A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou que os casos de Covid-19, assim como os de Covid longa, aumentaram na América Central, Caribe e alguns países da América do Sul.
A diretora da agência destacou que a região das Américas e do Caribe precisa estar preparada para responder aos efeitos prolongados da doença, que podem persistir por diversos anos.
“Em média, de 10% a 20% das pessoas que foram infectadas com o vírus estão sentindo cansaço, falta de ar e problemas mentais. E como 161 milhões de pessoas foram contaminadas nos últimos dois anos, centenas de milhares de americanos e caribenhos podem estar enfrentando mais esse problema”, afirmou Carissa Etienne, durante a coletiva de imprensa semanal da entidade no dia 14 de julho.
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Estudo
Um estudo longitudinal, desenvolvido pelo Instituto René Rachou, unidade regional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Minas), avaliou os efeitos da doença ao longo do tempo e descobriu que mais da metade das pessoas diagnosticadas com Covid-19 apresentam sequelas que podem persistir por mais de um ano.
A pesquisa acompanhou, por 14 meses, 646 pacientes que tiveram a infecção e verificou que, desse total, 324 (50,2%) tiveram sintomas pós-infecção. Os resultados foram publicados na revista Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene.
No total, foram contabilizados 23 sintomas, após o término da infecção aguda. A fadiga é a principal queixa entre os pacientes, relatada por 115 pessoas (35,6%).
Também entre as sequelas mais mencionadas estão tosse persistente (110; 34,0%), dispnéia (86; 26,5%), anosmia ou disgeusia (65; 20,1%) e cefaleias frequentes (56; 17,3%).
Além disso, também chamam a atenção os transtornos mentais, como insônia (26; 8%), ansiedade (23; 7,1%) e tontura (18; 5,6%). Entre os relatos estão ainda sequelas mais graves, como a trombose, diagnosticada em 20 pacientes (6,2%).
“Temos casos de pessoas que continuam sendo monitoradas, pois os sintomas permaneceram para além dos 14 meses. Constatamos ainda que a presença de sete comorbidades – hipertensão arterial crônica, diabetes, cardiopatias, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica e tabagismo ou alcoolismo – levou à infecção aguda mais grave e aumentou a chance de ocorrência de sequelas”, explicou a pesquisadora Rafaella Fortini, que coordena o estudo.
Os resultados mostraram ainda que os sintomas pós-infecção se manifestam nas três formas da enfermidade: grave, moderada e leve. Na forma grave, de um total de 260 pacientes, 86 (33,1%,) tiveram sintomas duradouros. Entre os 57 diagnosticados com a forma moderada da doença, 43 (75,4%), manifestaram sequelas e, dos 329 pacientes com a forma leve, 198 (59,3%) apresentaram sintomas meses após o término da infecção aguda.
“Tais resultados mostram a importância de entendermos bem essas sequelas, uma vez que estão ocorrendo até mesmo em pessoas que, durante a fase aguda da infecção, estiveram assintomáticas”, ressaltou a pesquisadora.
Crescimento de casos na América do Sul
Segundo a OPAS, os casos de Covid-19 estão crescendo nos países da América Central, incluindo El Salvador e Guatemala, onde os óbitos pela enfermidade também subiram. Novas infecções também estão se avolumando no Caribe, onde Cuba notifica o maior número de casos semanais desde o início da pandemia.
Nas Ilhas Virgens Britânicas, os casos triplicaram nas semanas após a reabertura dos navios de cruzeiro. As infecções também estão aumentando no México e nos Estados Unidos.
“Por outro lado, as infecções hospitalizações e óbitos pela Covid-19 estão diminuindo na maior parte do continente, incluindo Brasil, Peru, Uruguai e Chile”, disse a diretora da OPAS.
A representante da entidade acrescentou, no entanto, que os casos estão crescendo na Argentina e atingindo seus mais altos níveis na Colômbia, levantando preocupações sobre a capacidade do sistema de saúde de lidar com 98% dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) já em uso.
“Quando as variantes de preocupação circulam é ainda mais importante que os países intensifiquem a vigilância, especialmente enquanto a cobertura vacinal permanece baixa”, ressaltou Carissa Etienne.
Uso de cigarro eletrônico e a falta de vacinas
É importante frisar que os indivíduos que já enfrentavam algumas condições de saúde antes da Covid-19 estão mais expostos ao risco, assim como as que fumam, utilizam o cigarro eletrônico e não foram vacinadas.
“É fundamental enfatizar que o uso das máscaras e o distanciamento social continuam sendo as chaves para não se contaminar. E que as vacinas têm um papel vital para impedir as consequências da enfermidade”, concluiu a diretora da OPAS.
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