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Pediatria28 junho 2025

USG à beira do leito no controle da Doença de Crohn infantil

POCUS mostra-se eficaz e bem aceito no monitoramento da Doença de Crohn pediátrica, influenciando condutas clínicas.
Por Jôbert Neves

A Doença de Crohn (DC) é uma condição inflamatória crônica do trato gastrointestinal, com início cada vez mais frequente na infância. O monitoramento da atividade inflamatória é essencial para prevenir complicações e orientar intervenções terapêuticas. Embora marcadores não invasivos como a calprotectina fecal (CF) seja amplamente utilizada, ela apresenta limitações quanto à sensibilidade, especificidade e capacidade de localizar a inflamação. A ultrassonografia (USG) à beira do leito (POCUS) tem se mostrado promissora como ferramenta complementar, mas sua utilidade clínica em pediatria ainda carecia de evidência robusta. 

Nesse contexto, um estudo prospectivo longitudinal foi realizado na Holanda, com 76 crianças (3–17 anos) diagnosticadas com DC segundo os critérios de Porto. Os participantes realizaram POCUS durante visitas ambulatoriais, além de exames laboratoriais de rotina (CF, PCR, VHS) e avaliação clínica (PCDAI – escore de avaliação de atividade de doença). Dois gastroenterologistas pediátricos independentes avaliaram os casos com e sem os resultados do POCUS para determinar o impacto na conduta clínica. Dentre os resultados encontrados, temos:  

  • População: 
  • 76 pacientes incluídos (mediana de idade: 16 anos; 45% do sexo feminino). 
  • 55% faziam uso de anti-TNF como tratamento de manutenção. 
  • Mediana da duração da doença: 2 anos. 
  • Desempenho do POCUS: 
  • Duração média do exame: 15 minutos. 
  • Qualidade da imagem: boa em 79% dos casos. 
  • Segmentos mais frequentemente alterados: íleo terminal (21% com achado anormal), cólon sigmoide (11%). 
  • Discordância com marcadores convencionais: 
  • Em 57% dos casos, o POCUS indicou maior gravidade da doença do que a CF. 
  • Em 58% dos casos, o POCUS indicou maior gravidade do que o escore de atividade de doença. 
  • Apenas 9% e 3% dos casos apresentaram classificação menos severa pelo POCUS em relação à FC e escore de atividade, respectivamente. 
  • Impacto na conduta clínica: 
  • A conduta foi alterada em 58% dos casos após a inclusão do POCUS. 
  • Em 28% dos casos, houve escalonamento ou início de terapia local. 
  • Em 51% dos casos, o POCUS evitou a solicitação de ultrassonografia convencional. 
  • Aceitabilidade: 
  • 78% das crianças não se importariam em repetir o exame. 
  • Escore de desconforto (DISCO-RC): mediana de 1/24, sendo o tédio o sintoma mais relatado. 

Conclusão 

O POCUS demonstrou ser uma ferramenta altamente útil e bem aceita no monitoramento ambulatorial de crianças com Doença de Crohn. Ele forneceu informações adicionais relevantes em mais da metade dos casos, influenciando diretamente a conduta clínica e permitindo intervenções mais precisas. Além disso, mostrou-se eficaz na predição de recaídas clínicas, mesmo em pacientes com marcadores laboratoriais normais, sugerindo que pode detectar inflamação subclínica não captada por métodos convencionais. 

A alta aceitabilidade entre os pacientes pediátricos e a natureza não invasiva do exame reforçam seu potencial como alternativa ou complemento a exames mais onerosos e desconfortáveis, como a ressonância magnética e a endoscopia. 

Mensagem prática 

Na prática clínica, a incorporação rotineira do POCUS pode otimizar o manejo da Doença de Crohn pediátrica, especialmente em contextos ambulatoriais. Ele permite uma avaliação rápida e em tempo real da atividade inflamatória, facilitando decisões terapêuticas mais ágeis e evitando exames desnecessários. Para centros que ainda não utilizam essa tecnologia, investir na capacitação de profissionais e na padronização de protocolos pode representar um avanço significativo na qualidade do cuidado prestado a crianças com DC. 

Veja mais: Doença de Crohn: como é a ação da bactéria Roseburia intestinalis?

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Referências bibliográficas

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