Pesquisadores brasileiros identificaram uma molécula capaz de reduzir a agressividade dos tumores embrionários do sistema nervoso central, que acometem principalmente crianças menores de quatro anos.
“O estudo demonstrou que moléculas de RNA não codificadoras de proteína, como o micro-RNA-367, promovem um estado de maior agressividade tumoral por conferir às células cancerosas características de células-tronco. O estudo em modelo animal demonstrou ainda que é possível inibir esse fenômeno in vivo, o que acarreta em menor incidência de metástases e no aumento significativo de sobrevida em pacientes”, explicou o coordenador do estudo, Oswaldo Keith Okamoto, que também é professor associado do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), vice-diretor do Instituto de Biociências da USP e pesquisador do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da USP.
Os resultados foram publicados na revista Molecular Oncology, na edição de agosto de 2019.
O professor Keith Okamoto ainda explicou que os tumores embrionários do sistema nervoso central, entre eles o meduloblastoma e o tumor teratoide rabdoide atípico (TTRA), costumam apresentar células com características semelhantes às de células-tronco, o que lhes confere maior capacidade tumorigênica e de invasão de tecidos, além de maior resistência à morte celular.
Em um trabalho anterior, o mesmo grupo de pesquisadores testou uma abordagem que usava o vírus zika para destruir células-tronco tumorais.
Câncer pediátrico: estudo sobre a molécula
Neste estudo, os pesquisadores fizeram experimentos in vitro, envolvendo modificação genética de células de tumores embrionários do sistema nervoso central (SNC), as quais foram cultivadas tridimensionalmente como organoides/esferoides tumorais.
Também foram realizados experimentos com camundongos imunossuprimidos contendo tumores de SNC, os quais foram tratados com um inibidor específico do micro-RNA-367 e avaliados por até semanas pós-tratamento quanto aos sintomas clínicos e sobrevida.
O estudo durou três anos e foi parte de uma tese de doutorado de Carolini Kaid, bolsista da FAPESP, concluída este ano no Instituto de Biociências da USP.
Próximos passos
Esse é um estudo inicial de prova de conceito, que indica a possibilidade de desenvolvimento de novos tratamentos para câncer, baseados na inibição de micro-RNAs com ação oncogênica, conhecidos por Oncomirs.
“A terapia-alvo molecular é uma modalidade bastante promissora de tratamento para tipos agressivos de câncer que se mostram resistentes às opções terapêuticas atualmente disponíveis”, enfatizou o professor Keith Okamoto, que complementou dizendo que estudos como esse, que abordam novos tratamentos em desenvolvimento, são importantes para educação médica continuada, mantendo o profissional médico sempre atualizado.
“Em última análise, tratamentos inovadores recém aprovados ou experimentalmente disponíveis por meio de protocolos clínicos aprovados pelas instâncias regulatórias, a critério da equipe médica, podem ser discutidos com os pacientes, visando benefício terapêutico”, ressalta o coordenador do estudo.
Antes da realização de estudos clínicos, serão necessários ainda diferentes testes, como de toxicidade e de farmacocinética, que mostra como a molécula é metabolizada e quanto tempo permanece no organismo.
Tratados com as abordagens clássicas, os tumores embrionários do sistema nervoso central apresentam alta taxa de morbidade e mortalidade, correspondendo a 10% dos casos de câncer do sistema nervoso central infantil.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
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