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Pediatria26 janeiro 2023

Uso de substâncias entre mulheres com sífilis congênita durante a gestação

Estudo analisou nascimentos para descrever a prevalência do uso de substâncias entre gestantes com sífilis com resultado da gestação com sífilis congênita.

A prevalência de sífilis durante a gestação e a incidência de sífilis congênita continuaram a aumentar nos Estados Unidos, apesar das recomendações universais de triagem pré-natal e da disponibilidade de antibioticoterapia eficaz.

Em um recente estudo publicado no Morbidity and Mortality Weekly Report (MMWR), pesquisadores analisaram dados sobre nascimentos ocorridos no período de 1º de janeiro de 2018 a 31 de dezembro de 2021, em dois estados americanos, Arizona e Geórgia, que participam da Rede de Vigilância de Ameaças Emergentes a Gestantes e Lactentes (Surveillance for Emerging Threats to Pregnant People and Infants Network – SET-NET).

Efeitos do uso de substâncias na gestação entre mulheres com sífilis congênita

Metodologia

Os nascimentos foram analisados para descrever a prevalência do uso de substâncias entre gestantes com sífilis com resultado da gravidez com sífilis congênita (definido como “parto de natimorto ou nascido vivo que atende à definição de caso de vigilância para sífilis congênita provável ou confirmada”).

Além disso, os pesquisadores objetivaram descrever informações demográficas, pré-natais, clínicas e de tratamento selecionadas e história de encarceramento e falta de moradia nos 12 meses anteriores ao relatório ou resultados de testes positivos ou durante a gravidez. Os pesquisadores também avaliaram a frequência com que as gestantes com sífilis usavam substâncias como tabaco, álcool, maconha, opioides ilícitos ou outras substâncias ilícitas sem prescrição médica.

Resultados

Durante o período do estudo, a prevalência do uso de substâncias entre mulheres com sífilis durante a gravidez no Arizona e na Geórgia foi quase duas vezes maior entre aquelas com desfecho de gravidez com sífilis congênita (48,1%) do que entre aquelas sem esse desfecho (24,6%). Os pesquisadores também descreveram que, entre as grávidas que usaram substâncias e deram à luz uma criança com sífilis congênita, 38,2% não receberam nenhum cuidado pré-natal e 53,2% não foram tratadas para sífilis durante a gestação. Por fim, 26,6% eram encarceradas ou sem-teto durante a gravidez.

Conclusão

O relatório publicado pelo Centers of Disease Control and Prevention (CDC) no MMWR destaca o valor da abordagem de vigilância do SET-NET de vincular dados de gestantes a dados de bebês para compreender os fatores relacionados à sífilis congênita. Os pesquisadores enfatizaram que o número crescente de casos de sífilis congênita nos Estados Unidos exige maior exploração dos fatores que contribuem para essa tendência e desenvolvimento de estratégias para abordar oportunidades perdidas de diagnóstico e tratamento antes, durante e após a gravidez.

Embora a triagem e o tratamento possam prevenir a maioria dos casos, existem inúmeras barreiras para a implementação dessas estratégias de prevenção, algumas das quais podem ser amplificadas entre pessoas que usam substâncias. Dessa forma, intervenções personalizadas precisam abordar barreiras e facilitadores para acessar a triagem e o tratamento para sífilis para pessoas com uso atual ou anterior de substâncias, incluindo aquelas com histórico de encarceramento e sem-teto.

Comentários

Um estudo brasileiro publicado em 2021 por Freitas e colaboradores mostrou que houve maior incidência de casos de sífilis gestacional em mulheres autodeclaradas negras ou pardas, com baixa escolaridade, baixo índice socioeconômico e em uso de drogas ilícitas durante a gestação. Os autores atribuíram esses resultados, possivelmente, a uma escassez de informações sobre prevenção e tratamento e à elevada incidência de sexo desprotegido entre mulheres desses grupos.

Saiba mais: Sífilis congênita: o que o médico precisa saber

Mensagem prática

Os dados de ambas as publicações propõem que possam haver falhas dos sistemas de saúde, tanto americano quanto brasileiro, na oferta de um pré-natal apropriado, com diagnóstico e tratamento oportunos de doenças sexualmente transmissíveis e a promoção de estratégias de prevenção que sejam adequadas às diferentes realidades dos dois países. Reforço que a Sociedade Brasileira de Pediatria tem preconizado a consulta de pré-natal com o pediatra a partir do terceiro trimestre de gestação, sendo mais um ponto de suporte para o binômio mãe-bebê.

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Referências bibliográficas

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