Logotipo Afya
Anúncio
Psiquiatria6 setembro 2025

Como lidar com a disfunção sexual em mulheres por uso de antidepressivos?

Estudo teve por objetivo investigar estratégias farmacológicas para o manejo da disfunção sexual induzida por ISRS em mulheres

A disfunção sexual é um efeito adverso bem conhecido dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Esses fármacos são amplamente utilizados no tratamento de diversos transtornos mentais, especialmente a depressão. Apesar de sua eficácia comprovada, os efeitos adversos, como a disfunção sexual, podem comprometer a adesão ao tratamento. Contudo, nem sempre é simples determinar em que medida tais sintomas são decorrentes do uso da medicação ou fazem parte do quadro psicopatológico de base. 

Entre as estratégias terapêuticas para abordar essas queixas, incluem-se ajustes de dose, substituição por outro fármaco da mesma classe ou troca por uma medicação de classe farmacológica distinta. 

Com o objetivo de investigar estratégias farmacológicas para o manejo da disfunção sexual induzida por ISRS em mulheres, de Aquino et al. conduziram uma revisão sistemática com metanálise de ensaios clínicos randomizados. O estudo seguiu as diretrizes PRISMA, com buscas realizadas em seis bases de dados (PubMed, Web of Science, Scopus, Cochrane, Embase e ClinicalTrials.gov), sem restrição de data ou idioma. A seleção dos estudos foi conduzida por três pesquisadores, com participação de um quarto avaliador em casos de dúvida. O risco de viés foi analisado com a ferramenta RoB2, e a certeza da evidência foi classificada segundo o sistema GRADE. Para a metanálise, foi adotado intervalo de confiança de 95%, utilizando-se os softwares RevMan e I² para análise estatística. 

mulher tomando antidepressivo

Métodos 

Foram incluídos 11 estudos, totalizando 859 participantes com idades entre 28 e 48 anos. Esses trabalhos utilizaram escalas padronizadas para avaliar tanto a disfunção sexual quanto os sintomas depressivos. As substâncias investigadas foram: bupropiona de liberação prolongada, composto VML-670, sildenafila, testosterona, efedrina, maca root (raiz de maca), açafrão, óleo de rosa damascena e o suplemento Aphrodite (composto por ingredientes naturais). 

Os estudos apresentaram alta heterogeneidade, qualidade metodológica moderada e risco de viés em alguns casos devido ao uso de questionários de autopreenchimento. 

Resultados 

  • Bupropiona: os dois estudos incluídos foram os únicos elegíveis para a metanálise. Mostraram melhora significativa da função sexual (especialmente nos domínios de desejo, excitação e orgasmo), mas sem diferença em relação ao placebo no impacto sobre a depressão. A qualidade da evidência foi considerada baixa. Outras revisões sistemáticas corroboram o benefício da bupropiona, embora os resultados devam ser interpretados com cautela devido ao risco de viés.
  • VML-670: no único estudo incluído, não apresentou efeito significativo nem sobre a função sexual, nem sobre a depressão.
  • Sildenafila: avaliada em um estudo, demonstrou melhora em diversos parâmetros da função sexual, exceto dor. Não houve efeito sobre os sintomas depressivos. 
  • Testosterona: investigada em dois estudos com resultados distintos. O uso transdérmico não apresentou diferenças significativas nos escores globais, mas aumentou o número de eventos sexuais satisfatórios. O uso combinado com outras medicações (PDE-5 e agonista 5-HT1A) mostrou melhora na função sexual. Nenhum estudo demonstrou impacto consistente sobre a depressão.
  • Efedrina: em um estudo, tanto o grupo intervenção quanto o placebo apresentaram melhora, tornando os resultados inconclusivos. Não houve efeito sobre a depressão.
  • Aphrodite: em um único estudo, mostrou melhora progressiva da função sexual ao longo de oito semanas, associada também à redução dos sintomas depressivos. 
  • Raiz de maca: apresentou resultados positivos, sobretudo em mulheres perimenopáusicas (melhora da excitação) e pós-menopáusicas (melhora do orgasmo). A idade avançada correlacionou-se a melhores resultados. Não houve impacto claro sobre a depressão.
  • Açafrão: demonstrou melhora global da disfunção sexual, especialmente em motivação, dor e lubrificação, mas não nos domínios de desejo, satisfação ou orgasmo. Não apresentou efeito antidepressivo.
  • Óleo de Rosa damascena: no único estudo disponível, resultou em melhora de desejo, orgasmo e satisfação, além de redução da dor em comparação ao placebo.
     

Conclusão e mensagem prática 

Por fim, os autores concluem que a bupropiona de liberação prolongada se destaca como a intervenção farmacológica mais promissora para o manejo da disfunção sexual induzida por ISRS em mulheres. Entretanto, o número reduzido de estudos e as limitações metodológicas identificadas impõem cautela na interpretação dos resultados. Os autores recomendam a realização de novos ensaios clínicos, mais robustos e especificamente voltados para populações femininas, a fim de permitir conclusões mais sólidas. 

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Psiquiatria