Nível de estresse oxidativo elevado não é determinante para a gravidade da Covid-19, segundo constatou um estudo inédito realizado pelos pesquisadores da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Desde o início da pandemia, diversas pesquisas sugeriram que a formação de radicais livres e o estresse oxidativo estariam ligados à gravidade da doença, contribuindo para um estado clínico mais preocupante.
O trabalho da PUCPR foi publicado recentemente na revista Science. Foram analisados os soros de 77 pacientes e os pesquisadores concluíram que, ainda que os níveis de estresse oxidativo estivessem elevados, a gravidade da doença não é fator determinante para as mudanças no perfil redox (sistema de defesa antioxidante) de pacientes hospitalizados com Covid-19.
Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da PUCPR (PPGCS) e pesquisador responsável pelo estudo, Ricardo Pinho explica que o estresse oxidativo é um evento celular causado a partir do desequilíbrio entre os radicais livres e a capacidade antioxidante presente nas células, tecidos ou órgãos.
Se for prolongado e intenso, sem uma capacidade de resposta adequada do organismo, esse desequilíbrio (com mais radicais livres do que antioxidantes) leva a danos de vários componentes das células e contribui para o desenvolvimento ou agravamento de diversas doenças.
Segundo o professor, radicais livres são produzidos naturalmente no organismo e são necessários para as células. O problema é que estímulos nocivos ao organismo, além de infecções e doenças inflamatórias, caso da Covid-19, elevam muito a produção desses radicais livres, sem melhorar a quantidade de antioxidantes. Isso pode comprometer o tratamento e agravar a enfermidade.
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“Há maneiras práticas que podem ajudar na redução do estresse oxidativo, como adotar um modo de vida saudável, com boa alimentação e realização regular de atividades físicas, além de manter o controle e tratamento de doenças que causam estresse oxidativo. Quando necessário, faz-se o uso, com orientação profissional, de complementos ou suplementos ricos em antioxidantes, o que parece ser o caso de pacientes com o novo coronavírus”, diz Ricardo Pinho.
Estresse oxidativo na Covid-19
Para realizar o estudo, os pesquisadores selecionaram 77 pacientes infectados pelo novo coronavírus que foram internados em um hospital de Curitiba (PR).
Participaram 53 (69%) homens e 24 (31%) mulheres. Trinta e três (43%) pacientes foram admitidos na UTI e 15 pacientes (19%) precisaram de intubação orotraqueal. Dezessete pacientes (22%) vieram a óbito durante a internação.
A maioria dos pacientes apresentou sintomas, incluindo dispneia, tosse e febre. Diarreia, dor de garganta e coriza foram observadas em menos da metade dos pacientes. As comorbidades mais frequentes foram hipertensão arterial sistêmica (57%) e diabetes mellitus (29%). Outras comorbidades observadas foram menores que 20%. Quarenta pacientes (52%) apresentavam mais de uma comorbidade. Na admissão, corticosteróides, antibióticos e heparina profilática foram administrados para o manejo dos pacientes.
Os dados clínicos foram analisados e divididos em grupos moderado (n = 44) e grave (n = 33) com base em sua condição clínica. A produção de oxidante (peróxido de hidrogênio) e antioxidantes de defesa (capacidade antioxidante total, glutationa reduzida e oxidada, glutationa s-transferase) e dano oxidativo (malondialdeído, carbonila e sulfidrila) foram avaliados com as amostras de soro.
Os resultados revelaram que pacientes graves que apresentavam alta contagem de leucócitos séricos e níveis elevados de PCR (proteína c-reativa) permaneceram mais tempo internados. Não foi observada, contudo, correlação entre os parâmetros de estresse oxidativo e o grau de severidade da Covid-19 na pesquisa.
“Trata-se de um estudo muito importante que poderá contribuir para terapias mais eficazes no controle da enfermidade, em especial para pacientes hospitalizados”, diz o pesquisador responsável pelo estudo, Ricardo Pinho.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referência bibliográfica:
- Gadotti AC, et al. Susceptibility of the patients infected with Sars-Cov2 to oxidative stress and possible interplay with severity of the disease. Free Radical Biology and Medicine. Volume 165, March 2021, Pages 184-190 https://doi.org/10.1016/j.freeradbiomed.2021.01.044
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