A edição de maio da revista “Pesquisa FAPESP” destacou o aumento da mortalidade por câncer de mama e colo do útero no Brasil e ressaltou que esse aumento é consideravelmente maior em mulheres jovens, com menos de 40 anos.
A revista citou artigo publicado em janeiro na revista BMC Cancer, feito pelos oncologistas Jessé Lopes da Silva e Andreia de Melo e o epidemiologista Luiz Claudio Thuler, todos do Instituto Nacional de Câncer (Inca), onde os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Departamento de Informática em Saúde do Sistema Único de Saúde (DataSUS), mostram que a taxa de mortes decorrentes de tumores de mama cresceu de modo praticamente contínuo no Brasil, entre 2000 e 2021. As métricas mostram que houve aumento de 10,5 óbitos a cada 100 mil mulheres em 2000 para 11,8 por 100 mil em 2021. Esse aumento ocorreu mesmo quando a taxa de incidência (número de casos novos por ano) se manteve estável.
Colo do útero
A epidemiologista Carolina Luizaga analisou a evolução da mortalidade por câncer de colo do útero no Brasil de 1980 a 2020. Ao longo dessas quatro décadas, a proporção de mulheres que morrem vítimas desse câncer em cada grupo de 100 mil diminuiu quase pela metade. Eram 10,1 em 1980 e 5,6 em 2020. Entretanto, quando a pesquisadora observou intervalos mais curtos, constatou que, em nível nacional, a taxa de mortalidade parou de cair em 2014 e, dali em diante, tornou-se estável, como publicado na Revista de Saúde Pública. Apesar disso, o estado de São Paulo destoou do padrão nacional, onde a taxa de mortalidade por câncer de colo do útero passou a crescer a partir daquele ano ao ritmo de 1,2% ao ano.
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Sistema de detecção precoce de tumores
Esse aumento da mortalidade mostra que há falhas no sistema de rastreamento dos tumores de mama e colo do útero com abordagem oportunista.
Pensando em maneiras de otimizar o processo de detecção precoce dessas neoplasias, a cidade de Mococa em São Paulo aderiu a uma forma diferenciada de rastrear os tumores de mama e de colo do útero. O sistema, utilizado em 2 das 13 UBS da cidade, usa um programa de computador que cruza dados do Ministério da Saúde com os do município, e então identificam as moradoras na faixa etária de maior risco para esses dois cânceres e as convidam para, no momento adequado, fazer a mamografia, uma radiografia especializada que busca alterações e nódulos nas mamas e o exame de Papanicolau, que permite identificar lesões iniciais no colo do útero. As equipes de saúde também realizam o acompanhamento posterior das mulheres que precisarem passar por exames de confirmação de diagnóstico e tratamento.
O objetivo desse procedimento é aumentar as chances de detecção de um diagnóstico precoce e o começo da terapia em estágio inicial da neoplasia. Com isso, espera-se que haja a reversão do quadro de aumento da mortalidade por câncer de mama e de colo do útero.
Vacinação
Neoplasias cervicais podem ser facilmente evitadas por meio da vacinação, porém, dados do Ministério da Saúde mostram que a imunização de meninas contra o HPV diminuiu consideravelmente a partir de 2017.
A vacina gera imunidade contra quatro variedades de vírus, dois associados ao câncer e dois a verrugas genitais, e é indicada para meninas e meninos de 9 a 14 anos. A OM propõe que 90% das meninas estejam vacinadas até os 15 anos na intenção de eliminar os casos de câncer de colo do útero.
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Justificativas do aumento da mortalidade por câncer
Apesar da queda na imunização contra o câncer de colo do útero, não é somente esse fator que explica o aumento recente da mortalidade. Segundo a revista, a justificativa mais válida é a falha no sistema de rastreamento e na oferta de terapias no tempo adequado. Apesar da Lei nº 12.732, de 2012, determinar que a pessoa com câncer atendida no SUS receba o primeiro tratamento até 60 dias depois da confirmação do diagnóstico, esses pacientes só recebem o tratamento após o tempo vigente na lei. Dados do Painel Oncologia, do DataSUS, mostram que em 2024, 41% dos casos de câncer de mama começaram a ser tratados após o intervalo definido pela lei.
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