O congresso EUROBRAZIL, evento colaborativo entre a AMIB e a ESICM, ocorreu nos dias 25 e 26, em São Paulo, e discutiu temas importantes na medicina intensiva. No segundo dia de congresso, houve uma sessão de ventilação mecânica acerca o tema de monitoramento pulmonar avançado.
A Dra. Alessandra Thompson, do Rio de Janeiro, falou sobre assincronias associadas à ventilação mecânica e métodos para identificá-las.
As assincronias são comuns em pacientes submetidos à ventilação mecânica, especialmente na ventilação assistida, tendo uma incidência variável entre 4% a 40%, dependendo dos métodos diagnósticos utilizados.
Apesar de frequentes, são frequentemente subdiagnosticadas, o que é preocupante devido ao seu impacto negativo potencial, como o aumento do tempo de ventilação mecânica, maior permanência na terapia intensiva, aumento da mortalidade, maior incidência de traqueostomia e falha na extubação.
O diagnóstico é desafiador e envolve a análise das curvas de pressão, fluxo e volume no ventilador beira-leito.
É fundamental não apenas analisar as curvas, mas também observar o paciente diretamente para avaliar o drive ventilatório e o esforço respiratório.
Métodos avançados para detecção incluem:
Pressão esofagiana
Permite detectar e quantificar o esforço ventilatório do paciente. É um método invasivo, pouco disponível na prática clínica diária, e requer calibração e treinamento para interpretação.
Atividade elétrica diafragmática (NAVA)
Utiliza um cateter com eletrodos para captar a atividade elétrica do diafragma. Sincroniza o ventilador com o início e término da respiração baseado na contração diafragmática, não em pressão ou fluxo.
É bastante útil em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica e miopatias graves para detectar esforços ineficazes.
Modos ventilatórios automatizados e machine learning
Existem modos ventilatórios que auxiliam na detecção e quantificação das assincronias, e algoritmos de inteligência artificial podem detectar assincronias com alta sensibilidade e especificidade (~90%).
Ultrassom pulmonar
Este tópico foi abordado pela Dra. Livia Melro de São Paulo, que fez uma excelente descrição prática de diversas possibilidades do uso do US pulmonar no dia a dia do intensivista.
Descreveu o Score Ultrassonográfico de Aeração Pulmonar (Lung Ultrasound Score – LUS), que avalia 12 zonas pulmonares (6 por lado) com pontuação de 0 a 3 para aeração, e quanto maior o valor pontuado, menor a aeração do pulmão.
LUS acima de 17 ao final do teste de respiração espontânea está associado a maior risco de falha no desmame e um score abaixo de 13 está associado a sucesso no desmame.
O US ainda é capaz de detectar a presença de derrame pleural anecoico, facilmente visualizado e quantificado, geralmente em regiões posteriores, diagnosticar pneumotórax através da ausência de deslizamento pleural, principalmente em regiões anteriores onde o ar se acumula.
Linhas B indicam aumento da água extravascular pulmonar e edema pulmonar.
O Edema pulmonar induzido pelo desmame (WIPO) é frequente e pode ser monitorado pelo ultrassom.
A Dra. Alessandra concluiu que a detecção e manejo das assincronias são essenciais para melhorar os desfechos dos pacientes em ventilação mecânica, e a observação clínica do paciente aliada à análise das curvas ventilatórias é imprescindível.
A inteligência artificial e a monitorização integrada representam o futuro do manejo das assincronias.
A prática clínica diária deve focar na otimização da sincronia para reduzir complicações e melhorar a recuperação dos pacientes.
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