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Recentemente a New England Journal of Medicine publicou um artigo de revisão sobre choque hemorrágico. Como todo o material deles, o texto é de ótima leitura. Nós então nos inspiramos e montamos uma forma prática, beira de leito, sobre o assunto.
A hemorragia pode ser externa (visível) ou interna. As causas mais comuns de hemorragia são:
- Trauma
- Obstetrícia / parto
- Gastrointestinal
- Per-operatório
- Ruptura de aneurisma de aorta
A abordagem consiste em dois pilares:
- Localizar sítio do sangramento para promover hemostasia.
- Repôr as perdas, minimizando a má perfusão tecidual e a conseguinte disfunção orgânica.
É importante frisar que ambas as etapas ocorrem SIMULTANEAMENTE, pois quanto mais rápido você conter o sangramento e fizer a ressuscitação, melhor o prognóstico do paciente.
O ABCDE do choque hemorrágico consiste em:
A: controle via aérea (e proteção cervical se houver trauma)
B: respiração
C: circulação
D: oxygen delivery – oferta de O2 nos tecidos
E: endpoint of resuscitation – metas da ressuscitação volêmica / perfusional
Controle do sangramento
Esta etapa começa com a identificação do sítio de sangramento para controle hemostático local. Isto é, para conter o sangramento. Estas medidas devem começar o mais cedo possível, de preferência ainda no pré-hospitalar.

Ressuscitação
A hemorragia leva à hipovolemia e vasoconstrição, com má perfusão sistêmica. Há liberação de mediadores inflamatórios e de lactato, além de dano endotelial. A cascata da coagulação é ativada, e pode haver disfunção, tanto para mais (hipercoagulabilidade) como para menos (coagulopatia). Além disso, a hipotermia pode agravar a hipotensão, a acidose e a coagulopatia. A ressuscitação é um conjunto de medidas que visa restaurar a perfusão através da reposição volêmica e medidas adjuvantes para reverter acidose lática e coagulopatia, bem como a manutenção da temperatura corporal. Obtenha rapidamente dois acessos venosos periféricos calibrosos (14 ou 16G).
O passo seguinte é estimar a perda volêmica, o que é classicamente feito pela tabela adaptada do American College of Surgeons Committee on Trauma.
Em geral, pacientes I e II não necessitam de reposição de hemoderivados, ao contrário das classes III e IV.
A avaliação laboratorial consiste em:
- Hemograma: a hemoglobina pode estar falsamente normal na admissão
- Plaquetas, INR e PTT: são as medidas de uso comum. Podem ser associadas ao fibrinogênio e devem ser corrigidas. Mas o ideal é o uso da tromboelastografia se disponível.
- Bioquímica, com função renal e eletrólitos (sódio, potássio e cálcio).
- Gasometria arterial com lactato, como adjuvante na avaliação perfusional.
Observações:
- O uso de bicarbonato é controverso. Há autores que recomendam com pH < 7,15 e outros com pH < 7,00.
- O fator VIIa ativado e o complex protrombínico só estão recomendados no sangramento em pacientes que usam varfarina.
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Referências:
- Hemorrhagic Shock. January 25, 2018. N Engl J Med 2018; 378:370-379. DOI: 10.1056/NEJMra1705649
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