Até o final do ano passado, 69% das unidades básicas de saúde (UBS) possuíam um sistema eletrônico para registro das informações dos pacientes. Além disso, 65% mantiveram os prontuários dos pacientes em formato totalmente ou parcialmente eletrônico, enquanto 35% o fizeram apenas em papel, segundo dados da 6ª edição da pesquisa TIC Saúde, lançada recentemente pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), através do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC).
Foram entrevistados 2.387 gestores de estabelecimentos de saúde no país. Também foram ouvidos 1.697 médicos e 2.716 enfermeiros vinculados a estes estabelecimentos.
A coleta de dados aconteceu entre julho e novembro de 2018 para os gestores. Já para amostra dos profissionais de saúde, a coleta de dados foi realizada entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019.
Acesso à internet e armazenamento de prontuários
Em 2018, 10% das Unidades Básicas de Saúde não tinham computadores e 20% não possuíam acesso à internet. Entre todos os estabelecimentos de saúde públicos com acesso à internet, 66% deles apresentavam algum tipo de sistema eletrônico para registro de informações dos pacientes, índice que chegou a 80% nos estabelecimentos médicos particulares.
Sobre o modelo de armazenamento dos prontuários, 10% dos locais públicos mantiveram apenas em formato eletrônico, 38% somente em papel e 51% em ambas as formas. Nos estabelecimentos médicos particulares, os índices foram de 25%, 17% e 56%, respectivamente.
Agendamento de consultas, exames ou cirurgias estavam disponíveis em 53% dos estabelecimentos públicos e 56% nos particulares; geração de pedidos de materiais e suprimentos em metade dos estabelecimentos públicos com acesso à internet; e apenas 39% nos particulares.
Funcionalidades de suporte para as decisões médicas como diretrizes clínicas, alertas e lembretes sobre alergia a medicamentos ou contraindicação estavam presentes em um quarto do total dos estabelecimentos de saúde com acesso à internet.
“O prontuário e o sistema de registro é uma das ferramentas mais importantes para garantir a longitudinalidade do cuidado na atenção primária. Através deles, mesmo com a rotatividade de profissionais, é possível garantir a linearidade e a visão longitudinal dos aspectos de saúde e coordenação do cuidado do cidadão. Esse amplo acesso e essa expansão na utilização da web como meio de registro e compartilhamento de informação é um grande marco para garantir isso. O acesso de internet à rede de saúde estimula outros recursos de determinantes sociais como educação, e isso melhora a saúde local e outros aspectos da vida do indivíduo também”, destaca Marcelo Gobbo.
Infraestrutura e gestão de dados
Os dados coletados também revelam o uso de computadores (91%) e acesso à internet (83%) nos estabelecimentos públicos de saúde. Já nos particulares se manteve estável, com 99% em ambos os casos em relação a 2017.
Em relação à segurança e proteção dos dados, a pesquisa aponta que 19% dos estabelecimentos públicos e 27% dos particulares possuíam algum documento que define uma política de segurança.
Ferramentas importantes relacionadas à segurança da informação, como criptografia de e-mails (27% público e 56% privado) e da base de dados (24% público e 35% privado), ainda estão entre os menores índices de uso pelos estabelecimentos de saúde.
A informatização dos sistemas de saúde, sejam públicos ou privados, é responsável por avanços na oferta de cuidado ao paciente. Para o médico residente de Medicina de Família e Comunidade, Marcelo Gobbo, colunista do Portal PEBMED, essa ferramenta, se bem empregada, garante maior segurança ao paciente, facilita a compreensão e possibilidade a geração de indicadores de qualidade e saúde, favorecendo um maior controle interno e externo de agenda, resolutividade e custo-efetividade.
“Além disso, ter acesso à internet e à informatização dos serviços de saúde na esfera assistencial permite que os profissionais estejam conectados com as melhores fontes e com o maior apoio de retaguarda possível. Assim, em consultas rápidas para tomada de decisão, na obtenção de parecer ou segunda opinião, ou mesmo para aspectos formativos como capacitações e atualizações, o uso da internet é fundamental e ao mesmo tempo imprescindível quando utilizamos o olhar de gestão”, destaca o médico.
Serviços online oferecidos aos pacientes e telessaúde
Os serviços online mais disponibilizados pelos estabelecimentos para acesso dos pacientes foram o agendamento de consultas (26%), o agendamento de exames (27%) e a visualização de resultados (26%).
O destaque ficou para os estabelecimentos sem internação, que apresentaram uma melhora tendência na disponibilização de agendamentos online, passando de 18%, em 2016, para 29%, em 2018.
Seguindo a tendência apresentada nos anos anteriores, a disponibilização de serviços de telessaúde foi maior nos estabelecimentos públicos em relação aos particulares, principalmente no que diz respeito à educação a distância em saúde (37% nos públicos contra 12% nos privados) e atividades de pesquisa a distância (29% nos públicos contra 8% nos particulares).
A sexta edição da pesquisa apresenta novos indicadores de serviços de telessaúde, como teleconsultoria (29% nos públicos e 11% nos privados), segunda opinião formativa (17% nos públicos e 5% nos privados) e telediagnóstico (22% nos públicos e 4% nos privados).
“Um melhor aproveitamento do potencial da telessaúde é essencial para a busca de uma real universalização dos serviços |prestados”, acrescenta gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa.
Para o médico residente de Medicina Família e Comunidade, Marcelo Gobbo, a rede de telessaúde melhora a educação permanente do profissional de saúde, dando respaldo a um sistema matricial, garantindo o cuidado com auxílio do especialista mesmo que ele não esteja no local.
“Isso amplifica acesso e melhora qualidade de atendimento. Diminui o número de encaminhamentos desnecessários protegendo o paciente e aumenta a eficiência de aplicação dos recursos. É mais barato colocar internet e investir no telessaúde selecionando quais pacientes vão necessitar de um cuidado terciário do que “bancar” esse cuidado para quem tem e quem não tem indicação dele”, explica Marcelo Gobbo.
Adoção das TIC entre médicos e enfermeiros
A pesquisa ainda aponta que apenas 25% dos enfermeiros e 19% dos médicos afirmaram ter realizado algum curso relacionado à área de informática em saúde nos últimos 12 meses.
Segundo a percepção desses profissionais, entre os impactos mais mencionados em relação ao uso de sistemas eletrônicos estão: a melhoria na eficiência dos processos de trabalho das equipes (92% para ambos) e a percepção de que os sistemas eletrônicos proporcionam uma maior eficiência no atendimento (89% para enfermeiros e 84% para médicos).
Além disso, 29% dos enfermeiros e 34% dos médicos concordaram que os recursos financeiros para investimento em sistemas eletrônicos eram suficientes para as necessidades do estabelecimento.
“Os resultados da pesquisa são empolgantes e promissores. Houve um grande avanço, especialmente na rede pública, o que fatalmente implicará em melhorias nos desfechos em saúde avaliados e esperados para a próxima década”, avalia o médico Marcelo Gobbo.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED.
Referências bibliográficas:
- cetic.br/pesquisa/saude/indicadores
- cetic.br/pesquisa/saude/publicações
- data.cetic.br/cetic/explore?idPesquisa=TIC_SAUDE
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