A circulação sustentada do vírus do sarampo no Canadá por mais de 12 meses levou a Organização Pan-Americana da Saúde a retirar, no início de novembro, o certificado de eliminação da doença para todo o continente americano. A decisão reflete um cenário de rápida expansão dos casos em vários países, reacendendo o alerta epidemiológico na região. Até 7 de novembro, foram registrados 12.596 casos de sarampo em dez países, um número 30 vezes maior que o de 2024. Embora o Brasil figure entre eles, 95% das notificações se concentram no Canadá, México e Estados Unidos.
Segundo o diretor da Opas, Jarbas Barbosa, a perda do certificado regional não significa um retrocesso definitivo. “Enquanto o sarampo não for eliminado em nível mundial, nossa região continuará enfrentando o risco de reintrodução e disseminação do vírus entre populações não vacinadas ou subvacinadas”, afirmou.
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Situação no Brasil
O Brasil registrou 37 casos em 2025, distribuídos por sete estados. Os maiores focos ocorreram em Campos Lindos (TO) e Primavera do Leste (MT), ambos iniciados pela chegada de viajantes infectados vindos da Bolívia, país que enfrenta surtos ativos. No Tocantins, foram 25 casos; em Mato Grosso, seis. Apesar disso, não houve circulação endêmica, condição necessária para a perda do certificado nacional, reconquistado em 2024.
Tanto o Ministério da Saúde quanto secretarias estaduais realizaram bloqueios vacinais, rastreamento de contatos e intensificação da vigilância. O ministro Alexandre Padilha reforçou que a prevenção depende da vacinação rotineira: “a vacina está disponível gratuitamente para toda a população de 12 meses a 59 anos. Estamos empenhados em evitar a reintrodução do vírus no país.”.
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Em 2024, o país alcançou 95% de cobertura da primeira dose, mas apenas 80,4% da segunda. Em 2025, até o momento, as taxas estão em 91,5% (D1) e 75,5% (D2), abaixo do mínimo de 95% considerado seguro para barrar surtos. Crianças menores de 1 ano permanecem o grupo mais vulnerável a complicações graves, como cegueira, encefalite e morte.
Américas em alerta
A perda do certificado nas Américas ocorre em um contexto de surtos ativos em sete países, quase todos desencadeados por casos importados. A Opas reforçou a recomendação para que os governos mantenham vigilância intensa e ações rápidas de contenção.
O Brasil tem ampliado o “cinturão vacinal” nas regiões de fronteira, especialmente com a Bolívia. Entre julho e outubro, foram aplicadas quase 126 mil doses nos estados de Acre, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Mato Grosso. Além disso, o país doou 640 mil doses ao país vizinho. No Pará, estado que recebe fluxo internacional devido à COP30, cerca de 351 mil doses foram aplicadas apenas este ano.
Apesar do manutenção do certificado do Brasil especialistas afirmam que o Brasil deve garantir que a vacinação seja retomada em todas as comunidades. “Se a gente não chegar a, no mínimo, 95% de cobertura, vamos ter de novo surtos e mais surtos. O Ministério da Saúde tem se engajado muito na prevenção do sarampo, mas chegar ao ponto de perder o certificado de eliminação nas Américas é, sem dúvida, um retrocesso muito significativo e um risco grande pra população de todo o continente”, lamenta Isabela Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações.
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*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal Afya.
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Redação Afya
Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.
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