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Saúde7 dezembro 2022

Infecção de células de gordura pode contribuir para agravamento da covid-19

A gordura visceral contribui mais para o agravamento da covid-19 do que a gordura existente abaixo da pele. Veja detalhes do estudo.

Por Úrsula Neves

O novo coronavírus infecta o tecido adiposo humano, contribuindo potencialmente para uma severidade maior da doença em pacientes obesos. Além disso, a gordura visceral contribui mais para o agravamento da covid-19 do que a gordura existente abaixo da pele, embora o vírus consiga infectar ambos os tipos de tecido, alojando-se neles. Essas foram as conclusões que um estudo brasileiro com a participação de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) chegaram após a realização de experimentos a partir de células-tronco humanas. 

“O resultado é mais um passo para a compreensão da fisiopatologia do novo coronavírus e contribui na busca de uma explicação por que a população masculina tem sido mais afetada pela forma grave da doença. Apesar de mulheres possuírem, na média, mais adiposidade do que os homens, a distribuição dessas células no corpo difere de acordo com os gêneros, com as mulheres tendendo a possuir maior quantidade de tecido adiposo subcutâneo e os homens, maior massa visceral”, diz a matéria publicada sobre o estudo no portal da Unicamp.

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Covid-19 em crianças

Efeito extrapulmonar

De acordo com o professor do Instituto de Biologia da Unicamp Marcelo Mori, um dos líderes da pesquisa, desde o início da pandemia já se sabia que o vírus tinha um efeito extrapulmonar e que o acúmulo de gordura estava relacionado ao agravamento da enfermidade.   

“Com isso, foi levantada a possibilidade de que o tecido adiposo, especialmente o visceral, poderia ser um reservatório para o vírus. Isso porque já naquele momento, sabíamos que os principais fatores de risco eram o envelhecimento, a obesidade e o diabetes não controlado, condições que normalmente se caracterizam pelo acúmulo alterado de gordura”, revelou Mori. 

Como foi realizado o experimento

O professor Mori infectou em laboratório dois tipos de células (chamadas de adipócitos): um obtido a partir de células-tronco humanas isoladas do tecido adiposo subcutâneo e outro diferenciado a partir de células-tronco do tecido adiposo visceral. 

Dessa forma, foi possível observar que o adipócito visceral é mais suscetível à infecção pelo novo coronavírus, uma vez que a carga viral aumenta muito mais nesse tipo de célula de gordura do que no adipócito subcutâneo. 

“Acreditamos que isso se deve, principalmente, à maior presença da proteína ACE-2 [à qual o vírus se conecta para invadir a célula] na superfície celular”, explicou Mori. 

Além disso, a equipe de cientistas notou que, ao ser infectado, o adipócito visceral produz uma quantidade maior de citocinas pró-inflamatórias (moléculas que sinalizam para o sistema imune a existência de uma ameaça a ser combatida).

Desdobramentos futuros 

Para tentar avançar na compreensão do tema, o grupo vai fazer novos experimentos em culturas de adipócitos com as linhagens delta e ômicron. Outro objetivo é investigar possíveis impactos metabólicos da infecção pelo novo coronavírus em médio e longo prazo. 

“Queremos descobrir se a infecção muda o risco de o indivíduo desenvolver diabetes ou doenças cardiovasculares, por exemplo. Para isso, uma possibilidade é estudar amostras de pacientes que tiveram covid-19 e depois foram submetidos à cirurgia bariátrica e verificar se com a infecção ocorrem alterações morfológicas e funcionais no tecido adiposo visceral”, contou Mori. 

Publicado na revista Nature Communications, o estudo também contou com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio-CNPEM), do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).

*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.

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Referências bibliográficas

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