Sepse na emergência: Sistemas de alerta eletrônicos podem reduzir a mortalidade?
A evolução satisfatória da sepse está atrelada à rapidez com que o seu diagnóstico é firmado e da pronta instituição de tratamento apropriado, metas que demandam protocolos institucionais claros e práticos, além do entrosamento das equipes multiprofissionais envolvidas na assistência.
O principal componente do tratamento é, sem dúvidas, a antibioticoterapia precoce, preferencialmente na 1ª hora de reconhecimento da sepse, somada às medidas suportivas e ao saneamento de focos infecciosos fechados. O reconhecimento da sepse, contudo, depende da sensibilidade diagnóstica da equipe de saúde da ponta do cuidado, muitas vezes alocada no setor de triagem dos departamentos de emergência, um ambiente frequentemente tumultuado pela grande demanda.
Um sistema de alerta automatizado de sepse, aplicado à emergência, poderia ampliar a sensibilidade do reconhecimento da sepse e viabilizar a abertura mais precoce de protocolos, minimizando o intervalo até a tomada de condutas.
Análise recente sobre sistemas de alerta de sepse
Em revisão sistemática e meta-análise publicada por Kim e colaboradores em julho de 2024 no JAMA Networking Open, foi avaliada a associação entre os sistemas de alerta de sepse nas emergências e desfechos relevantes como mortalidade, internação em UTI e aderência aos protocolos institucionais, que incluíram as hemoculturas, dosagem de lactato, administração de antibióticos e fluidos.
A busca da literatura contemplou um período de mais de duas décadas e identificou 179 estudos elegíveis, entre os quais 22 foram incluídos, totalizando quase 20.000 pacientes, metade alocados ao sistema de alerta e metade ao grupo controle.
As modalidades dos sistemas de alerta foram variadas, incluindo, em sua maioria, inserções automatizadas em prontuários eletrônicos (12 estudos), bem como avisos em telões ou quadros de avisos, os dois últimos mais dependentes das ações humanas.
Todos os estudos foram de natureza observacional, por exceção de um único prospectivo e randomizado. Apesar da ampla janela temporal contemplada, 17 estudos foram realizados após o ano de 2016, por ocasião da nova definição do sepse e implementação do escore de triagem qSOFA.
A mortalidade geral por sepse dos pacientes provenientes da emergência foi de 14%, tendo sido reduzida em 19% (IC 95%: 9% a 29%) no grupo exposto aos sistemas de alerta, além de discreta queda no tempo de permanência hospitalar (-0,15 dia). Entretanto, não houve diferença na taxa de internação em UTI.
A aderência aos protocolos institucionais foi ampliada com a utilização dos sistemas eletrônicos (não tendo sido observado o mesmo efeito com os sistemas não eletrônicos):
Itens | Ganho de adesão |
Início de antibioticoterapia | +52% |
Redução do tempo até o antibiótico | -20 minutos |
Mensuração do lactato | +81% |
Coleta de hemoculturas | +18% |
Administração de fluidos | +11% |
Há algumas limitações importantes na revisão: primeiramente, a maioria dos estudos foi observacional e os desenhos não se dedicaram à testagem da estratégia de sistemas de alerta contraposta aos grupos controle. Houve heterogeneidade nas definições de sepse e nos protocolos institucionais analisados, e uma importante medida suportiva foi negligenciada: a terapia vasopressora.
Mensagens práticas
- Os sistemas de alerta eletrônicos de sepse nas emergências, acoplados aos prontuários eletrônicos, podem auxiliar na aderência aos protocolos institucionais e repercutir positivamente sobre a mortalidade.
- Apesar da inferência de grande plausibilidade e segurança da ferramenta, é recomendada a sua testagem em estudos clínicos prospectivos randomizados antes de considerá-la um item obrigatório na análise da qualidade da assistência hospitalar.
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