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O ATLS 10 trouxe algumas inovações no que tange ao manejo de choque circulatório e reposição volêmica. Após a manutenção da via aérea, ventilação e oxigenação (A e B do trauma), a circulação (C) é a sua prioridade. O primeiro passo é avaliar se há má perfusão tecidual, isto é, definir se há choque circulatório. Apesar da pressão arterial ser o parâmetro mais utilizado, pode haver sinais de choque com a PA ainda normal. Por isso, você deve avaliar:
- Nível consciência
- Frequência cardíaca e respiratória
- Pressão arterial e pressão de pulso
- Pulsos periféricos
- Enchimento capilar
- Diurese
Ao final, classifique o paciente conforme a tabela abaixo:
Classe |
Perda Estimada de Sangue |
FC (bpm) |
PA (mmHg) |
Pressão Pulso |
FR (irpm) |
Sensório |
I |
< 750 ml (15%) |
< 100 |
Normal |
Normal |
14-20 |
Ansiedade leve |
II |
750-1500 ml (15-30%) |
100-120 |
Normal |
Reduzida |
20-30 |
Ansiedade moderada |
III |
1500-2000 ml (30-40%) |
120-140 |
Reduzida |
Reduzida |
30-40 |
Ansioso e/ou confuso |
IV |
> 2000 ml (> 40%) |
>140 |
Reduzida |
Reduzida |
>35 |
Comatoso, letárgico |
Uma vez confirmada a presença de choque, duas ações simultâneas devem ocorrer:
- Reposição volêmica
- Reversão da causa do choque – no trauma, o choque hemorrágico é disparadamente mais comum e você deve pensar e tratar como se fosse na ausência de pistas para outras causas.
Causas menos comuns de choque no trauma:
- Neurológico: no paciente com TRM, mas não no TCE isolado
- Obstrutivo: tamponamento e pneumotórax são os fantasmas. Taquicardia com hipotensão e jugulares túrgidas são a principal pista. No caso do PTX, há ainda a ausculta pulmonar assimétrica
- Séptico: raro no trauma, a não ser em pacientes nas fases tardias, por infecção de feridas
Interrupção do sangramento
Quando a perda sanguínea é visível, o cirurgião tem papel fundamental para interromper o sangramento. Nos pacientes sem sangramento externo ativo, é necessário o uso de métodos complementares para saber onde está sangramento e como interromper. O FAST e a TC são os dois métodos mais utilizados.
Leia mais: ATLS 10: confira mudanças no manejo da via aérea
Além do controle mecânico do sangramento, é necessário avaliar se há coagulopatia. As provas laboratoriais tradicionais apresentam limitações e o ATLS incentiva o uso do tromboelastograma para avaliação das fases primária (plaquetária) e secundária da coagulação e como guia para a transfusão de hemoderivados.
Outra opção é o uso empírico de ácido tranexâmico, como comentamos na reportagem sobre tratamento da hemorragia associada ao tempo de administração.
Reposição Volêmica
O ATLS recomenda 1 litro de cristaloide ou 20 ml/kg, não havendo detalhes do tipo de cristaloide. A seguir, deve ser reavaliada a perfusão e se há necessidade de novas provas de volume. Nossa reportagem sobre monitorização hemodinâmica traz detalhes para você do assunto.
O acesso recomendado são duas veias periféricas (cubital ou no antebraço), com jelco 18G ou maior.
E quando transfundir? Nas fases iniciais, o hematócrito estará falsamente normal. A transfusão empírica, antes da prova cruzada com sangue O negativo, é reservada para emergências, com sangramento maciço e choque tipo IV (veja tabela acima).
Quando o paciente necessita de mais de 10 bolsas de hemácia em 24h (ou > 4 bolsas em 1 hora), recomenda-se transfusão empírica de plasma e plaquetas na proporção 1:1:1. O ATLS não recomenda reposição de cálcio empírico, mas frisa para monitorizarmos seu nível sérico e estarmos atentos ao risco de hipotermia.
Um artigo recente da NEJM complementa sobre abordagem prática ao choque hemorrágico e sugerimos a leitura complementar do nosso texto e ficar por dentro de tudo que você precisa saber sobre o assunto.
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