Uma pesquisa financiada pela farmacêutica Sanofi, conduzida pelas empresas Purpose Union e The BRC e revisada por especialistas da Harvard School of Public Health, mostra como o preconceito ainda interfere no atendimento médico pelo mundo. Mulheres, minorias étnicas, membros da comunidade LGBTQIAP+ e indivíduos com algum tipo de deficiência tiveram mais de uma experiência negativa com profissionais de saúde, e saem de consultas e atendimentos sem confiar nos médicos e nas instruções que receberam.
O levantamento ouviu 11.500 pessoas em cinco países: Brasil, França, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. Leia o artigo completo aqui.
A sensação de “não se sentir ouvido” foi a mais relatada pelos entrevistados (37%), seguida pela reclamação de que “recebeu um serviço ruim” (34%) ou “explicações ruins” (33%). Alguns voluntários se sentiram “indesejáveis” (20%), “julgados” (20%) ou “inseguros” (19%) durante os atendimentos.
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Resultados obtidos no Brasil
O estudo apontou que a maior parte dos pacientes com deficiência (87%) não confiam nos médicos. A porcentagem também é alta entre pacientes LGBTQIA+ (86%) e de grupos étnicos minoritários (80%). Dentro desse último grupo estão as pessoas pretas, indígenas, ciganas e de outras etnias minoritárias.
Na opinião da líder de Diversidade, Equidade e Inclusão da Sanofi Brasil, Neila Lopes, esse cenário está aprofundando ainda mais as desigualdades sociais na área de saúde.
A própria classe médica já relatou que não sente os colegas de profissão preocupados com algumas questões sociais, como os direitos da população LGBTQIAP+.
“Um levantamento apontou que 39% dos médicos já viram desigualdades na assistência à saúde para pacientes dessa comunidade, e 49% disseram já ter presenciado situações de omissão”, contou Neila, citando pesquisa realizada pelo site Medscape, no ano passado.
Respostas de médicos
O questionário com médicos revela alguns pontos mais otimistas, como o fato de que 62% deles se dizem incomodados com a desigualdade racial.
Mas é preciso mudar as coisas na prática. Até porque o preconceito pode levar a desfechos trágicos. “Um exemplo é a morte relacionada ao parto, sempre maior entre as mulheres negras. Entre 2014 e 2019, foram registradas oito mortes maternas a mais entre negras do que entre brancas a cada 100 mil nascidos vivos”, relata a executiva.
“A saúde de populações minoritárias sofre influência muito contundente dos determinantes sociais de saúde, o que gera maiores complexidades dos desfechos em condições de saúde instaladas. Trabalhos como o conduzidos pela equipe são de grande importância para o planejamento da assistência à saúde dessas pessoas. Embora do ponto de vista epidemiológico fiquemos muito limitados em razão do dimensionamento da população para generalizar conclusões em recorte transversal, qualitativamente conseguimos identificar vulnerabilidades específicas e construir estratégias que permitam entregar com mais equidade o cuidado de saúde necessário e no tempo oportuno para essas pessoas em condição tão intensa de vulnerabilidade”, pontuou o médico de Família e Comunidade e editor associado da PEBMED, Marcelo Gobbo Jr, em entrevista ao portal.
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Diversidade na profissão e outras alternativas
Em um comentário na revista Fortune, a reitora da Harvard TH Chan School of Public Health, Michelle Williams, e o CEO da Sanofi, Paul Hudson, discutiram a pesquisa e sugeriram soluções para ajudar a fechar a lacuna de confiança. Eles recomendaram diversificar a força de trabalho em saúde e investir em prevenção, além de pedirem aos profissionais de saúde que sejam melhores ouvintes. “Isso significa reconhecer e superar preconceitos inconscientes, ver cada paciente diante deles como um indivíduo com dignidade e valor, e reservar um tempo para entender por que cada paciente procurou atendimento”.
Os autores da pesquisa ressaltam ainda que melhorar a diversidade entre os profissionais de saúde é um dos caminhos defendidos por especialistas para transformar essa realidade. Sendo assim, é necessário empregar mais necessário empregar mais negros, indígenas, transgêneros, além de pessoas com deficiência e de outros grupos com dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, é imprescindível investir na formação desses profissionais.
Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.
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