Os fatores de risco para artralgia persistente em pacientes com chikungunya e o seu impacto nas atividades cotidianas foram investigados pelos pesquisadores do Instituto Gonçalo Moniz, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da Bahia.
O estudo, publicado no dia 5 de março no periódico International Journal of Infectious Disease, apontou que em uma coorte de 153 voluntários de Salvador com diagnóstico da doença, 42,5% se queixavam de dores nas articulações após três meses do início da chikungunya e 30,7% sentiam o mesmo efeito mesmo após um ano e meio.
Vale ressaltar que 93,8% daqueles que permaneceram com dor articular por mais de três meses relataram ter limitações nas atividades diárias, como pentear o cabelo e vestir a roupa, e 61,5% afirmaram sentir sofrimento mental, como alterações no humor e sinais de depressão.
Método utilizado
De setembro de 2014 a julho de 2016, o estudo de vigilância envolveu pacientes com doença febril aguda em Salvador, detectando pacientes com infecção pelo vírus chikungunya usando o ensaio imunoenzimático IgM ou reação em cadeia da polimerase de transcriptase reversa. O acompanhamento foi realizado por telefone para verificar a progressão da enfermidade.
Dos 153 casos acompanhados, 65 (42,5%) relataram artralgia crônica que durou > 3 meses, e 47 (30,7%) ainda eram sintomáticos no momento da entrevista (1,5 ano após o início dos sintomas).
Limitações nas atividades diárias e sofrimento mental foram relatados por 93,8% e 61,5% daqueles com artralgia crônica, respectivamente. Sexo feminino [razão de risco (RR) 1,79, intervalo de confiança de 95% (IC) 1,95–2,69] e idade (RR 1,02 para cada aumento de um ano, IC 95% 1,01–1,03) foram fatores de risco independentes para artralgia crônica.
A artralgia crônica não foi associada à coinfecção com o vírus da dengue (RR 0,97, IC 95% 0,48-1,94) ou carga viral de chikungunya no diagnóstico (RNA do vírus chikungunya mediano de 5,60 e 5,52 log 10 cópias / μL para aqueles com e sem artralgia crônica , respectivamente; P = 0,75).
Maior risco de dor crônica
A artralgia é um dos sintomas mais frequentes da infecção por chikungunya durante a fase aguda da enfermidade. Passada a fase inicial, os sintomas podem desaparecer completamente ou evoluir para artralgia contínua, que persistindo por três meses ou mais é classificada como crônica. Neste estudo, o sexo feminino e a idade foram apontados como os maiores fatores de risco para a dor persistente.
Segundo os autores do artigo, o maior risco de dor crônica observado entre as mulheres pode ser devido a fatores biológicos e psicossociais. Do ponto de vista biológico, as diferenças hormonais entre os sexos podem influenciar a resposta aos estímulos de dor. Especialmente em mulheres mais velhas, alguns estudos observaram que as mudanças hormonais podem afetar o sistema imunológico e influenciar a gravidade da dor nas articulações.
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O trabalho também demonstrou que o acesso a cuidados especializados multidisciplinares, como fisioterapia, reumatologia e psicologia, foi baixo entre os participantes do estudo, provavelmente em decorrência da oferta limitada desses serviços no Sistema Único de Saúde (SUS) e da impossibilidade de aquisição no atendimento particular.
Por conta desses resultados, “o desenvolvimento de novas estratégias para mitigar a transmissão da chikungunya e o fornecimento de assistência médica de longo prazo para esses pacientes é urgente”, aponta o estudo.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- M.O. Silva, Monaíse, et al. Risk of chronic arthralgia and impact of pain on daily activities in a cohort of patients with chikungunya virus infection from Brazil. International Journal of Infectious Disease. March 05, 2021. doi: https://doi.org/10.1016/j.ijid.2021.03.003
- Instituto Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia. Dor articular pós-chikungunya limita atividades diárias e causa sofrimento mental. 09/04/2021. Disponível em: https://www.bahia.fiocruz.br/dor-articular-pos-chikungunya-causa-limitacoes-de-atividades-diarias-e-sofrimento-mental/
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