Logotipo Afya
Anúncio
Saúde28 março 2023

Três anos depois, médicos e enfermeiros ainda sentem o peso da pandemia

A pandemia de covid-19 completou três anos aqui no Brasil. De lá para cá, quase 700 mil brasileiros vieram a óbito com o diagnóstico da enfermidade.

Por Úrsula Neves

Mais de 1,3 mil das vítimas da pandemia de covid-19 eram profissionais de medicina e enfermagem. Um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) apontou a presença intensa de quadros de exaustão, estresse, má qualidade de sono, sintomas depressivos e dores pelo corpo entre profissionais de saúde. Foram entrevistados 125 profissionais da rede pública, que responderam a questionários online ao longo dos últimos dois anos.

Três anos depois, médicos e enfermeiros ainda sentem o peso da pandemia

Achados

Os resultados mostram que 86% deles sofrem de síndrome de burnout com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes.

Cerca de 75% dos voluntários avaliaram negativamente as demandas emocionais ligadas ao trabalho, 61% criticaram o ritmo do serviço e 47% reprovaram a sua imprevisibilidade.

Dados relacionados a comportamentos ofensivos também foram avaliados: Cerca de 15% dos profissionais relataram terem sido afetados por atenção sexual indesejada, 26% foram ameaçados, 9% sofreram violência física e 17% reportaram bullying.

“No momento temos uma fotografia da situação, o que não nos permite afirmar que a pandemia é responsável pelos resultados encontrados, mas acreditamos que o impacto especialmente pesado da covid-19 no país contribuiu para índices tão ruins. E percebemos que a pandemia influenciou negativamente esses resultados. A sobrecarga no trabalho, as decisões difíceis e os dramas vivenciados afetaram consideravelmente os profissionais de saúde, especialmente os que atuaram na linha de frente”, contou a professora do Departamento de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFSCar, Tatiana de Oliveira Sato.

Leia também: Pandemia de covid-19 e o uso de antimicrobianos

“A maioria dos profissionais de saúde experimenta fatores psicossociais desfavoráveis, má qualidade do sono, sintomas musculoesqueléticos e sintomas depressivos. Esses achados destacam a necessidade de abordar o sofrimento psicológico e físico para melhorar o bem-estar pessoal e profissional dessa população trabalhadora brasileira. Considerando que a segurança e saúde dos trabalhadores é um problema sistêmico nas organizações, é urgente assumir a responsabilidade de promover melhores condições de trabalho, organização justa do trabalho e tomada de decisão horizontal, reduzir o desequilíbrio de poder e capacitar os trabalhadores para criar mudanças em seus processos diários de trabalho. É preciso ir além da gestão de riscos ocupacionais e pensar em como promover a felicidade e o bem-estar no trabalho em conjunto com trabalhadores, empregadores, pesquisadores e sociedade”, concluiu o artigo.

Relato de superação na pandemia

“Atuei na linha de frente como coordenadora das unidades de internação e plantonista em unidade de emergência para pacientes com covid-19. Peguei a doença uma vez e tive apenas sintomas leves. Sobre o ritmo e as minhas condições de trabalho, acho que tive o que era possível naquele momento dentro do cenário apresentado. Estávamos totalmente fora da zona de conforto e levamos um tempo para nos adaptar. Sempre me preocupava em continuar saudável para seguir trabalhando e para estar com meus amigos e família, assim que fosse possível. Não desenvolvi distúrbios, mas tive bastante ansiedade e angústia! Já fazia terapia e a mantive, o que me ajudou muito a lidar com o momento que estávamos vivendo. Agora sinto-me bem e tive muitos aprendizados dessa vivência. Aprendizado sobre a impermanência, a nossa finitude e saber dar valor ao que realmente importa”, disse chefe do serviço de clínica médica e coordenadora da emergência do Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF-RJ), Carla Quintão, em entrevista para o Portal de Notícias da PEBMED.

Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.

Autoria

Foto de Úrsula Neves

Úrsula Neves

Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), pós-graduada em Comunicação com o Mercado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e em Gestão Estratégica da Comunicação pelo Instituto de Gestão e Comunicação (IGEC/FACHA)

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Clínica Médica