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Pediatria24 janeiro 2025

USG à beira-leito (POCUS) em neonatologia e pediatria - parte 2

Na parte 2 do texto sobre POCUS na pediatria falamos sobre a abordagem da USG de abdome inferior e da USG renal e vesical

Em uma matéria anterior (parte 1), sintetizamos uma publicação recente do European Journal of Pediatrics sobre o tema ultrassonografia (USG) à beira-leito (point-of-care ultrasound – POCUS) em neonatologia e pediatria. No presente texto, segue a abordagem da USG de abdome inferior (intestino, cavidade peritoneal e vasos sanguíneos abdominais) e da USG renal e vesical.  

POCUS

Abdome inferior (intestinos, cavidade peritoneal e vasos sanguíneos abdominais) 

É dividido em 4 quadrantes: superior direito, inferior direito, superior esquerdo e inferior esquerdo. A avaliação de cada quadrante deve ser realizada com ultrassonografia 2D e Doppler colorido (CD) em cortes sagitais e axiais (preferencialmente usando varredura). 

  • Transdutor recomendado: idealmente devem ser usados transdutores lineares com a maior frequência possível. Os transdutores convexos proporcionam uma visão melhor ou mais ampliada. De modo geral, frequências mais altas são melhores para avaliação intestinal (recém-nascidos [RN]: 14–20 MHz; crianças: 8–10 MHz), mas depende da idade e da posição do segmento intestinal a ser avaliado; 
  • Posição do paciente: supina. Manobras posicionais, como alteração para decúbito lateral direito ou esquerdo, podem ser úteis; 
  • Preparo do paciente: opcional em emergências. O intestino é mais facilmente avaliado após alimentação e quando há menos ar: 
  • RN: o melhor momento para avaliação é após o nascimento (intestino cheio de líquido e mecônio, menos ar); 
  • Íleo meconial: Enema salino auxilia a visualização do cólon e pode ser usado como tratamento. 
  • Indicações:  
  • Abdome agudo (exemplo: trauma); 
  • Diarreia sanguinolenta; 
  • Doenças inflamatórias intestinais; 
  • Intussuscepção ou volvo; 
  • Lactentes graves ou com suspeita de isquemia intestinal; 
  • Sangramento nas fezes ou retal; 
  • Suspeita de obstrução intestinal com torção e comprometimento do fluxo sanguíneo. 
Condições patológicas frequentes Achados no POCUS 
Atenuação da parede intestinal 
  • Quando a espessura da parede intestinal é ≤1,0 mm 
Ausência de perfusão intestinal 
  • Não há fluxo detectável em um segmento do intestino no Doppler colorido 
Ausência de peristaltismo 
  • Ausência de peristaltismo em um clipe gravado 
Coleções líquidas focais 
  • Loculações líquidas com ecos complexos ou septações dentro das coleções   
Espessamento da parede intestinal 
  • Quando a espessura da parede intestinal é ≥ 2,6 mm   
Gás intraperitoneal livre 
  • Focos lineares ou pontilhados ecogênicos fora do intestino, com múltiplos artefatos de linhas A ou ar sobre a superfície do fígado 
Gás na veia porta 
  • Focos ecogênicos pontilhados ou lineares em movimento dentro dos vasos portais 
Hiperecogenicidade da parede intestinal 
  • Quando há perda da camada muscular hipoecoica (“assinatura da parede intestinal”), com aumento geral da ecogenicidade mural 
Intestino dilatado com conteúdo anecoico 
  • Líquido anecoico no interior do intestino, cujo diâmetro é ≥ altura de 2 corpos vertebrais (visto em radiografias) 
Perfusão aumentada 
  • Padrão normal: pequenas manchas dispersas (3–9 em um box de cor) 
  • Padrões anormais indicando hiperemia (padrões “zebra”, em forma de Y, ou circulares) no Doppler. 
Pneumatose intestinal 
  • Focos ecogênicos pontilhados dentro da parede intestinal, na ausência de artefatos de sombra ou artefatos pontilhados 

Rins e bexiga 

Rins 

  • Transdutor recomendado: convexo. Linear em recém-nascidos e lactentes; 
  • Indicações: oligúria/anúria; 
  • Protocolo: Posicionar o transdutor nos quadrantes superiores direito e esquerdo e no plano sagital, na linha axilar posterior, com o marcador do transdutor orientado em direção ao crânio para avaliação dos rins direito e esquerdo. Devido à localização retroperitoneal dos rins, o transdutor deve ser direcionado posteriormente em comparação à avaliação do fígado e do baço. Em geral, o rim esquerdo está mais elevado e mais posterior que o direito. Deve-se ajustar o ganho para que o cálice renal apareça preto (anecoico). É importante lembrar que o rim é dividido em uma camada cortical externa com uma borda de tecido e colunas de tecido cortical (hiperecogênicas) que descem entre as pirâmides medulares (anecoicas); 
  • Achados no POCUS: No contexto de oligúria/anúria e dor em flanco, a dilatação do trato urinário pode ser observada na presença ou não de obstrução, auxiliando no diagnóstico de diversas condições. 

Bexiga 

  • Transdutor recomendado: convexo. Linear em recém-nascidos e lactentes; 
  • Indicações: oligúria/anúria, trauma, visualização de sonda vesical; 
  • Protocolo: inclina-se o transdutor nos sentidos anterior-posterior e lateral. O ganho no campo distante deve ser corrigido, pois o reforço acústico posterior através da bexiga pode dificultar a visualização de líquido livre atrás dela. Ajusta-se a profundidade para centralizar a bexiga na tela; 
  • Cálculo do volume vesical: devem ser medidos a altura da bexiga no plano longitudinal e o comprimento e a largura no plano transversal. Fórmula muito usada na pediatria: comprimento × largura × altura × 0,53 (fator de correção para o formato da bexiga pediátrica) – muitos aparelhos de USG, no entanto, permitem a estimativa automatizada desse volume; 
  • Achados no POCUS: em pacientes com sonda vesical obstruída ou mal posicionada, a bexiga está distendida com líquido mesmo com o cateter no lugar. Em pacientes vítimas de trauma abdominal contuso, pode ser identificado líquido livre ao redor da bexiga.  

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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Referências bibliográficas

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