BRAIN 2025: Saúde mental como caminho para o alto desempenho 

A Dra. Aline Arias Wolff, doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro da equipe do Comitê Olímpico Brasileiro desde 2013 (muito citada durante a olimpíadas pela ginasta brasileira Rebeca Andrade, a qual ela acompanha desde os 13 anos de idade) fez uma apresentação inspiradora sobre a importância da saúde mental para o alto desempenho. Ela começou sua palestra durante o Congress on Brain, Behavior and Emotions – BRAIN 2025 dividindo com a plateia sua história – contou-nos que queria cursar psicologia e educação física, o que sempre deixava as pessoas confusas. Tal desejo fundamentava-se na sua curiosidade em saber qual o segredo dos atletas, qual o perfil dos atletas que vencem, quais as estratégias que eles usam e finalmente qual a fórmula para o sucesso.  

Em seguida ela nos apresentou uma imagem gerada pelo chat GPT com as principais associações feitas com o alto desempenho: lá constava coisas populares como no pain no gain e sangue, suor e lágrimas. Essa cultura do desempenho associada a sofrimento e dor é altamente reforçada nas mídias sociais, nas falas dos coachs de alta performance e influenciadores de comportamento, que se utilizam de falas invalidantes, positividade tóxica e disseminação de regras arbitrárias impostas de fora para dentro (você deve acordar às 04h para fazer exercício, por exemplo). O esporte, por sua vez, não é uma bolha e está em contínua interrelação com a sociedade que exalta uma lógica sacrificial ligada ao alto desempenho. No entanto, essa visão de alta performance tem um alto custo.  

Aline apresentou uma pesquisa que conduziu com atletas olímpicos brasileiros, publicada em 2024, que mostrou que 41% dos atletas possuem transtornos alimentares, 23% problemas com o sono, 15% uso abusivo de álcool, 14,6% depressão, 13,5% ansiedade. Nesse ponto, a Aline nos provocou: e se o caminho para o alto desempenho for outro? A partir de uma fala da Rebeca que dizia querer ser vista como uma pessoa e não como uma promessa, uma “galinha dos ovos de ouro”, ela nos lembrou que pessoas não são recursos, são pessoas e que o caminho para o alto desempenho passa pela humanidade, pelas nossas capacidades essencialmente humanas, como nossa sensibilidade e capacidade de sentir, se conectar e criar coisas novas.  

Construindo uma performance de alto nível através da saúde mental

Assim, do mesmo modo que a sustentabilidade na ecologia defende a ideia de que é possível ser rico sem destruir, ela propõe uma alta performance sustentável, na qual se possa fazer o que precisa ser feito, crescer, entregar, mas se manter inteiro no processo. Para isso, precisamos colocar a saúde mental no lugar certo, porque ela não pode rivalizar com o desempenho e não pode ser instrumentalizada em discussões rasas (e dá exemplos de soluções e discussões que mais atrapalham do que ajudam, como colocar um espaço de descompressão sem outras intervenções, oferecer happy hour e bebida alcóolica ou incentivar um escapismo das obrigações sob a alegação de “cuidar da saúde mental”). Para ela, o lugar correto da saúde mental é como uma base para que o indivíduo faça as suas escolhas entre ação e pausa, frustração e realização, mantendo-se inteiro. 

Aline trouxe que foi muito desacreditada ao propor um caminho para o cuidado em saúde mental dos atletas que se opõe a lógica hegemônica sacrificial, mas que ao ver a Rebeca medalhando nas olimpíadas de Tokyo teve certeza que estava no caminho correto. Por fim, ela compartilhou conosco aquilo que acredita ser o caminho para obtenção de resultados sustentáveis:

Confira os principais destaques da cobertura do BRAIN 2025!