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Terapia Intensiva17 dezembro 2024

Inquérito sobre definições da síndrome de hipertensão intra-abdominal 

Artigo trouxe o resultado de questionário feito com especialistas sobre síndrome de hipertensão intra-abdominal e de compartimento abdominal

A síndrome de hipertensão intra-abdominal (HIA) e de compartimento abdominal (SCA) tiveram suas definições em meados da década de 2000, após um estudo seminal de definição de método de medida (através de cateter vesical), sintomatologia, fatores de risco e prognóstico, em pacientes de UTIs de 20 países (Malbrain et al, Intensive Care Med 2004 e Crit Care Med 2005). Logo após, criou-se uma sociedade internacional para ampliar o conhecimento da síndrome através de pesquisa e promover o conhecimento mundial dos seus conceitos – World Society of Abdominal Compartment Syndrome (WSACS). Esta sociedade formulou consenso sobre definições, fisiopatologia, diagnóstico e manuseio da SCA em 2006 e revisado em 2013.  

  • Pressão intra-abdominal (PIA): a medida da PIA deve ser um parâmetro vital na avaliação de pacientes críticos, principalmente pacientes com fatores de risco, como choque séptico, cirurgia ou trauma abdominal, ascite, insuficiência renal descompensada; 
  • Método de medida: o método via bexiga urinária é o padrão-ouro para a medida da PIA devido à sua praticidade e custo-benefício; o nível de normalidade é até 12 mmHg; 
  • Classificação da HIA: graus I (leve, até 15 mmHg), II (moderado, até 20 mmHg) e III (grave, até 25 mmHg) e IV (síndrome de compartimento abdominal, com nível acima de 25 mmHg); o paciente pode ter sintomatologia de compartimento mesmo com níveis menores, dependendo do quadro clínico de disfunções orgânicas; 
  • A HIA pode acarretar disfunção de múltiplos órgãos e está associada ao aumento de mortalidade em pacientes críticos; 
  • Uma série de medidas de prevenção e tratamento devem ser realizadas, desde alívio de distensão abdominal com cateterização gástrica ou medicamentos, até a descompressão abdominal em casos de SCA; 
  • Monitoramento: pode ser contínuo ou intermitente em pacientes de alto risco, como aqueles com abdome agudo, trauma abdominal e grandes cirurgias. 

Alguns inquéritos já foram realizados e mostraram que o conhecimento do consenso e mesmo da síndrome ainda é baixo entre os profissionais de saúde, mesmo médicos que atuam no hospital, como intensivistas e cirurgiões (entre 28% e 60%). E há ainda pontos de controvérsia ou desconhecimento, como a utilidade da medida de PIA em pacientes sentados ou com cabeceira elevada, em pacientes com respiração espontânea ou com ventilação não-invasiva. 

Os autores realizaram um questionário e enviaram a uma lista de associados da WSACS e mais profissionais interessados em pesquisa no tema, ao redor do mundo. A divulgação foi realizada entre Março de 2022 e Julho de 2023. A concordância das 43 respostas tinha de ser maior que 80% para haver conclusão da recomendação. 

Resultados

Ao todo, 1.042 respondentes de 102 países enviaram o questionário completo. Médicos (71%) foram os profissionais que mais enviaram respostas, sendo residentes (5%) e intensivistas (47%). Um pouco mais da metade se disse conhecedor do consenso WSACS de 2013 (53%), sendo que metade destes era membro da sociedade. Mas 41% não conhecia o consenso e não usava as definições na prática do dia a dia da UTI! 

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Os pontos de maior discordância foram os seguintes: 

  • PIA normal deve ser até 10 mmHg em adultos críticos (77%); 
  • avaliação e estimativa clínica de PIA não tem acurácia suficiente (65,2%); 
  • medida por cateter intragástrico é alternativa à medida intravesical (70,4%); 
  • medida de PIA em posição deitada deve ser repetida em posição supina (71,9%). 

Perguntas sobre fisiopatologia tiveram alta concordância (acima de 90%), principalmente sobre níveis de pressão, avaliação de perfusão, alterações fisiológicas renais e respiratórias. Novidades sobre as definições incluíram a HIA hiperaguda (como na tosse), aguda (ocorre em horas), subaguda (em dias) e crônica (em semanas ou meses) foram bem aceitas, assim como a manutenção do limiar de 12 mmHg para a PIA normal. O manuseio clínico e cirúrgico da HIA e SCA também se mantiveram com as recomendações antigas, exceto a afirmação de tentar o fechamento da cavidade abdominal em 1 semana nos casos cirúrgicos. 

O resultado mais inusitado, porém, foi a pergunta se a WSACS deveria continuar ou não: 68% votou por manter a sociedade, mas quase 10% afirmou que ela deveria acabar ou ser parte de outra sociedade, como de cirurgia por exemplo. Ainda houve grupo de 22% de indecisos. Este fato talvez reproduza a parcial aceitação da síndrome e das recomendações do consenso de 2013 e sua renovação atual: não há unanimidade para este tema nas áreas de Medicina Intensiva e Cirurgia Geral. 

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Mensagens para o dia a dia: 

  • Existe um consenso para as definições e o manuseio da síndrome de hipertensão intra-abdominal (HIA) e de compartimento abdominal (SCA), mas ainda existe uma boa parcela de médicos que não estão cientes da sua existência e mesmo não o aplicam na prática; 
  • A classificação da HIA está mais detalhada e influencia o manuseio clínico e cirúrgico da síndrome, que pode acarretar síndrome de disfunção orgânica múltipla e morte.

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Referências bibliográficas

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