O Brasil já contabiliza mais de 10 mil casos de febre oropouche e quatro mortes confirmadas em 2025, segundo o último boletim do Centro de Operações de Emergências (COE) do Ministério da Saúde. Os dados representam um aumento de 56,4% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 6.440 casos. O surto atual sinaliza a expansão da doença para além da Região Norte, onde historicamente era mais prevalente.
O Espírito Santo lidera os registros, com 6.118 casos confirmados, seguido pelo Rio de Janeiro (1.900), Paraíba (640) e Ceará (573). Transmissão ativa também foi observada em outros estados, como Roraima, Rondônia, Amapá, Tocantins, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraná. A faixa etária mais afetada é de 20 a 59 anos, que concentra 70,5% dos infectados.
Os óbitos ocorreram no Rio de Janeiro (três casos) e no Espírito Santo (um caso), todos entre fevereiro e março de 2025. As vítimas eram adultos entre 23 e 64 anos. Embora a letalidade seja considerada baixa, o registro recente de mortes eleva o nível de alerta, sobretudo diante de manifestações neurológicas mais graves, como meningite asséptica e meningoencefalite, especialmente em pacientes imunocomprometidos.
Etiologia e transmissão
A febre oropouche é causada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV), transmitido principalmente pela picada da fêmea do Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. Trata-se de um inseto hematófago minúsculo, com cerca de 1,5 mm, que prolifera em ambientes com alta umidade e matéria orgânica em decomposição, como folhas e restos de frutas. Ao contrário do Aedes aegypti, o maruim não é considerado um vetor urbano típico, embora haja indícios de sua presença em áreas urbanizadas afetadas por desmatamento e alterações ambientais.
O ciclo de transmissão pode ser silvestre ou urbano, com humanos atuando como hospedeiros principais nas áreas urbanas. A infecção geralmente é autolimitada, com sintomas semelhantes aos da dengue: febre, cefaleia, mialgia e náuseas. Casos graves são raros, mas podem ocorrer complicações neurológicas.
Prevenção e tratamento da febre oropouche
Ainda não existe tratamento antiviral específico para a febre oropouche. O manejo clínico é sintomático, com antitérmicos, analgésicos, hidratação e repouso. Medidas preventivas incluem evitar áreas infestadas, uso de roupas protetoras e limpeza de possíveis criadouros — embora repelentes convencionais tenham baixa eficácia contra o maruim.
Pesquisas recentes do Instituto Evandro Chagas (IEC) também levantam a possibilidade de transmissão vertical. Foram identificados anticorpos contra o OROV em quatro bebês com microcefalia e material genético viral em um feto natimorto, o que motivou alerta às gestantes, embora a relação causal ainda não esteja comprovada.
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Com o avanço territorial da doença, especialistas alertam para a necessidade de vigilância contínua, especialmente diante da possibilidade de adaptação viral a vetores urbanos.
Arboviroses
No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que a preocupação maior ainda está voltada para outras arboviroses, como dengue e chikungunya. No entanto, as ações de controle vetorial continuam ativas também contra o mosquito transmissor da febre oropouche. Apesar da letalidade considerada baixa, a presença do vírus acende um alerta para a necessidade de vigilância constante e resposta rápida, especialmente em regiões próximas à mata atlântica.
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