrgica deve ocorrer idealmente em até 60 minutos após a chegada.
- Indicações para consulta: HIC supratentorial >20 mL, hematomas cerebelares, obstrução ventricular / HIC com hidrocefalia, Glasgow <14, idade biológica com mRS basal ≤2.
- Controle glicêmico
- Objetivo: 110–140 mg/dL (não diabéticos) ou 140–180 mg/dL (diabéticos), evitando hipoglicemia.
- A hiperglicemia está associada a maior mortalidade e edema perilesional e a hipoglicemia pode agravar dano neurológico.
- Meta: manter glicemia na faixa-alvo em ≥90% das medições nas primeiras 72h.
- Controle de temperatura
- Temperatura >37,5 °C deve ser tratada com antipiréticos com meta de normotermia em até 1h.
- Monitoramento a cada 4h por 7 dias é recomendado.
- Hipertemia se associa a expansão hematoma e pior prognóstico.
Conclusão
O Code-ICH redefine o manejo da HIC como uma emergência tratável e tempo-dependente, oferecendo uma abordagem estruturada, baseada em bundles de cuidado e evidências robustas. A adoção sistemática desse modelo tem potencial de melhorar significativamente a recuperação funcional e reduzir mortalidade e combater desigualdades no cuidado.
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