Entre 2022 e 2024, mais de um terço dos médicos que atuavam na Atenção Primária à Saúde (APS) deixaram seus postos de trabalho. O dado, revelado em novo estudo da Umane e do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), evidencia uma taxa média de rotatividade de 33,9% entre os profissionais da linha de frente do SUS. O cenário é ainda mais crítico em estados com menor PIB per capita, como Maranhão e Paraíba. Já nas unidades federativas com maiores rendas, como Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, a permanência dos profissionais tende a ser mais estável.
A base de dados, lançada recentemente, reúne informações de 26 estados e do DF a partir de fontes públicas como Datasus, Sisab, Vigitel, Sisvan, e-Gestor AB, Ipeadata e o Sidra (IBGE). Os dados estão organizados no Observatório da Saúde Pública, ferramenta interativa que busca apoiar decisões de gestores e formuladores de políticas públicas.
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O impacto da rotatividade vai muito além dos números: compromete diretamente a continuidade do cuidado, já que leva-se ao menos um ano para que o médico conheça seu paciente e crie vínculo, segunda especialistas. A cada saída, esse processo se rompe e a qualidade do cuidado é prejudicada, o que afeta diretamente os desfechos clínicos, aumentando erros e reduzindo a satisfação do paciente.
Entre os principais desafios identificados pela pesquisa estão:
- Fixação de profissionais em áreas mais vulneráveis;
- Cobertura vacinal aquém da meta em todos os estados;
- Baixa adesão ao rastreamento oncológico em parte do país;
- Internações evitáveis por condições sensíveis à APS.
Outros números na Atenção Primária à Saúde (APS)
A cobertura mínima de seis consultas de pré-natal, por exemplo, foi atingida em quatro regiões do país, com exceção do Norte. O mesmo se aplica ao rastreio de câncer de mama, cuja meta de cobertura (70%) só não foi alcançada no Norte. Já as internações por causas sensíveis na APS atingiram média nacional de 20,6%, com taxas mais elevadas no Norte (23,9%) e Nordeste (22,4%).
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A cobertura vacinal infantil também preocupa: nenhuma unidade federativa alcançou a meta de 95% em menores de 1 ano. Os melhores índices foram registrados em Alagoas e no Distrito Federal (87%).
Para os autores, o painel de dados oferece um diagnóstico preliminar da APS brasileira. “Apesar de limitações, ele é um instrumento potente para qualificar o debate sobre o SUS e pensar estratégias de fortalecimento da atenção primária no Brasil”, afirma Pedro Ximenez, cientista de dados da FGV.
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